sexta-feira, julho 13, 2007





Recado



Com os dados que me foram sendo enviados por uma pequena rede de relações, fui recebendo o eco do impacto que o fecho de escolas do primeiro ciclo foi tendo nos meninos e nas suas famílias, de que resultaram vários textos publicados aqui e na imprensa., até porque porque o desaparecimento de tantas escolas acabou por ter impactos profundos nas minhas opções de carreira. Gostaria de recolher novos dados sobre esta matéria.

E porque não resisto...Miguel Ângelo,
o meu primo mais novo, na sua quase absurda semelhança com seu pai quando jovem.
Vinte anos de diferença, mas uma profunda ligação, sobretudo na sua idade já adulta. Era uma mente brilhante, mas o corpo não correspondeu. Tinha uma profunda intuição para o ensino. Acompanhei os seus primeiros passos como docente da UTAD. Sobre todas as suas dúvidas de principiante falávamos, ao telefone, sem hora nem conta, até às tantas da manhã. Levou para a UTAD, para quase parecer um senhor, uma dúzia de gravatas do meu marido.

Dos irmãos e dos primos
A propósito do tema Educação para o optimismo, que já aqui abordei, andava há dias para fazer uma entrada sobre o enorme recurso emocional que constituem todas as recordações de infância e de juventude que nos unem aos nossos irmãos e aos nossos primos. Com eles partilhamos, as primeiras brincadeiras, as zangas, os segredos, as nossas dúvidas, a nossa curiosidade e os nossos conhecimentos, na adolescência, quando novas perspectivas se abrem, com eles partilhamos tudo o que não somos capazes, por uma razão ou por outra, de partilhar com os adultos, numa rede de laços e de recursos que sustentam, pela vida fora, todos os momentos difíceis que temos de viver.
Se não fosse a iniciativa do blogue que todos lemos, para onde já mandei um exemplar tão antigo que todo o risco é zero, esta entrada de hoje ficaria, provavelmente, adiada sine die, em virtude das muitas obrigações que, de momento, me pressionam.
Um pequeno problema: não vou ter tempo de ir à procura das fotografias dos outros, para não ferir susceptibilidades, mas neste momento, todos os meus primos estão no meu coração, nos meus sentidos, nas minhas mais profundas emoções e recordações e por idades: a Zé, o João, a Ângela Maria, o Rogério Paulo, o Alcides, O Zé Manel, primo, e o Miguel Ângelo, que foi o primeiro a deixar-nos. E os irmãos: Ana Maria e José Manuel, que também já partiu.
Um apontamento sobre esta fotografia: Dezembro de 1959. Acompanham-me os meus irmãos e a minha prima Zé. Eu estou a meio da tabela etária, espantada com o corte radical do meu rabo de cavalo. Destaco-me, pela forma um pouco blunt de cruzar as pernas, ao contrário da elegância das outras duas. A minha irmã, a mais velha do grupo, sempre de sabrinas, em pleno Inverno, para, em qualquer momento, treinar o seu gosto intenso pelo ballet. E onde está Wallie com o seu ar de tótó de sempre? Ficar-lhe-ia mesmo a matar o "selo" de Daniel Sampaio: cromo de estudo. Rigorosa descrição.

terça-feira, julho 10, 2007



Da indisciplina



O novo Conselho Directivo atribuiu-me como tarefa de férias lectivas a coordenação do Grupo da Indisciplina, que tem por função reflectir sobre ela, caracterizá-la na Escola e propôr algumas soluções.

Como me pareceu que deveria ouvir colegas do pré-escolar e do 1º. ciclo do agrupamento, para procurar ficar com uma perspectiva mais diacrónica, tive hoje uma primeira entrevista com a colega do primeiro ciclo.

Desta entrevista muito rica, ficaram-me duas ideias essenciais:

Primeira, de que no primeiro ciclo, não há disponibilidade de recursos humanos para terem um gabinete de atendimento para os casos de indisciplina na sala de aula. Ora, em matéria de indisciplina, a intervenção pedagógica tem de se caracterizar por:

  • uma resposta rápida;

  • um tempo de qualidade entre o adulto e a criança/jovem, para que o adulto o ajude a reflectir sobre o que houve de inadequado no seu comportamento;

  • mais tempo de qualidade, para que o jovem verbalize o comportamento adequado que, numa situação idêntica, deveria ter adoptado;

  • um tempinho de qualidade, em que o jovem e o adulto possam conversar um bocadinho mais, fazer outras coisas juntos, como ler ou uma outra actividade, para "amenizar" os cambiantes daquele acto concreto de comunicação. Esta última é uma hipótese teórica muito minha, não li qualquer investigação que o comprove; as duas actividades anteriores têm uma eficácia que a investigação testemunha.

A segunda ideia que a Maria da Luz me transmitiu é a de que os meninos, de uma idade média entre os seis e os 10 anos actualmente chegam a passar um dia inteiro na Escola. A conclusão óbvia é a de que, estatisticamente, a conflitualidade se passará sobretudo no recinto escolar.

Contudo, observa a colega, todas as actividades têm de ser estruturadas, Assim sendo, nestas doze horas, os meninos estão constantemente em actividades sujeitas a regras: as regras da aula, as regras do refeitório, as regras do estudo, as regras dos tempos livres, todas diferentes, dependendo as actividades.

Mas onde está o tempo de qualidade só para brincar, para treinar a autonomia e a responsabilidade, a exploração do mundo, a apropriação de significados, com base em actividades mais livres e menos estruturadas, com adultos, mas também sem adultos, para treinar competências motoras, como subir às árvores, competências sociais, como apanhar o figo, atirá-lo à cara da irmã e saber lidar com a fúria dela, numa típica situação de conflito ou competências individuais, de organização e estratégia pessoal, do tipo, já fui nadar no rio e ainda quero ir aos melros hoje. A ver se me despacho e saio de casa sem a mãe dar conta.

Quando eu reagi à sua descrição da Escola como um Universo cada vez mais concentracionário (não tenho presente a expressão exacta da Maria da Luz, mas penso ser-lhe fiel com esta descrição), dizendo-lhe que os professores (e os funcionários, naturalmente) sempre fazem um esforço para amenizar e colorir o mundo da escola, a Maria da Luz explicou-me tudo muito bem explicado e eu penso que percebi o seu ponto de vista.


Ainda há que ter em conta que a moratória social é cada vez mais longa e aumentou exponencialmente numa única geração: cada vez os cidadões passam mais anos na escola. Que consequências podem advir desta realidade?

segunda-feira, julho 09, 2007

Receita para não voltar a pecar

Com o devido respeito, transcrevo do 4R, a receita para não voltar a pecar contra o Governo:

"At 18:29:00, Bartolomeu said...
Caríximo irmão Pinho Cardão, confexais nexte texto que perbaricasteis e que a boxa perbaricaxão foi ignomínea. Porém bemos que o bosso espírito poxui a gránde qualidáde do arrependimento, a qual xó é comum encontrar-xe naqueles carácteres mais balorojos. Axim, deliberou a magnânima axembleia a que humildemente bos deregísteis, que: Para remixão da bossa falta e como precauxão para que a mesma xe num repita. Debereis em acto de penitênxia dar 7 boltas de joelhos em redor do edifíxio das cortes, clamando a Xão Bento que opere o milagre da redenxão expulxando este goberno rápidamente. Xe no prajo de 30 dias o milagre num suxeder, debereis então dirigir-bos a Belém e ainda de joelhos rogar a Xanto Aníbal pela feitura do mesmo melagre. Xe ainda ao final de trinta dias xe não bereficar que o mesmo acontexa, boltai a escreber-nos irmão a fim de embarcarmos no primeiro boo pra Bora-Bora. Bora? "

Posso escolher as Maldivas?
'Bora.
Pagas tu, ou pagais vós?


Do novo estatuto do aluno (III)

Nas duas entradas anteriores sobre o novo estatuto do aluno, coloquei a questão de como é que se pode operacionalizar o reforço da responsabilidade dos encarregados de educação.
O Fernando diz
“A Escola, através dos seus órgãos próprios deve EXIGIR a sua intervenção sempre que necessário”
O que nós verificamos é que, nas situações mais problemáticas, a variável família apresenta uma realidade de alheamento e demissão ou incapacidade ou falta de recursos emocionais.
Justamente a questão que se põe é: concretamente, exigir o quê? Que mecanismos de controlo podem ser accionados?

O Miguel diz:
Uma aproximação pela força do decreto está à partida condenada ao fracasso.Certo.

Mas está no decreto; a responsabilização da família é um elemento novo, na sua relevância e crítico.
Falta saber o como, com que mecanismos.
E em princípio, para que funcione, tem de ser com estratégias socialmente bem aceites e com enquadramento legal.
Que estratégias poderão ser essas?
Há estratégias eficazes, na garantia do seu cumprimento, susceptíveis de serem levadas à prática pela Escola?

domingo, julho 08, 2007

Retratos antigos

Forte de S. Julião da Barra, Oeiras

Sobre o novo estatuto do aluno (II)

A propósito da minha entrada anterior, SL (Olá SL! Tudo bem?) comenta e passo a citar:

1. A responsabilização fiscal e criminal já foi imposta noutros países (...) ,O resultado foi perverso: os encarregados de educação tinham de pagar uma multa se fosse buscar os fihos meia hora mais tarde do que o devido ao respectivo infantário. Pois bem: não só pagavam a multa como os iam buscar AINDA mais tarde, pois ficava-lhes mais barato do que inscrevê-los nos ATL locais.
2.Quando os rebentos danificavam qualquer coisa na escola (por exemplo, partir uma janela), os pais eram chamados pagar os prejuízos. Não só pagavam como passaram a exigir que tudo estivesse absolutamente impecável: afinal, pagavam para isso.
3. Se a criança maltratasse um colega, a resposta era a mesma: "não há problema, é para isso que pago!"


Quanto à questão 1, de momento, a legislação, ao que me parece, não prevê medidas de natureza fiscal. Há opiniões favoráveis à adopção de medidas que impliquem responsabilização fiscal e criminal?
Quanto às questões 2 e 3, relacionadas com danos materiais ou a outros, a minha prática é de que já são comummente aplicadas e são socialmente bem aceites. Qual é a vossa?
Têm discutido novas formas de responsabilização dos encarregados de educação que respeitem direitos, liberdades e garantias e garantam a sua maior responsabilização perante a Escola?
Ou pelo contrário, pensam que tais medidas não se justificam?

Eu não sou menos que a IC:
também quero um Chagall no meu quintal. E vai ser este:

Noivos com ramo de flores, Mark Chagall (1887-1985)

Passaram ontem 120 anos sobre o seu nascimento, na Bielorrússia.

Barcos do Tejo

CARLOS I, Rei de Portugal, 1863-1908[Barcos no Tejo] 1884.
gravura : ponta seca

Leituras do dia

Não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem.
Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu.

Lucas 10: 20

Vasco da Gama

A 8 de Julho de 1497, dia de Nossa Senhora, Vasco da Gama, o grande navegador alentejano, zarpa, Tejo fora, para fazer a primeira viagem marítima entre a Europa e a Índia, ao comando da frota S. Gabriel, S. Rafael e Bérrio.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


Manuel de Arriaga
O primeiro Presidente da República Portuguesa, nasceu a 8 de Julho de 1840.

sábado, julho 07, 2007

O novo estatuto do aluno (I)

Do novo estatuto do aluno se diz que um dos princípios que orientam as alterações propostas se prende com o reforço da responsabilidade dos pais e encarregados de educação.

De todos os princípios, este parece-me o mais difícil de operacionalizar.

Este reforço passa pela maior exigência com o controlo, a prevenção e os efeitos da falta de assiduidade dos alunos.

Sabemos que a sociedade portuguesa dispõe de poucos mecanismos de controlo e prevenção da falta de assiduidade dos alunos, porque tal exigiria uma intervenção mais sistemática dos serviços sociais, e de legislação responsabilizante, conforme os modelos de outras sociedades.

Como é que efectivamente esta exigência se operacionaliza, então?

Antes do descanso merecido e reparador,
um copo de leite e... Wynton Marsalis!



sexta-feira, julho 06, 2007



O blogue da semana

Esta semana escolho o Opiáceo Educacional. Pelas duas entradas de quinta e de sexta-feira, em que propõe fundamentadamente "a exumação de cadáveres como método para contratar professores" e alvitra que "mesmo no caixão, ainda estaremos aptos para leccionar".
Na melhor tradição do escárnio e mal-dizer.
(Não estivessem por trás situações reais que implicam tanto sofrimento...)

A investigação sobre a indisciplina sugere que quanto maior for a cooperação entre a Escola, a família e a comunidade, melhor é o comportamento dos estudantes e a disciplina.
Uma questão está em saber quais são as formas de cooperação que se traduzem em melhores resultados.
Outra questão está em melhorar a qualidade da participação e em torná-la mais consistente e sistemática.
Outra questão está na falta de cultura em matéria de cooperação.


Il est paraît-il des terres brûlées donnant plus de blé qu'un meilleur avril

Sobre a minha frase favorita de Brel

Nova gestão, novos objectivos, novas ideias, novas formas de estar e de exercer, novas expectativas, novas esperanças de que seja sempre melhor...
As pessoas falam mais, falam-se mais, ouvem mais, estão mais atentas, quanto mais não seja porque a renovação é criativa. Melhorar o clima organizacional e as relações humanas parece-me um objectivo essencial.

No que me cabe fazer, uma questão crítica está em operacionalizar a responsabilização da família no sucesso educativo e numa atitude mais cívica e responsável. Isto, porque, na sociedade portuguesa, as instituições ainda sofrem de défice de autoridade.

Por mais que a razão recalcitre, o coração anseia.

Uta Frith
Tive de regressar às actas do Congresso Internacional do Síndrome de Asperger, dinamizada em Portugal pela APSA, cuja organização e edição me foi confiada, em virtude de a comunicação de Uta Frith só recentemente me ter chegado em forma de texto.
Houve então que susbstituir o resumo que eu construíra a partir dos diapositivos que acompanharam a sua apresentação, por um texto integral.
Uta Frith, do University College Institute of Cognitive Neuroscience, em Londres, é uma mulher que alia um empenhamento pessoal, uma inteligência e um sensibilidade únicas, a uma comunicação clara, simples, mas de um rigor impressionantes. Dá gosto ler - e traduzir - gente com ideias tão claras, expressas numa linguagem acessível a qualquer ouvinte ou leitor, e de uma compaixão humana incomensurável.
Além do mais, reconhece nos professores a importância das suas observações e registos no diagnóstico e na caracterização da síndrome.

terça-feira, julho 03, 2007

Frutos de Verão e horas bonançosas










Na hora do silêncio, quando o Universo se rende

Nas noites de Verão, gosto de ouvir...




Obviamente...


Conheço Vítor Ramalho, deputado socialista pelo distrito de Setúbal, desde 1970. É uma pessoa dotada de uma sensibilidade e de uma educação únicas e naturalmente requintadas. A vida e a carreira acentuaram a sua natural ponderação no uso do verbo. Na entrevista que deu a Mário Crespo, todos estes traços de carácter se evidenciaram, quando afirmou que todas as "coincidências" de atentado às liberdades individuais SÓ prejudicam o partido que representa.


A mim também me parece.

segunda-feira, julho 02, 2007

Rumo ao infinito

A 2 de Julho de 2004, Sophia de Mello Breyner Andresen parte deste mundo. Para ela a poesia era...


a minha explicação com o universo, a minha convivência com as coisas,
a minha participação no real, o meu encontro com as vozes e as imagens.
Por isso o poema não fala duma vida ideal mas duma vida concreta:
ângulo da janela, ressonância das ruas, das cidades e dos quartos, sombra
dos muros, aparição dos rostos, silêncio, distância e brilho das estrelas,
respiração da noite, perfume da tília e do orégão.
E da madressilva, da hortelã, da alfazema, da lúcia-lima...

Rumo ao infinito

A 2 de Julho de 1985 teve início a missão Giotto, concebida para estudar o cometa Halley.
A missão tinha por objectivo fotografar o cometa, determinar a composição isotópica dos seus componentes voláteis, caracterizar os processos físicos e químicos da atmosfera e da ionosfera do cometa, determinar a composição das partículas de poeira e investigar os sistemas macroscópicos do plasma, resultantes da interacção entre o cometa e os ventos solares.
A nave registaria, um ano mais tarde, imagens do planeta, como a que ilustra esta entrada.


Eu gostava de ter ido...

domingo, julho 01, 2007


Bem escolher

O blogue da semana

Na Biblogteca

Porque ler é bOOOm!
E nas férias é melhOOOr!


Bem lembrar

A 1 de Julho de 1944, nasceu, em Castelo de Vide, Salgueiro Maia, um dos principais capitães intervenientes na Revolução do 25 de Abril de 1974. Comandou a coluna que saiu de Santarém em direcção a Lisboa, ocupou o Terreiro do Paço e cercou o quartel do Carmo, onde se havia refugiado Marcelo Caetano. Se ainda hoje fosse vivo, completaria hoje 63 anos.


Leituras do dia


Enquanto caminhavam, um homem disse-lhe : Senhor, seguir-te-ei para onde quer que vás.
Jesus replicou: As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.
Lucas, 9:57-58


Da boa memória




A 1 de Julho de 1867, a pena de morte para crimes civis é abolida em Portugal.

Bem conservar...


O calhambeque, recauchutado por uma equipa jovem