sábado, maio 12, 2007

Preparando as provas de aferição
Eu tenho que estudar o manual do aplicador com, pelo menos, uma semana de antecedência não vá eu ter uma sobrecarga cognitiva e os meus neurónios entrarem em curto circuito.
É uma boa tarefa para as madrugadas de Sexta para Sábado de mães de adolescentes, à espera que as crias voltem da discoteca. Sempre dá para fazer uma chamadita a altas horas para perguntar:
- Está tudo bem??
- DIZ, MÃE NÃO TE OUÇO!
-TU-DO-BEM?
-TUDÓKEI!
-FIXE!
(é de manter um diálogo com os adolescentes, nem que seja para lhes dizer ó filha, mete-te dentro do armário, fecha-te lá dentro e engole a chave...)
Depois do telefonema, é preciso voltar à preparação das provas de aferição.
Primeiro problema:
Na Escola só me deram um exemplar.
Ora, como eu tenho de cortar a informação às fatias para as colar em cartolinas, como eu vejo fazer aos senhores da televisão, a coisa não dá: preciso de mais outro exemplar para as páginas pares...
(será que o tempo que eu tenho disponível vai dar para fazer face a este contratempo? Estou a ficar preocupada)
A minha sorte é que já comprei a cartolina azul escura, que é uma cor que dá bem com o logotipo do agrupamento, e já a cortei em secções de 148 mm por 182 mm, que é coisa fácil de fazer às 4 da madrugada, desde que haja café quente, mas também pode ser chocolate, desde que seja magro. (aproveito e ponho as máquinas de roupa a trabalhar, que eu tenho tarifa bi-horária.)
Bom, então o que é que eu faço, não me posso atrasar: ou só colo as páginas ímpares nas cartolinas e espero por segunda-feira para ver se arrebanho à socapa outra cópia do manual do aplicador, ou digitalizo as páginas pares, mas isso obriga-me a gastar papel e tinta do meu bolso.
Esta é uma decisão difícil estou com problemas financeiros o que dirão os meus primos casal Ângela-Pedro que estão ambos encalhados há anos no sétimo escalão já lhes acabaram com a Filosofia no 12º. ano agora acabaram também com os exames ainda lhes acabam com a disciplina têm a casa para pagar e o menino para criar ora mas pelo menos ainda têm emprego o que interessa é choques para ver se ficamos todos mais espertos.
(isto atrás não tem vírgulas e vocês estão a perder o fôlego ? De que se queixam, há pessoas a sofrer de enfisema, o que é muito pior. Quer dizer, o Saramago pode escrever sem vírgulas lá porque é Prémio Nobel e vocês pagam para ler, eu estou a escrever à borla e já estão a refilar. Tá bem, primeiro lêem assim e depois eu venho cá pôr as vírgulas daqui a quinze dias).
Opto então por esperar por segunda-feira para as páginas pares. Aproveito e colo numa das faces da cartolina o logotipo da Escola. Não. Decido por aproveitar a cartolina dos dois lados, a Fátima Lopes não faz assim, mas a RTP é mais rica que eu e o ME juntos.
Pensando bem, se apareço lá com as cartolinas coladas de um lado e do outro, alguém vai achar mal e eu corro o risco de não passar a professora titular.
(não me posso esquecer das datas das reuniões, na primeira para o meu estimado presidente me lembrar que eu tenho de levar relógio, tenho que combinar com os dois colegas com quem estou quem é que leva relógio e quando).
Pois, e na segunda reunião tenho de "proceder a uma recapitulação da logística", vou pensar em perguntas para fazer ao Grande Lino para ver se ele sabe da logística, que eu não sei onde pus a minha.
(tenho que estar na Escola trinta minutos antes da sessão e não me posso esquecer de verificar se o Secretariado me dá aqueles materiais todos da página 7, que eu não sou menos que os outros, isso é que era bom).
Atenção, a partir da página 8 e até à 27 do Manual do Aplicador, tenho de seguir todos os procedimentos descritos, o aviso está a bold, não há que me distrair, não me posso baralhar nos ciclos, nem esquecer-me que tenho de distribuir a prova com a capa voltada para baixo,
(o cabeçalho também será para baixo, como se eles fossem analfabetos?) quem é que ia pensar neste truque, se ele não viesse no manual do aplicador?
(espero que a garganta e os nervos não me traiam naquela parte da voz alta e pausada).
Tenho que pensar bem nos sapatos que levo, por causa da recomendação das deslocações frequentes na sala. Eu tenho uma grande dúvida: não sei se posso levar um salto que faça barulho para eles saberem que eu estou em movimento e nada escapa ao meu olho de lince, ou até posso treinar aqueles passos que vi aos militares gregos lá em Atenas e aos magiares da República Checa no palácio do Presidente, quando a verba ainda dava para a rubrica da Cultura, ou se, pelo contrário, tenho de levar umas sabrinas da feira da Carcavelos para não incomodar a concentração das crianças.
(creio que esta questão é susceptível de gerar grande polémica...)
Também tenho que me certificar do número de janelas de cada sala, para calcular o tempo para verificar se todas estão fechadas, depois há a Ester que está com tendinite no braço, ela chama-lhe um nome muito complicado para dizer que tem dor de cotovelo, que é o que ela tem, como é que ela o vai levantar para fechar as janelas, ainda bem que não estou com ela, que ainda lhe pode acontecer ficar com o movimento encravado a meio, sem conseguir desfazê-lo, eu apanhava um grande susto, tinha de lhe puxar o braço para baixo e ainda tinha de fechar as janelas sozinha; e tenho de exercitar bem os dedos para separar bem as folhas de rascunho, não vá estarem coladas ou húmidas e eu dar mais de uma a algum menino (página 15 do manual, a bold) , o que pode pôr em risco as condições de igualdade da aplicação.
(a mim parece-me que a escola compra um papel A4 muito grosso, de tal maneira que à segunda-feira a impressora não consegue degluti-lo, encrava sempre, como quem comeu e não gostou e as folhas vêm coladas)
Afivelo um sorriso profissional para dizer "Obrigada (há aqui um problema, pode haver efeito de género: uma coisa é dizer obrigado, outra é dizer obrigada, tenho que combinar com o Grande Lino dizermos os dois ao mesmo tempo, para não haver reclamações, pela vossa colaboração!", como é que vamos fazer na prova de Matemática, em que estou com a Graça,
(meu Deus, estou a esquecer-me qual delas é)
uma de nós vai ter que dizer obrigado, - eu não mudo de género, aviso já!- o que em termos de pragmática comunicacional não é correcto e tenho de calcular a entoação exacta a dar a este ponto de exclamação.
Não sei se vou estar à altura.

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