domingo, maio 06, 2007

Para a minha avô Palmira, figura inspiradora e matricial

Em cima da minha mesa

Da minha mesa de estudo

Mesa da minha tristeza -

Em que de noite e de dia

Rasgo as folhas, leio tudo

Destes livros em que estudo,

E me estudo

(Eu já me estudo...)

E me estudo

A mimTambém

Em cima da minha mesa,

Tenho o teu retrato, Mãe!
À cabeceira do leito,

Dentro de um caixilho,

Tenho uma Nossa Senhora

Que venero a toda a hora...

Ai minha Nossa Senhora,

Que se parece contigo,

E que tem ao peito,

Um filho

(O que ainda é mais estranho)

Que se parece comigo,

Num retratinho,

Que Tenho,

De menino pequenino!...

No fundo da minha mala,

Mesmo lá no fundo a um canto,

Não lhes vá tocar alguém,

(Quem as lesse, o que entendia?

Só riria

Do que nos comove a nós...)

Já tenho três maços,

Mãe,

Das cartas que tu me escreves

Desde que saí de casa...

Três maços - e nada leves! -

Atados com um retrós...

Se não fora eu ter-te assim,

A toda a hora,

Sempre à beirinha de mim,(sei agora

Que isto de a gente ser grande

Não é como se nos pinta...)

Mãe!, já teria morrido,

Ou já teria fugido,

Ou já teria bebido

Algum tinteiro de tinta.

José Régio

2 comentários:

Anónimo disse...

She will always take care of you.

Anónimo disse...

Idalina, como já te disse, também gosto muito de José Regio. Este poema é simples e sentido.