quinta-feira, dezembro 21, 2006

34 anos!
O nosso amor é mais velho e começou exactamente no dia em que Salazar morreu. Consumou-se de forma plena no dia do nosso casamento, em 21 de Dezembro de 1972. Como éramos jovens e irremediavelmente sem dinheiro. Casámos de forma simples e discreta. Hoje comemorámos o nosso casamento onde tudo nos une: em frente ao mar, no Guincho, com uma mantinha e o Sol a aquecer-nos. Encostei-me ao seu peito e dormi uma sesta, tranquila, descansada, em paz com a minha consciência.
Na verdade, o Jorge nunca se entusiasmou muito com a ideia de eu assumir a direcção dos serviços de avaliação do GAVE. Que prejudicava a minha qualidade de vida, dizia ele.
E de que maneira!

(o meu bisavô, Presidente da Junta em Sul, S. Pedro do Sul,
a sua esposa e três filhas. Maria, a professora, é a da esquerda)
Para que servem afinal as provas de aferição?


Nos termos da Lei, as provas de aferição são um instrumento de avaliação do sistema educativo.
Logicamente, os seus resultados deveriam ser devolvidos aos agrupamentos, que sobre eles reflectiriam e poriam em marcha, num processo de reflexão colectiva, os processos de melhoria que entendessem necessários e urgentes.
Parece que, no entender da actual tutela, as coisas não são bem assim: funciona-se numa lógica de devolução dos resultados das provas aos alunos e aos professores.
Isto é, através de uma base de dados gigantesca, presumivelmente bem construída - e isto seria comigo - estaríamos em condições de devolver a cada professor os resultados de cada um dos seus alunos nas provas de aferição.
Tudo isto, numa perpsectiva muito clean, muito séria de que os pais têm o direito de saber os resultados das provas dos seus rebentos. Foi nesta lógica que os nazis limparam o mundo de uns milhões de judeus.
Eu não sei mesmo para que serviriam os outros tipos de avaliação formativa e sumativa. Nesta lógica, as provas de aferição responderiam a todos os objectivos consignados nos vários tipos de avaliação. Feedback ao sistema, aos professores, aos pais e aos alunos. Para quê perder tempo com mais provas, então?
Não fosse aquela noticiazinha de que o Sr. Secretário de Estado havia anunciado que, em 2007 , irão encerrar cerca de 900 escolas de 1.º ciclo de todo o País, no âmbito do processo de reordenamento da rede escolar e eu entraria no jogo com uma capa de eficiência científica e tecnológica.
Ora, tal "reordenamento" - vocábulo muito clean - far-se-á à custa do encerramento de 900 escolas do primeiro ciclo e assentará em dois critérios: terem menos de 20 alunos e uma taxa de sucesso escolar inferior à média nacional ou possuírem menos de 10 alunos.
Ora, esta média nacional será obtida através das provas de aferição, com feedback palavra igualmente muito clean e polissémica aos respectivos professores.
Acontece que, na minha família, exitiram professores de primeiro ciclo durante as duas gerações anteriores à minha, isto é, desde a primeira república, a que aliás, o meu bisavô não aderiu. Mas não deixou de enviar uma das filhas para Viseu, para aprender a arte de ensinar.

Maria, a minha tia-avó, ensinou durante cerca de 50 anos, numa aldeia da Beira Alta, e numa "sala de aula" - chamemos-lhe assim, que com certos referentes a expressão também é muito clean - onde, no Inverno, se acendia a lareira para aquecer corpos e almas. Nessa altura, a minha tia-avó Maria tinha uns quarenta meninos na sala e era certamente uma Vygotskiana de truz, na aplicação do conceito da zona potencial de desenvolvimento, já que os mais velhos a coadjuvavam na alfabetização dos mais novos.
Na geração seguinte, foi a sua filha Aida, que durante mais de quarenta anos, alfabetizou milhares a eito. Daqueles que, mesmo no Inverno, iam descalços para a escola, estão a ver?!?
São histórias de família que nos ficam no código genético, quando mais não seja o moral, bem no modelo de Kohlberg.
E era agora eu que ia legitimar o feedback (ai como eu gosto de anglicismos very light!) de 900 lugares no quadro do primerio ciclo?!?

Além do mais, Maria, a minha tia-avó, tinha um narizinho que não enganava ninguém quanto à sua ascendência judaica pelo lado paterno...
Comigo, NÃO!

Legitimar a dispensa de 900 professores do 1º. Ciclo através das provas de aferição?
Não é para mim. Outros estarão prontos a executar o serviço tão bem ou melhor do que eu e a vender a alma por uma mão cheia de lentilhas.


"Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não. "

Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, dezembro 03, 2006


O Júlio Pires tem razão em perguntar
E eu também quero saber o que é feito do Protocolo assinado entre o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde em 6 de Fevereiro último, cuja alínea f) da
Cláusula Segunda estabelece que ao primeiro outorgante, representado pela Ministra da Educação, cabe a: "f) Designação pelo órgão de gestão dos Agrupamentos/ Escolas de uma equipa, coordenada por um professor responsável pela área da promoção e educação para a saúde, que se articula com as estruturas de saúde escolar e a restante comunidade; ".
Basta de hipocrisia e de laxismo em matéria de educação sexual, que são uma mera manifestação do deixa-andar de há décadas. Na verdade, uma rapariga não deve sair da escolaridade obrigatória sem ter conhecimentos mínimos nesta matéria, superiormente definidos e levados à prática através da colaboração entre os Centros de Saúde e as Direccões Escolares. Educar uma mulher é educar a cidade.

nat
No Sétimo Dia
Folheio a publicação do Comissariado Geral doas Comemorações do V Centenário do nascimento de S. Francisco Xavier, que me foi oferecida pelo meu colega José Baptista, professor de Educação Moral e Religiosa Católica da minha Escola.
Amanhã vou ter que lha levar para que ele me faça uma dedicatória. Quem sabe se, na volatilidade dos dias, este encontro se esvai com o final do ano lectivo? Espero bem que não.
Já posso dizer que este encontro profissional e humano foi bastante feliz e que já está a dar frutos nos esforços, pensamentos e trabalhos partilhados.
Aprendi imenso sobre S. Francisco Xavier, a nobreza do seu carácter, a sua Santidade, a sua incansável dedicação.
Releio com delícia os textos do Padre-poeta Tolentino de Mendonça e registo que na figura do missionário Jesuíta se pronuncia " uma enfatização de valores com uma aguda e vigorosa actualidade: (...) a importância da abertura ao outro e das interdependências; a unidade dinâmica que se constrói, partindo da riquíssima diversidade do mundo e dos homens." Em vez de "homens" deveria ser "seres humanos", mas pronto, com o tempo a própria linguagem mostrará os seus sinais. Porque hoje é domingo, dia em que, à semelhança de Deus, dedicamos ao repouso, à contemplação e à reflexão sobre os trabalhos da semana.

sábado, dezembro 02, 2006


Memória

Um retrato, com fundo de paisagem beirã, áspero o granito, ar limpo e leve, menina-pequenina-com bibe branco de folhos e história-de-branca-de-neve-e-sete-anões bordada pela tia Maria Celeste, ladeada pelos avós maternos, fortalezas-guardiãs, anjos da guarda eternos.