domingo, maio 27, 2007

Brito Camacho

Manuel de Brito Camacho, nasceu em Aljustrel no ano de 1862. Médico militar, político e escritor,tribuno prestigiado, director do jornal A Luta, que teve um papel relevante na difusão do pensamento republicano. Orador exímio, mordaz, com um humor muito típico. Um dia, na Câmara, alguém lhe fez notar que o seu velho chapéu de palha era indigno da sua condição, ao que retorquiu prontamente:


"Se a palha fosse nova, já m’a tinham comido".
(leia com sotaque da planície e verifique como fica gostoso)

Exerceu uma acção diplomática de relevo em Moçambique, como Alto Comissário; conta-se que, nas recepções, havia grande tendência para o tema da caça, onde cada um contava as suas façanhas e actos de bravura.
Um dia, num jantar de grande cerimónia, Brito Camacho achou que era demais e resolveu contar, ele mesmo, a sua história de caça:

"A respeito de aventuras de caça, que tenho verificado são do gosto de V. Ex.as, vou relatar-vos uma, cuja descrição acabo de receber de um amigo que é caçador em Angola.
Este meu amigo, nas suas caçadas, costuma acampar durante alguns dias e, a partir deste seu pequeno quartel, procura o leão que é a sua caça predilecta. Recentemente, aconteceu-lhe uma situação difícil, nada desejável mesmo para o profissional que ele é. Em certa ocasião, surge-lhe um leão. E, em que local, meus senhores? Exactamente entre ele e a tenda, onde tinha, lamentavelmente, deixado a sua arma. Sente que o leão prepara o salto para o apanhar. Que fazer? Numa fracção de segundo imagina uma solução. Saltar em direcção à tenda ao mesmo tempo que o leão o fizer em sua direcção. Não vê outra saída. Executa.
O leão saltou, mas saltou de mais e, assim, ao chegar ao chão não encontrou, naturalmente, o meu amigo, que logo entrou na barraca e pegou na espingarda decidido a liquidar o leão. Este, talvez um pouco desmoralizado, desapareceu na selva."


Brito Camacho fez uma pausa. Ninguém achou grande graça à história. Então ele continuou:
"Não, meus caros senhores, a aventura ainda não terminou. O inesperado, está para vir. De facto, no dia seguinte, o meu amigo caçador, com a arma que nunca mais abandonou, ouviu, não muito longe do acampamento, umas pancadas estranhas. Aproximou-se, com toda a cautela, do local donde vinha o barulho. Atravessou uma densa vegetação e, às tantas depara com um descampado. E sabem V. Ex.as o que viu? Nem vão acreditar: o leão estava a treinar-se em saltos curtos"!


Parece que esta foi a última história de caça nos salões ultramarinos.

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