sábado, março 31, 2007

118 anos depois, a fabulosa torre Eiffel
Levou cerca de 2 anos a construir e era para ser uma estrutura temporária,especialmente concebida para as celebrações do centenário da revolução francesa.Teria sido mesmo deitada abaixo, diz-se, não se desse o caso de, em 1909, se ter descoberto a sua utilidade para a transmissão de sinais de rádio. Em 1910, Gustave Eiffel demonstraria mesmo a sua utilidade científica como observatório metereológico único no mundo. À época da sua construção foi detestada e zurzida por escritores como Verlainde e outros artistas, que a consideravam uma "abominação modernista"; sobreviveu à exposição mundial de que apenas seria um ornamento efémero e permaneceu como edifício mais alto do mundo até 1930.

sexta-feira, março 30, 2007

Evangelium secundum Ioannem, 10 (29-30)

Pater meus quod dedit mihi majus omnibus est et nemo potest rapere de manu Patris mei
ego et Pater unum sumus

segunda-feira, março 26, 2007




Glosando o Salmo 18




O Senhor é a minha rocha,


a minha fortaleza


o meu rochedo,


em quem me refugio;


o meu escudo,


a força da minha salvação,


e o meu abrigo.


Na minha angústia de mãe invoquei o Senhor


e Ele atendeu-me.

domingo, março 25, 2007


G e eu, no gabinete de atendimento

Chegou lá meio apardalado, envergonhado mesmo, por ser recebido guia de marcha para o Gabinete de atendimento.
- Então?! Começou mal o dia?!?
- ... (sorriso amarelo)
- O que é que aconteceu?
- Foi a stôra de...
Invariavelmente as respostas a esta pergunta sobre o que aconteceu, começam assim: "foi a stôra que....", "foi o meu colega que...". Nunca começam em "fui eu que..." É o último reduto da dignidade enxovalhada, esta de ser ter sido corrido da aula, a última tentativa de remeter para as outros a responsabilidade.
Lá cumpri o menu, nº. 1 o que tinha acontecido, nº. 2 como poderia ser evitado, nº. 3 quais os comportamentos adequados, tudo muito bem verbalizadinho, como eu gosto.
A coisa não parecia grave, mas foi-o suficiente para ele receber a guia de marcha, pelo que havia que cumprir o figurino.
Mas por detrás deste jovem aparentemente mal comportado, havia certamente o outro, o que também gosta de agradar e de dar a entender que as coisas não estão assim tão más... o melhor é fazer uma observação mais pessoal:
- O meu irmão é seu aluno...
- Ah, sim?!? Quem é?!? Perscruto-lhe o rosto à procura de semelhanças, mas não me dá tempo:
- Aquele a quem a stôra chama Braga...
- Ah! Mas eu não lhe chamo Braga, digo-lhe assim: "Ó Guimarães, porta-se bem! Estás aqui, estás em Braga, que é ali para os lados do Gabinete de atendimento..."
Mas nunca foi preciso ao Guimarães mais novo ter de apanhar transporte para Braga, graças a Deus!
- Bom, digo eu, vou calar-me e deixar-te fazer as tuas tarefas, para cumprirmos o figurino, OK?
- OK.
E debruça-se sobre as tarefas de Português, enreda-se em Camões e eu com vontade de reler também o episódio do Adamastor. El-rei D. João Seguuuuundo!

Não fossem as senhoras lá fora na converseta, muito entusiasmadas com o regresso de uma delas, após a operação ao pé, teríamos os dois mergulhado em silêncio e ficado na paz mais zen, cada um entregue aos seus afazeres, embora me apetecesse conversar com ele - o chamado "tempo de qualidade", em que um adulto não dizendo, demonstra: Aprecio-te como pessoa e valorizo-te, apraz-me conversar contigo.

Boas férias, G! E para o G mais novo também! Dois lindos pares de olhos azuis, que dão uma grande vontade de voar, neste entrar de noite de quarto crescente estrelado.
(Imagem: Reflexíon, mista sobre composto, Lijohan M. López , 2004)


A indisciplina instalou-se na nossa Escola


Cabe-nos a nós decidir se veio para ficar.

Ao que parece, a proposta de acção conjunta para controlo disciplinar emitida no Conselho Pedagógico não manifesta grande interesse na sua erradicação.

Se é verdade que considerou prioritário incidir sobre o não cumprimento de regras e das medidas disciplinares previstas, o que vem a seguir é uma verbosidade caudalosa que visa exacta e objectivamente o contrário.

Num documento extenso que teve de transitar para o Conselho Pedagógico do 3º. Período, afirma-se que é preciso "envolver os encarregados de educação". Mantemo-nos assim nos princípios sem qualquer tentativa de operacionalização. Envolver quem, como, quando?

A seguir estende-se num conjunto de pressuspostos, todos eles gizados no âmbito da gestão da sala de aula, ignorando ostensivamente uma questão essencial: os problemas mais graves situam-se fora da sala de aula e nas aulas de substituição.

No ponto B da proposta, regista-se a necessidade de "estratégias que podem ajudar a promover o envolvimento do Encarregado de Educação" - esta é a afirmação mais lapalissiana à face da terra. Não teria havido já oportunidade e tempo para fazer o levantamento sistemático de tais estratégias, de marcar uma reunião com os directores de turma, de decidir procedimentos sistemáticos e monitorizar a sua aplicação?

O documento diz ainda que não houve unanimidade no grupo de trabalho sobre a pertinência da tipificação dos comportamentos. Mas porque é que o grupo de trabalho não recolheu junto dos professores informação sobre o que eles consideram comportamentos graves, muito graves ou pouco graves? Tratava-se de uma recolha de dados que podia ter sido feita na modalidade de resposta aberta. Querem fazê-lo? Eu trabalho os dados com software de investigação qualitativa. Isto significa sem sombra de dúvida que, ou o grupo se fechou sobre si e sobre as suas contradições internas, ou há elementos do grupo apostados em que as coisas não evoluam.

O documento argumenta ainda que a classificação dos comportamentos tem de estar sujeita a factores de ponderação e indica factores de contexto. Isto não faz sentido nenhum. A qualificação dos comportamentos tem de ser objectiva e clara. Objectividade e clareza conseguem-se com uma contínua recolha de dados de observação e da respectiva ponderação, se possível através de um amplo consenso. Por exemplo, se o aluno chama "puta" à professora, o grau de gravidade tem de ser atribuído independentemente de quaisquer factores de contexto, quanto mais ainda colocados no plano especulativo, tipo "mas sabes, Idalina, é o que eles estão habituados a ouvir em casa...". A humilhação das mulheres é um factor que atravessa todos os estratos sociais. Em última análise, esta teoria dos factores de contexto introduz um grau de relativismo espistemológico absurdo e totalmente inadequado ao contexto educativo e à relação pedagógica.

Além disso, a situação de indisciplina e o clima de impunidade a que se chegou exige agora medidas mais estruturadas, que têm de ser aplicadas sistematica e consistentemente até que a situação possa recobrar alguma normalidade. Uma aluna do 6º. ano comentava um dia comigo: "Sabe, professora, é que os professores daqui têm medo dos pais". Ora aqui está uma manifestação das percepções dos alunos sobre ao ponto a que chegámos em matéria de disciplina.
Por outro lado, em matéria de indisciplina, o eterno recurso aos argumentos das condições sociais e familiares, mais uma vez utilizado neste documento, leva a situações inomináveis, tais como argumentar que um aluno não pode ser suspenso mais de um dia porque o pai afirma que ele está em risco de suicídio.

Como mãe, eu sei lidar com o risco do suicício como, por exemplo, passar noites inteiras de vigília ao presumível suicidário, sendo que se dividem as noites de vigília pelos recursos humanos da família; mas parece que querem fazer de nós parvos, ou disso fazer figura, quando não lhes ocorreu solicitarem uma declaração médica comprovativa do risco. Ou simplesmente aconselharem a família a confinar o rapaz e a sujeitá-lo a uma observação mais estrita durante o período de aplicação das medidas disciplinares. Querem saber como é que se faz? Eu conto. Dá muito trabalho à família, eu sei, mas é um bom treino para pais manipuladores. Como o menino a que me refiro exibe recursos que podem ser vendidos, ainda há a possibilidade de os vender para solicitar ajuda especializada.

Depois, chamou-me a atenção o completo desajustamento da solução preconizada da advertência e registo na caderneta do comportamento inadequado, claramente indiciadora de que o/ seu/sua subscritor/a não tem qualquer noção da real dimensão da indisciplina na escola.

É que, se os alunos ignoram ostensivamente os avisos de que não podem circular nos Blocos durante as aulas e se os advertimos, eles respondem "Mas quem é você para me estar a dar ordens?", se lhes pedimos a identificação, recusam-se a dá-la, quanto mais pedirmos-lhes a caderneta!

Temos de sair do primeiro andar e descer à Terra. Há directores de turma que recebem as participações e as ignoram liminarmente, como é o caso daquela turma do 7º. ano, que tem inúmeras participações escritas. Reuniram-se com os pais, é certo, mas a acção só pode ter sido mal conduzida, porque dias depois o disparate voltava em força.

E que medidas disciplinares foram tomadas no seguimento da inominável aula e substituição no 9º. B de 16 de Março?

O terceiro período aproxima-se e a situação agrava-se.

Finalmente, o documento revela uma alguma cedência aos que estão efectivavemte preocupados com a questão da indiciplina, enviando-lhes uma mensagem do tipo "AMANHEM-SE", ao afirmar que PODE haver um grupo de reflexão sobre a indisciplina. Muito agradecida. Count me in! Mas sugiro que o grupo inclua: docentes, não docentes e a Associação de Pais - sim, oiçamos mais as Associações de Pais, mas fora do contexto de um Conselho com carácter disciplinar em que a sua tendência é, naturalmente, para defender o aluno em julgamento.

A nossa Escola merece este esforço adicional, pelo muito de bom que ela ainda tem. Porque eu adoro a nossa Escola e não quero - ainda - desistir dela.

No 5º. Domingo da Quaresma


Escrevendo na terra

« Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele » (1 Jo 4, 16).
Jesus, escrevendo com o dedo na terra deu uma grande lição de vida aos fariseus: uma lição de serenidade, de compaixão e de perdão.

Jesus, na sua imensa sabedoria e radicalidade inspira-me e transporta-me, mesmo quando o caminho é de pedras.
Deus Caritas est.



L mirandés pula anternete




Teatro Popular Mirandês, Encenação GEFAC
Ls modernos meios de quemonicaçon son amportantes pa la lhéngua mirandose , tanto cula formaçon de porsorers, cumo an cursos pula anternete, çponibles para quem ne lhes querga pegar, sobretudo cum recurso a ,eios anformáticos. L'anternete pode tener un amportante papel, ponendo las liciones an lhinha.

O Mirandês é uma língua do nordeste de Portugal e ocupa uma região de cerca de quinhentos quilómetros quadrados. Os romances peninsulares formados a partir do latim vulgar, nomeadamente no asturo-leonês, estão na sua origem, pelo que pertence ao grupo das línguas românicas .
A sua formação é contemporânea da formação do galego-português. Sofreu grande influência do português, sobretudo a partir do século XVI, onde chegou a ser inteiramente substituído por este na cidade de Miranda. Foi susbsistindo nas aldeias envolventes, como língua de transmissão oral.
José Leite de Vasconcelos, no fim do séc. XIX, descreveu-o pela primeira vez. O processo de normatização teve início em 1995, com a proposta de Convenção Ortográfica Mirandesa, mais tarde consolidada com a edição da Convenção Ortográfica da Língua Mirandesa (1999).
O mirandeês passou de dialecto a Língua com a publicação da Lei 7/99. Após o último censo populacional, estima-se que seja utilizado por 7 000 pessoas em Portugal, mas há ainda a considerar os emigrantes de fala mirandesa, o que permite estimar um universo entre doze a quinze mil falantes.

sábado, março 24, 2007

(Barragem do Caia, em Campo Maior, onde a Júlia Galego goza a sua merecida aposentação)
Entre Tejo e Odiana

Um blogue de Júlia Galego professora de Geografia aposentada e ex-directora de um Centro de Formação de Associação de Escolas.
Com fotografias lindas de flores, em particular dos pelargónios, que tão bem se dão no Alentejo e de que tenho, aqui em Oeiras, alguns exemplares que de lá vieram e encheram de cor uma das minhas varandas durante todo o Inverno.
E mais as águas serenas do Guadiana e os contrastes de luz e sombra das casas e monumentos. Uma delícia para os olhos. Parabéns, Júlia! Já faz parte das minhas ligações.

(Salto do Coelho, Amadeo Souza Cardoso, 1911)
C., do 9º. A

A nossa relação não começou muito auspiciosa. Embatemos, por assim dizer, numa aula de substituição, em que os alunos fizeram o que puderam em forma de protesto e eu fiz o que pude para lhes demonstrar que uma aula de substituição é como outra qualquer e que o melhor que todos fazemos, para alegria e bem-estar geral, é levarmos as coisas de boa mente. C. foi a primeira e mais acesa resistente e eu tive de lhe demonstrar que os alunos estão estatutariamente obrigados a respeitar as instruções do professor e a tratá-lo com respeito, correcção e lealdade. Para que possam ser igualmente respeitados, evidentemente.
No âmbito das comemorações de Amadeo Souza Cardoso, os alunos reproduziram várias das suas obras, entre as quais, este prodigioso e algo onírico salto de coelho.
Estava eu apreciando o trabalho afixado na parede que leva ao primeiro andar do Bloco Adminsitrativo, passa ela e pergunta:
- Gosta?
- Muito, é mesmo o melhor trabalho! Parabéns!
E dei-lhe dois beijos.
A reaproximação vai-se fazendo, aos poucos, com paciência. Ela já me havia dado um pouco do seu chocolate quando a encontrei, com a outra C. nas Palmeiras e agora dois beijos. Estamos progredindo...
O trabalho continua lá para meu deleite diário.
Bogarim é um apelido estranho. Encontrei esta referência: Bogarim = Uma flor alva que representa o "Amor vivo e puro que existe dentro de uma pessoa" .
Bons auspícios.
As asneiras dos adultos na Escola têm um preço elevado e agora é preciso emendar a mão com determinação.


A excelência no diálogo entre a Escola e as famílias:
PARENTS AND TEACHERS TALKING TOGETHER

É o nome de um programa posto em acção pelo Comité Prichard para a excelência académica. Organiza debates estruturados como ponto de partida para a comunicação entre a Escola e as famílias e outras actividades, visando melhor a dinâmica das relações e aumentar o envolvimento parental.
Cada sessão inclui cerca de 30 participantes. As sessões realizam-se em centros comunitários, tais como escolas, igrejas e outros locais públicos. O comité dá formação a facilitadores locais, instruções aos organizadores e materiais suplementares de apoio às sessões.
O programa está acreditado e conta com um sistema de créditos para a qualificação profissional dos docentes. Permite ainda uma proveitosa recolha de dados que são posteriormente utilizados nos processos de melhoria dos serviços prestados pela Escola.
Os organizadores planificam e executam os eventos, calendarizando-os, escolhendo os facilitadores, seleccionando locais de encontro cómodos e acessíveis, convidando professores e pais a participar e coordenando as sessões.
As suas tarefas incluem ainda a concepção do formato das sessões, a definição de regras, a ajuda na consolidação e registo das ideias, apoia a tomada de decisão sobre os próximos passos e faz o relatório das sessões.
Cada sessão começa com duas perguntas essenciais: “O que queremos para os nossos jovens estudantes?” e “Como vamos consegui-lo?”. O processo de discussão tem uma duração média de quarto horas.
O Comité Prichard considera que este projecto facilita o processo de compreensão mútua das perspectivas de pais e de professores, no sentido de fazer progredir a qualidade da educação, dando voz à perspectiva das famílias.
Uma forma de aprofundamento da democracia e de evitar ao máximo as relações espúrias entre direcções escolares, professores e famílias que exercem sobre outros professores formas de dominação revoltantes. Mas isto exige de todos um elevado civismo.

Testemunhar o grau ZERO da autoridade da Escola
Fui chamada a testemunhar as explicações de um professor relativas à pontuação de um teste de um aluno, em que o primeiro saca da folha de registo de pontuação e diz ao segundo que transmita ao encarregado de educação que uma dada pergunta foi efectivamente cotada, com uma pontuação que me foi dada a testemunhar. A isto chama-se o grau ZERO da autoridade da Escola, como instituição socializadora e merecedora de todo o respeito enquanto tal. Como tal, chegámos também ao grau ZERO da dignidade que lhe assiste.

Lidar com a diferença e fazer dela uma oportunidade

O JM já acabou e exercício que eu mandei fazer, enquanto o M. ainda nem sequer começou. M. sofre de hiperactividade e défice de atenção, ultimamente tem andado menos concentrado, demora muito a começar a executar uma tarefa e a meio, pára de vez em quando, distraído e absorto.
- M!... Hallo! Keep going!
Desce à terra, sorri e continua até ao próximo aviso.
Trata-se de uma turma com 28 alunos, maioritariamente rapazes, em que as hormonas, a vivacidade, a traquinice irrompem ao mais pequeno pretexto.
No outro dia, o A., que agora diz a toda a gente que é hiperactivo, com um ar altamente científico, como se isso lhe desse uma importância acrescida, atirou-se da cadeira para o chão e levantaram-se logo 8 (rapazes, pois...) para o "socorrer", como argumentaram.
- Quem tem obrigação de o socorrer se ele estiver mal sou eu! - Sentenciei com ar de militar com pancreatite aguda (desculpem os militares, especialmente os que pululam na minha família).
Não perderam a pose: voltou tudo aos lugares com ar de quem tinha cumprido uma grande missão de salvamento e merecia a medalha de mérito por grandes serviços à nação.
- E agora vão escrever numa folha à parte o que fizeram e reflectir sobre o prejuízo que causaram à aprendizagem.
Chegou-me a primeira versão do "salvamento". Com ar sério - ai meu Deus, quanto me custa o ar sério, quando me apetece rir à gargalhada... - pedi licença, rasguei o "depoimento" e sentenciei: "Quero um depoimento honesto e crítico, que explique as verdadeiras razões por que se levantaram, sem motivo!" (A frase saiu-me um pouco paradoxal, coisas do improviso...)
Mais dois ou três depoimentos rasgados, regresso cabisbaixo à carteira, surge então a segunda versão do depoimento, que serviu de modelo às outras (o que é que tu escreveste? segredava-se).
Assim, com esta eloquência:
"Eu fui ver onde o Afonso estava porque ele caiu e juntou-se muita gente e como brincadeira fui-me lá meter. Por causa de mim e dos meus colegas perdemos tempo de aula, enquanto podia estar a fazer o que a professora mandou. Peço desculpa e não vai voltar a acontecer. Vou fazer os meus possíveis para que da próxima vez não me levante do lugar e não prejudique a aula." Assinado J.G. 16/3/2007.
Isto é pensamento crítico puro e duro. Um pouco sobre pressão, admito, com uma enorme vontade de rir à mistura, por ver o ar dramático do A. estatelado no chão com as pernas no ar. Uma promessa para o teatro cómico.

( imagem colhida em: http://www.bakercountyhealth.org/services/tobacco/thankyou-no-smoking.jpg)
C. e eu

Vimo-nos ontem na escola e cumprimentámo-nos com os beijinhos a que nos habituámos. Uma adolescência como a maioria delas, porque crescer custa e nunca é aquilo que havíamos imaginado, quem sabe um pouco de abandono parental, um pouco de falta de regras e de auto-estima. No primeiro período via-a a puxar de uns cigarritos com mais uns quantos no parque a sul da Escola.

- Já não te via há dias, tenho pensado em ti, que será feito da C.?... - disse eu.

- É verdade stora, como está? Tudo bem?!?

Estendi-lhe dois dedos da mão direita e disse:

- Procura manter-te nos dois por dia, tá?

- Não se preocupe, s'tora... - respondeu sorrindo com um ar entre o divertido e o comiserativo.

Ela sabe que eu me preocupo muito pelo facto de os jovens fumarem e que tenho boas razões para isso, como já lhe expliquei.

Parece mais calma e já tem um namorico: o G. que outro dia se encontrou comigo no Gabinete de atendimento.

Já lá vai o tempo da desconfiança por alguém lhe ter dito que eu "havia feito queixa dela". Efectivamente, a minha primeira reacção foi escrever à Direcção da Escola a contar o que vira, para que fossem tomadas providências. E alguém resolveu contar-lhe, ao "melhor estilo" da relação pedagógica. De algum modo, "recuperei-a" e faz-me bem pensar que tive sobre ela uma influência positiva.

C. tem um fundo bom e doce e o que mais precisa é de uma relação com um adulto serena e confiante. Mas em que os papéis não se confundam, embora ela goste de me mostrar que sabe o que faz.

sexta-feira, março 23, 2007

Uma Páscoa feliz para todos!
A última aula de hoje foi com o 6º. F. Noventa minutos de trabalho intenso e muito controlado, acompanhado dos últimos registos de avaliação para os alunos cuja notação ainda me causava dúvidas.
Neste aspecto da avaliação dos alunos, a experiência não melhora em matéria de dúvidas angustiantes sobre o que decidir sobre cada um daquelas crianças que Deus colocou no meu caminho.
Porque nunca se sabe como um simples nível se pode repercutir nas suas vidas, no seu bem-estar, na sua auto-estima. E fico sempre a pensar, a pensar, num simples nível e nos efeitos dramáticos que ele pode causar.
Porque é da condição docente pensar que sempre se poderia ter feito melhor, ter estado mais atenta a todos os sinais, mais disponível naquele dia em que algo correu mal e se chega à aula com menos vontade de ser dar.
O que eu gostava mesmo era de dar um cinco a todos, por estarmos vivos, porque eles são, ou saudáveis, ou inteligentes, ou esforçados, ou bonitos, ou simplesmente sedentos de muita atenção, como o Jota.
Havia de ser possível...

quinta-feira, março 22, 2007


Um novo esquema de horários...
Impagável esta BD ilustrativa das proposta de autonomia financeira e de aumento de recursos das Escolas portuguesas. Pronto: temos de fazer formação em empreendorismo, para sabermos tirar devido proveito das T-shirts, dos calções e das canetas...

Um Conselho Pedagógico que enterra a cabeça na areia
(O pior cego é o que não quer ver...)


Um Conselho Pedagógico recomendou aos departamentos que os professores que leccionam aulas de substituição devem cumprir o plano de aula previamente deixado pelo professor em falta ou desenvolver as áreas temáticas documentadas com dossiês específicos.
Nesta formulação, gostaria de poder assinalar a natureza burocrática da recomendação; ora, não há nada mais errado do que resolver uma questão que é pedagógica e disciplinar de forma burocrática, uma vez que esta fórmula implica a ignorância de dois aspectos essenciais:
1º. A relação pedagógica é, como todas as relações humanas, contingencial. Mais do que isso, é uma relação que comporta um grande grau de incerteza. As soluções para cada situação de aula têm de ser encontradas no contexto em que essa aula se dá e nas relações que é possível estabelecer.
2º. A Escola sofre de um grande problema de indisciplina, particularmente a nível do 3º. Ciclo, mas que se estende já ao 2º. Ciclo através de manifestações esporádicas e (ainda) perfeitamente controláveis que, todavia, é preciso encarar com firmeza e determinação.
Desta circunstância decorre frequentemente que os alunos não aceitam as propostas dos professores, manifestando-se de forma agressiva e ostensiva o seu repúdio pelas aulas de substituição.
Não me cabe a mim avaliar as responsabilidades dos docentes nesta circunstância, alguns dos quais a reconhecem em atitudes erradas assumidas no ano transacto e que se repercutem este ano de forma dramática no comportamento dos alunos, particularmente dos mais velhos. E todos nós sabemos como os mais novos gostam de imitar o comportamento dos mais velhos.
É sobre esse problema de disciplina que o Conselho Pedagógico parece querer passar uma esponja quando assume que tudo corre dentro da normalidade e, nessa circunstância, ou se dá a aula programada ou se dão as matérias planificadas para as substituições.
Mas não é isto que se passa: os alunos resistem a entrar na sala e só entram coagidos pela ameaça de falta, eventualmente injustificada. A seguir, recusam-se liminarmente a sentar-se a a adoptar as atitudes e comportamentos necessários à aprendizagem: atenção, concentração, disponibilidade para aprender ou para simplesmente ouvir a proposta que a professora lhes traz.
A aula de substituição de 6ª. feira 16 com o 9º. B foi indescritível na resistência ruidosa, raivosa dos alunos, num comportamento revelador do maior desrespeito por regras essenciais e de manifestção clara das suas percepções de impunidade, o que levou a que, à professora de substituição, depois de chamar a funcionária, não restasse outra alternativa que não fosse abandonar a sala. Medidas disciplinares? Até hoje, nada, sendo que deveriam ter sido tomadas 1 dia depois das ocorrências.
No meu caso, resistiria até ao fim para impor a autoridade que me assiste (afinal quem é que manda na Escola? e parafraseio o título de uma crónica recente do meu estimado Professor, Daniel Sampaio), o que me custaria uma perigosa subida de tensão mas que, em qualquer dos casos, não passaria, nem por cumprir o plano de aula, nem por desenvolver as tais áreas temáticas, mas tão-somente por tentar restabelecer um comportamento cívico adequado à relação pedagógica, como saber fazer silêncio e demonstrar contenção física. É isto que o Conselho Pedagógico se recusa a enfrentar com coerência.
E não é por acaso: no Conselho Pedagógico estão os professores que têm de enfrentar a indisciplina dos alunos com menos frequência.

Eu gostava de ver os subscritores da recomendação a entrar numa turma com o comportamento idêntico ao que o 9º. B exibiu no passado dia 16 e a executarem o plano de aula ou a aplicarem uma daquelas fichas tão bem feitas (as da Saúde são as minhas preferidas...) a alunos que urram circulando pela sala. Só para todos vermos e aprendermos como é fazem.

domingo, março 18, 2007


Núria

Tem um ar e um porte de princesa africana, dez anos e um metro e trinta graciosos e dignos.

Agrarro-lhe a trança grossa e digo: "Quero esta trança!". Olha-me com ar surpreso, altivo e sereno: Núria.

sábado, março 17, 2007

Indisciplina e violência na Escola
( Ilustração de Paradise Lost de John Milton)

Muitos dos que teorizam sobre as diferenças conceptuais entre a disciplina e a violência na Escola procuram refugiar-se o mais longe possível dela, ou nos serviços centrais e regionais do Ministério da Educação, ou nos gabinetes das direcções escolares que se situam sempre no andar mais afastado do pátio e das salas de aula. Este distanciamento não é casual.
Se em termos conceptuais há efectivamente diferenças entre a indisciplina e a violência, no terreno as diferenças acabam por esbater-se e há situações em que simplesmente se cruzam e misturam. Senão, vejamos um caso concreto que se passou na Escola esta semana. Tratava-se de uma aula de substituição do nono ano, em que os alunos se passeavam pela sala urrando, atiravam objectos uns aos outros, gritavam obscenidades, ignorando ostensivamente os esforços da professora de substituição para cumprir com os objectivos definidos pelo Conselho Pedagógico, consubstanciados em três áreas de intervenção minuciosamente planificadas – a educação cívica, a educação ambiental e a educação para a saúde.
Esta situação é recorrente na Escola. O estrépito é de tal ordem que, numa Escola inteiramente plana, a atroada chega a passar de um pavilhão para os outros. Neste caso concreto, atravessou o pátio interior para as salas da ala oposta, para espanto e gáudio dos mais novos que observavam, deslumbrados, o despautério. Se fazemos a participação prevista na Lei 30/2002, a que deveriam seguir-se os procedimentos igualmente previstos, fica tudo exactamente na mesma, para voltar a idênticas situações poucos dias depois, porque os tais procedimentos nunca se seguem. Por mais que um professor seja auto-confiante é sempre uma derrota, um vexame, não conseguir lidar com a indisciplina numa turma, porque sabemos que os outros vão estar sempre dispostos a mudar as fronteiras do certo e do errado para nos colocar do lado errado, provando assim que são mais competentes que nós. Como a IR dizia outro dia, a culpa é da A. que não sabe ter os alunos na ordem; se os meter na ordem, será excessiva. Em qualquer circunstância, chegámos a um ponto em que o equilíbrio nunca está do lado do professor, porque está sempre na tranquilidade dos gabinetes.
No caso de certas Direcções escolares, há evidências claras de que se estabelece com os pais dos alunos prevaricadores que, a toda a hora, e manipulando a complexidade do sistema democrático, fustigam a liberdade alheia, de colegas, professores e funcionaários, uma aliança mais ou menos implícita para manter os professores dominados pelo terror. Reportar um caso de indisciplina é algo sempre vexatório para um professor; na Escola predomina ainda a teoria da “culpa” do professor, associada às utopias pedagógicas dos anos sessenta. O vexame e a culpa acabam por ser uma forma de exercício da dominação pelo terror, numa associação ínvia com os pais, em que é sempre possível atribuir uma quota-parte de culpa ao professor, ou porque foi demasiado brando, ou porque foi demasiadamente rígido, porque é sempre possível mudar as fronteiras consoante o que convém para o efeito. Como a maioria dos professores são de facto professoras, numa cultura de raiz judaico-cristã, o vexame e a culpa acabam por ser uma forma de perpetuar a dominação e o silêncio. Acresce que certos comportamentos abusivos dos nossos jovens configuram e repercutem uma cultura abusiva em relação à figura da mulher.

terça-feira, março 13, 2007

Os homens e o poder
Eu tenho um quê de militar. É de família. Obedeço e acato com bonomia. O meu director hoje indeferiu-me um pedido da dispensa de serviço para ir participar numa Conferência de telemática educativa à Universidade do Minho. Invocou legislação recente, que se esqueceu de invocar quando autorizou outros professores a ausentarem-se por muito mais tempo. A independência tem os seus custos, matutei. O todo-poderoso sentiu-se ufano. Fui tratar de uns assuntos com ele e ele quis "justificar-se". Como se eu não soubesse que se se trata de uma simples manobra de exercício de um poderzinho barato. Ufano de satisfação e de mesquinhez. Sim, já sei, temos fama de ser um povo muito invejoso - e o proveito também.

Um encontro feliz
Jota e eu temos os nossos dias, uns melhores que outros. O pior foi o dia em que lhe apliquei pomada para as frieiras no início da aula e ele ficou com as mãos no ar, porque lhe ardiam. "Jota, faz os trabalhos!": "Não posso escrever, s'tora. A pomada que a s'tora me pôs faz-me arder as mãos". E assim permaneceu, mãos no ar, como se eu lhe estivesse a apontar uma pistola ao peito. A situação era caricata, assim vista a distância, mas na altura irritou-me mesmo: guardei a pomada que lhe tinha comprado na mala e nunca mais a tirei de lá. Acabou-se o FRIAX, que ainda por cima me custou uns oito euros. "Eu não lhe pedi nada, a professora é que ma quis comprar!". Ora toma. Hoje dediquei o segundo tempo à preparação do teste. Apontei no quadro todos os exercícios que queria que eles escrevessem de novo, mas o Jota está tão desorganizado, que precisa de ajuda para as tarefas mais elementares, pelo que tive de o chamar para a minha mesa. Voltámos a pôr o caderno todo direitinho, pusémos-lhe folhas novas e monitorizei-lhe todo o processo de revisão. O Jota impava nas suas sete quintas, com os mimos da professora todos virados para ele. Veio logo o outro Jota, o do brinquinho, a querer puxar para si alguns dos meus cuidados e atenções. Pronto, está bem, um pouco de atenção repartida para o Jota do brinquinho. Quando o fim da aula chegou, estavam todos muito cansados de escrevermos tanto. Jota, fiteiro como sempre, exclamou: "S'tora, hoje trabalhei tanto que me dói a mão!" (É uma vítima, o pobrezinho!). "Olha, desaparafusa-a e mete-a no bolso para ela descansar." Há momentos de êxito. E de terna vingança.

segunda-feira, março 12, 2007

Escola, disciplina e inclusão social
A disciplina e a violência na Escola são, a julgar pelos estudos mais recentes, independentes das variáveis demográficas de género, meio social e etnia , embora em Portugal e designadamente nas zonas urbanas, sejam vulgarmente associadas a populações de meios mais desfavorecidos.
Uma das consequências mais gravosas da indisciplina prende-se com o tempo necessário à sua gestão na sala de aula, o que afecta seu clima, reduz o tempo dedicado ao ensino e à aprendizagem e tem implicações na insatisfação profissional, na saúde física e psíquica e no absentismo dos docentes.
A investigação sobre as estratégias de intervenção habitualmente utilizadas e sobre programas de intervenção eficazes é escassa, mas estudos transnacionais efectuados em países europeus relevam aspectos comuns a todos eles. A principal conclusão é de que a influência parental e da comunidade são as variáveis com maior impacto no comportamento dos jovens na Escola.
A investigação europeia identifica três factores de risco: os aspectos de organização e contexto escolares, designadamente a composição demográfica, a dimensão da escola e das turmas, a coesão dos profissionais (docentes e não docentes) as características sociodemográficas do pessoal e dos alunos e a sua saúde psicológica.
Os problemas mais comuns prendem-se, em relação aos pais e encarregados de educação, com um conhecimento superficial das questões relativas à disciplina e com a assunção de um papel externo e secundário, dificultando assim a conjugação de estratégias de actuação.
Por parte da Escola, a falta de clareza dos instrumentos legais e dos respectivos procedimentos perpetua formas de intervenção altamente inconsistentes. Por outro lado, a falta de formação dos docentes e outros profissionais impede uma actuação preventiva e respostas eficazes.
Um outro aspecto significativo prende-se com o facto de os casos mais graves de indisciplina ocorrerem fora do contexto da sala de aula, durante os intervalos, quando os instrumentos legais, designadamente o DL 30/2002 se referem à disciplina no contexto exclusivo da sala de aula.
Na perspectiva dos alunos, a disciplina baseia-se fundamentalmente em medidas punitivas, mas pouco consistentes já que, do seu ponto de vista, a forma de encarar a disciplina varia muito de professor para professor, o que os confunde.
Também na perspectiva dos alunos, a redução de alunos por turma e uma maior individualização contribuiriam para reduzir a indisciplina e os comportamentos inadequados.
Actualmente, a falta de coerência dos programas de intervenção e a falta de confiança dos professores, principalmente suscitada por uma forma errática de lidar com o problema, sobretudo em termos legais, começa já a ter efeitos muito negativos na Europa, particularmente no Reino Unido, onde a violência atinge fundamentalmente os directores escolares, sendo já notória a falta de candidatos ao exercício da função; as organizações de professores instruem os seus associados a não intervirem em situações de confronto de alunos no pátio, dada a recorrente invocação feita pelos alunos infractores ou respectivas famílias de que aqueles são vítimas dos professores, de cada vez que estes procuram actuar, o que configura um elevado nível de risco para os alunos mais frágeis social e fisicamente, vítimas preferenciais de colegas agressores.
Por outro lado, um dos principais factores de abandono da profissão docente prende-se com questões de disciplina dos alunos, razão pela qual os governos dos países europeus em que já se nota um desinteresse pela profissão docente começaram a tomar consciência da gravidade do problema e a adoptar programas de saneamento e remediação, alguns dos quais estão neste momento a ser avaliados.
O estudo da indisciplina no meio escolar é uma tarefa que exige uma abordagem complexa e multivariada que equacione os aspectos relacionados com todos os intervenientes – alunos, pais, pessoal educativo, docente e não docente – mas a investigação mais recente demonstra que os professores consideram crucial o apoio e a participação dos pais, no sentido de conseguirmos escolas pacíficas em que todos se sintam confortáveis com as suas tarefas, estatuto e papel, não sendo de ignorar a perspectiva dos alunos de que turmas mais pequenas facilitam um acompanhamento mais individualizado e uma melhor socialização.
As tarefas exigidas à nossa Escola são enormes, envolvendo a reformulação de programas, de instrumentos e procedimentos de avaliação, de alargamento da escolaridade, aumento da qualificação, em múltiplos planos de intervenção que colocam a Escola em risco de implosão se se lhe negar alguma tranquilidade. Na verdade, a Escola é, nos dias de hoje um espaço privilegiado de promoção da coesão social, de combate à exclusão e de progresso das sociedades e dos indivíduos, que nela tendem a permanecer cada vez mais tempo.



sábado, março 10, 2007

"Intramurros"

hurros,
ofensas e palavrões,
tudo em percentagens
baixas,
insignificantes
Fraquezas nossas,
a históra
não nos reza
Viva

















(Fui buscar esta imagem ao blog Esboço a vários traços)
Poesia e baterias


É bom recarregar baterias de uma semana mais trabalhosa ou difícil, no próprio local que as consumiu. Na verdade, logo a seguir às aulas de sexta-feira, o dia estava de feição a rumar à praia, o que fizemos até às seis horas da tarde. Depois, fomos à Escola, participar na sessão enquadrada no plano nacional de leitura. A Irene Cardona convidou-me para dizer um texto e lá fui eu. Em casa, sobretudo quando os meus olhos acusam um esforço maior, gosto que leiam para mim e, tanto o Jorge com a Inês, o fazem de quando em vez. Assim, ouvir ler está ligado aos meus momentos mais íntimos e felizes.

Estava ali a ouvir a voz dos outros, da Ester, da Fátima, dos alunos, dos pais e, lentamente o meu corpo e o meu espírito começaram a sintonizar com o lado mais zen do Universo, em que a minha alma errante e inquieta descansa, por momentos.

A voz humana restabelece, revigora, tem efeitos terapêuticos, por assim dizer: é bom ouvir ler.

Bem hajas pelo convite, Irene.

Gostei de vos ouvir, Ester, Fátima, Núria (a minha princesa do 5º. C) e aos meninos do primeiro ciclo... encantadores. Um deles estava ao meu lado, vinha com o seu livrinho, que leu avidamente durante toda a sessão. Do primeiro ano - uma delícia de se ver.

Agora, que ler poesia é mais difícil que defender teses de doutoramento, lá isso é! Ai que nervos!...

Technorati Profile

Jota(Nome de jogador tão talentoso como incapaz de gerir a sua vida e de tirar partido do seu enorme talento. Nem de propósito. )

Eu podia começar este discurso com a prosa poética que percorre os textos dos professores que, tal como eu, se formaram no discurso pedagógico optimista, marcado pelas concepções dos anos sessenta.
Na verdade, o que eu sinto e penso é que tais concepções estão desajustadas e aquele discurso tem hoje a marca da mais profunda hipocrisia, daquela que, com sorrisos e gestos estudados, afirma que toda a esperança do mundo está nas crianças. O mundo, esse, particularmente a partir do 11 de Setembro, atira-nos indiferente com uma realidade em que as crianças nascem num mundo disposto a perpetuar as formas mais sanguinárias e cruéis da manifestação da nossa indiferença, mascarada de metáforas belas. Como vão ganhar forças, energias, aprender a agir de forma diferente, se todos os modelos perpetuam a espiral hipócrita da indiferença mascarada de metáfora belas: e o melhor do mundo são as crianças... (o mais dramático é que são mesmo!!!)
É verdade que me apaixonei pelo brilho dos seus olhos, pelo seu ar de menino reguila, para o qual eu desejaria que todos os encontros fossem de boas aprendizagens e socializações, que o valorizem e o façam crescer a acreditar no que é justo e certo, a acreditar no esforço pessoal, como forma de superar as dificuldades da vida.
"Quando eu crescer vou assaltar carros... e a s'tora!", diz sorrindo maroto. "Ai que susto!", reajo com um sorriso de plástico. E o meu sorriso plastifica quando tenho a percepção de que, à semelhança do outro que tive em Paço de Arcos e que era um menino tão inteligente, eu visitei, pela última vez, na prisão. Este tem todos os indicadores de que vai acabar de forma idêntica.
Que será feito do Érre, o menino que dizia que preto só para construção civil ou para a prisão? Que doze anos já tão falhos de esperança e de expectativas positivas...
Na verdade, estou mais do que apreensiva porque os indicadores de que parece não haver experiências positivas que literalmente roubem este menino ao lado mau da vida são mais que muitos. Em educação, é preciso ter muita paciência e não desistir, mas a sensação é a de que a vida lá fora o atira inexoravelmente para a exclusão e que todas as vivências e experiências de cidadania, de carinho, de afecto, do caring que todos os dias faço questão de transmitir-lhe, na Escola não chegam para contrariar a espiral de miséria queafecta já todos os seus comportamentos.
No outro dia não pude mais. Subi à gestão e pedi ajuda: a resposta não podia ser melhor - fomos os dois, o Jota e eu, à papelaria da Escola com uma requisição para material novo. Depois, subimos à Biblioteca e arrumámos o novo dossiê (lindo! Que inveja!), com separadores, reforçadores de furos. Mas os lápis e as canetas desaparaceram sem um contentor mais pequeno que os organize; nesse aspecto, a ajuda da Inês Jorge foi preciosa: pegámos numa bolsa em muito bom estado, lavámo-la muito bem e passeia-a ao Jota através da DT.
Mas a (boa e nova) borracha já está em fanicos e de bolsa e respectivos conteúdos, nem novas, nem mandados.
É verdade que nos construímos com aquilo que vamos construindo, mas nada parece chegar para segurar aquele menino. Ainda tão novinho e já tão marcado por esse miséria que se nos cola a cada pensamento, a cada decisão a cada gesto.
P.S.: e contudo, cada separador do dossiê já meio esbandeado, tem escrito no verso a respectiva cor em Inglês... Obrigada, meu querido menino, por reacenderes a minha esperança.


Educação, culpas e culpado(a)s



Quando lhe referi que o stress docente é qualquer coisa de visível e palpável na nossa Escola e está a atingir níveis muito elevados, consubstanciados em situações e exemplos concretos, e que muito desse stress deriva dos preocupantes níveis de indisciplina observados, a IR da CI retorquiu:
-Sim mas se a A não consegue disciplinar os alunos a culpa é dela!
Voltamos ao lado perverso das concepções pedagógicas dos anos 60: os alunos têm direito a ser educados em liberdade; se não a respeitam, a culpa é do professor. A verdade é que cada professor está sozinho na sua sala, com todas as suas crenças, com todas as suas dúvidas e a cultura dominante é a de que um professor não pode ter dúvidas, por mais que a realidade se lhe apresente em situações de fio da navalha, sobre as quais não podemos ficar a elaborar mas, a cada momento temos de agir e, de cada vez que agimos há-de haver sempre alguém que, do alto da sua omnisciência aplicada na sala do primeiro andar em que a própria cadeira está de costas viradas para o pátio e para a área mais problemática da Escola, justamente aquela onde estão os alunos que a Escola já “aculturou”, justamente os mais velhos e onde todas as manifestações de que a nossa educação para a cidadania está a falhar. Eu também tenho aquela turma de que a colega saiu a chorar. Às vezes apetece-me “discipliná-los”, isto é, fazê-los trabalhar sob a pressão da caderneta com possível recado para casa em cima da mesa, mas outras vezes não estou com o tipo de energia para tal e “alargo” a malha da disciplina. “Alargar” esta malha, isto é, ceder um pouco ao disparate, ser um pouco mais complacente, é algo que teoricamente estaria errado. Isto é: a disciplina requer consistência de métodos e de procedimentos. Mas o professor não é uma máquina: cada dia é dia de um olhar diferente sobre aqueles alunos, sobre aquela relação pedagógica; o professor traz para a aula todas as suas experiências de vida, como adulto que já foi criança, como pessoa, como pai. E nesta conjuntura se gera e ensina a flexibilidade, característica que exige muito exercício. Mas como se aprende a flexibilidade e o exercício dela quando o professor está constantemente sujeito a esta filosofia da “culpa ser dela”? Esta filosofia remete qualquer professor para uma solidão angustiante e exclui qualquer possibilidade de, sem medos, podermos abertamente partilhar as nossas dúvidas, mas também, porque não, as nossas certezas.
Aliás, este peso da CULPA é, na nossa cultura, algo de profundamente ligado à condição feminina: todas as formas de expressão apontam para a mulher como a principal responsável do que se percepciona como mau, porque é do mau que mais se fala. Mas este é outro departamento cujos reflexos na relação pedagógica constituem um eixo de reflexão independente e particularmente interessante. Mas stressante, também porque se, a cada passo, vemos alunos - mesmo as meninas! - que, com as suas professoras, reproduzem uma relação entre sexos que é penalizadora para a mulher, se a cada passo, temos de demonstrar e modelar outras formas de relação, num país em que a violência doméstica sobre as mulheres atinge metade das famílias (este é só a ponta o icebergue), temos a percepção da dimensão do problema, em termos de relação pedagógica e em termos disciplinares. A quem de nós não ocorreu ainda, quando vemos um(a) aluno(a) fora dos eixos, pensar: "Está a faltar-te a mão do Pai..." Porque quando pensamos na mão do pai, pensamos em firmeza (o que não quer dizer discernimento...) e assumimos a importância dessa firmeza. Assumimos sempre a importância de ambos os papéis parentais como geradores de equilíbrio - são os psiquiatras os primeiros a fazê-lo.

terça-feira, março 06, 2007

Deprimente
É almoçar na Escola. Uma sandocha, um sumo que nem é natural e uma maçã sem sabor nem cheiro das que vêm de Espanha ou que é...
Faz-me falta uma pausa, um corte, um desligamento, um regresso, ainda que breve ao espaço da família, das coisas que são só minhas.
Ó sino da minha aldeia
Dolente na tarde calma
Cada tua badalada
Soa dentro de minh'alma
(...)
cada pancada tua
Vibrante no céu aberto
Sinto mais longe o passado
Sinto a saudade mais perto.
É isso: falta-me ouvir as vozes que só em mim ecoam, as batidas do relógio do bisavô Bernardino, cumprimentar as minhas plantas, espreitar os meus bichos e livros. E aí que recobro todas as energias e vou buscar baterias frescas.

segunda-feira, março 05, 2007

O Grande Cão das Finanças
Persegue-me cada vez que recebo um tostãozinho a mais.
Já Bordalo Pinheiro se queixava do mesmo.
Não haverá por aí uns ricaços com que se entretenham?!?
A classe média estertoriza exangue, abocanhada, estrafegada, vampirizada pelo Grande Cão.




José Afonso, vivo e cheio de frescura, 20 anos depois. Venham mais cinco. Pois!


"Inequivocamente plasmado" , pede ele
O Sr. Deputado socialista Luís Fagundes Duarte pediu ao Governo um sinal bem claro de que as faltas por doença e maternidade não constituirão obstáculo à progressão na carreira docente.
Até que enfim que os senhores deputados socialistas começam a demarcar-se dos desmandos da actual equipa do Ministério da Educação.
Por seu turno, o Sr. Secretário de Estado diz que as faltas por maternidade não prejudicarão nenhum docente. Mas então, não é o que está escrito no documento em discussão com os sindicatos?
Para nos entreterem e calarem, acenam-nos com o "reforço da capacidade de intervenção dos docentes". Como se o reforço dessa capacidade não fosse um elemento crítico de uma sociedade organizada e, pelo contrário, constituísse um grande favor que nos fazem...
P(l)asmados ficamos nós com tanta desfaçatez...

domingo, março 04, 2007

O que é a identidade profissional?

A literatura sobre educação reconhece que as circunstâncias sociais que envolvem o exercício da docência, as características pessoais, as experiências de vida - pessoais e profissionais - estão intimamente relacionadas, se influenciam mutuamente, sendo difícil descortinar o grau de influencia de cada um destes componentes na identidade profissional dos docentes.
Se a identidade fé um factor essencial na percepção dos objectivos, no sentimento de eficácia na motivação, no empenhamento, na satisfação profissional e na eficácia, então torna-se essencial estudar os factores que têm uma influência positiva e negativa, os contextos em que eles ocorrem e as consequências em termos práticos.
Como é que as estruturas sociais e as características pessoais interagem? Que sinergias se estabelecem entre os aspectos cognitivos e emocionais?
A identidade profissional é um conceito estável? Ou é um conceito fragmentário, como muita da literatura invoca?

sábado, março 03, 2007


Sisifo, Tiziano Vecellio, 1548, no Museu do Prado

Trabalhos de Sísifo

Os deuses condenaram Sísifo a empurar uma rocha montanha acima incessantemente, num esforço inútil e desesperado, como castigo da sua ambição e falsidade. Quando chegava ao cimo da montanha, a pedra tornava a rolar com o próprio peso e Sísifo tinha de começar a empurrá-la de novo. Há quem diga que a história de Sísifo é uma metáfora da luta do ser humano para alçançar a sabedoria. De acordo com a versão de Homero, Sísifo acorrentou a Morte e quis testar o amor da esposa, pedindo-lhe que atirasse o seu corpo na praça pública. Arrependido, Sísifo pede a Plutão autorização para voltar à Terra; quando se vê de volta, recusou-se a regressar ao reino dos mortos, mas Mercúrio obrigou-o a regressar.
Se, como Sísifo temos de continuamente empurrar a nossa pedra ao cimo da montanha, para a vermos cair de novo, então o melhor é recomeçarmos, como diz Miguel Torga, "sem angústia e sem, pressa", saboreando a liberdade possível.




Dançando com a A., com o B. e com a C.


Na sexta-feira fomos, a professora de Educação Musical, a professora de Português e eu ao Centro Cultural de Belém com o 6º. F. O serviço educativo havia preparado uma oficina de dança baseada na fábula de Orfeu e Eurídice, com base na qual, Monteverdi compôs a sua favola in musica, criada nos moldes da tragédia clássica, em que descreve o percurso de Orfeu até ao Hades, em busca da sua amada, morta no dia do casamento. Com o poder encantatório da sua lira, Orfeu convence o soberano do reino dos mortos a libertar Eurídice, sob determinadas condições que Orfeu ignora, perdendo-a de novo. Somos então convidados a simular abraços, mais simples e mais estranhos, abraços com o olhar, abraços e separações abruptas, abraços a sombras, a seres queridos e distantes.
No primeiro abraço coube-me a C. Foi um enlace autêntico, meigo, caloroso, de entrega. Depois, calhou-me o B., rígido e trémulo e ainda a A., incapaz de sustentar um olhar, fugidia e hirta.

Na C. nota-se uma naturalidade no contacto físico e da expressão do afecto e da proximidade; com a A. e o B., ao contrário, é como se qualquer proximidade fosse estranha, como se não estivessem habituados a expressar-se ou estranhassem o contacto físico, a proximidade ou a expressão corporal de estados de alma.


Canções da minha vida
Ne me quitte pas
Lentamente, retomo as velhas rotinas, passados que foram estes anos de estudo intenso e de esforço inominável, sobretudo no periodo mais crítico da doença do nosso Mário. Volto às canções da minha vida, que ficarão para sempre associadas às minhas emoções e elos mais fortes. Entre mim e o Jorge "Ne me quitte pas", de Jacques Brel, surge entre as primeiras que me ocorrem.

A experiência demonstra que, em matéria de amor, o que vale e o que permanece é amar incondicionalmente:


Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment


O amor encerra uma enorme capacidade de regeneração:


Il est parait-il
Des terres brulées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur Avril


Ne me quitte pas. Como somos fortes, como o que nos une é poderoso e como o sofrimento partilhado nos ajudou a avaliar essa força! Sim, apesar de toda a minha pose de independência, laisse moi devenir l'ombre de ton chien, pedir-te-ia com o ar hopless de Jaques Brel. Ainda bem que não gostas de computadores.