O Alentejo entrou na minha vida com o amor. Entraram primeiro as pessoas, depois a paisagem, aquele ar lavado e frio das manhãs de Inverno, os aromas da Primavera, os campos de trigo e de esteva a celebrar o Verão. Um céu de um azul irremediavelmente inimitável. E as anedotas, portadoras de uma filosofia muito própria, que o meu marido consubstancia no princípio:
- Dêxós pôsári... (ódexpôx apanhãosámão...)
É o princípio do homem que observa, com calma, distanciamento, tolerância, quiçá com um cinismo afável, uma ironia morna, a realidade à sua volta e, só depois de uma contemplação, de uma observação distanciada e serena, actua com prudência e ponderação.
Nada disto pode ser confundido com falta de energia ou passividade.
O Alentejo convida à contemplação: nos dias quentes de Verão, uma sombra rara, os rumores da terra e dos bichos pequenos remetem-nos para o mistério da vida e da existência. As noites ardentes, estreladas, amplas, reforçam o sentimento de si, a comunhão com esse espaço imenso e mágico, a pequenez humana perante esse universo exponencial.
Poucos, no nosso país, entenderam a especificidade do potencial do Alentejo e do seu povo brando. Com isso, têm vindo a ganhar espanhóis, alemães, holandeses, belgas e outros europeus, que o olham de um modo limpo e despreconceituado, lhe sabem apreciar as qualidades, e são, desse modo, capazes de o entender - e rentabilizar -, nas suas mais diversas vertentes, mesmo em termos de potencial económico.
Considerar o Alentejo como um deserto é demonstrar uma ignorância imensa, porque, mesmo que o fosse, haveria sempre que ter em conta e a capacidade de aprender com o que alguns povos fizeram com os seus (esses, sim) desertos.
Um país pequeno não pode sequer dar-se ao luxo de ter da sua margem sul uma visão tão limitada e tosca. O preconceito é a maior de todas as ignorâncias.
(A seguir: alguns, apenas alguns, alentejanos ilustres e outras coisas que só no Alentejo)
4 comentários:
Partilho consigo a apixão pelo Alentejo mesmo que não me tenha chegado pelo amor. Mas são curiosas as voltas da vida, porque o meu segundo amor chegou-me de terras distantes, mas com uma paixão guardada pelo Alentejo durante 20 anos. Posso usar essa expressão fantástica, do seu marido? Um abraço :)
Não é, de todo, fácil lidar com este princípio filosófico, Cristina; sobretudo para quem tem uma energia fogosa, despachada e, muitas vezes, imprudente. Mas o contraste é divertido, porque ninguém chega a perceber bem como funciona.
Idalina, minha amiga
Que belo texto sobre o Alentejo!
E a trabalheira que deve ter tido para completar esta comovente homenagem à maior região do nosso país!
Quanto às oliveira com candeio, ainda não as viu no meu blogue?
http://entretejodiana.blogs.sapo.pt/19274.html
Bjs
Júlia
Estão lindas!
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