quarta-feira, abril 25, 2007

Comemorações do 25 de Abril da Assembleia da República

Gostei:

  • Dos arranjos de flores.
  • De ver duas mulheres a representar os respectivos partidos: a representante do Bloco de Esquerda, cujo nome não me ocorre, e Maria de Belém, representante do Partido Socialista.
  • De ver um dos companheiros de juventude, Emanuel, à esquerda do Primeiro Ministro: a radicalidade da juventude desenvolveu adultos amadurecidos, críticos, interventivos, construtivos. Não fomos uma geração perdida. Emanuel, no seu eterno sorriso de rapazinho tímido, tal como quando tinha 20 anos.
  • De ouvir o representante do Bloco de Esquerda afirmar que nos faz falta a insubmissão e uma agenda de modernidade. Aqui está uma agenda que me agrada: a insubmissão é filosoficamente socrática, interrogativa, questionadora, especulativa e criativa. Tem, porém, custos elevados.
  • De ver outro companheiro de juventude, Fernando Rosas, a rir-se do discurso do CDS. Só gostava de lhe ter ouvido a acrimónia dos comentátios que acompanharam o riso irónico...
  • De ouvir o discurso do Senhor Presidente da República, todo virado para a juventude. E de o ouvir terminar dizendo: "Em nome de Portugal não se resignem". Custa-me a acreditar que esteja a escrever estas palavras sobre Cavaco Silva. Na verdade, conheci-o pessoalmente na Universidade Católica, no final dos anos 90, durante o meu mestrado. A nossa turma tinha as aulas de Sábado no edifício de Economia e cruzávamo-nos todos os Sábados com os "homens do dinheiro". O Professor-avô metia conversa connosco e eu, de resposta sempre pronta, dizia-lhe que éramos os "parentes pobres da Educação". Um sorriso doce, tímido, uma figura afável que desmontou a imagem que eu havia construído de uma pessoa algo hirta e inflexível que devorava fatias de bolo-rei.

Não gostei ou não percebi:

  • Da referência do PSD à claustrofobia democrática. Não sei, de facto, a que, concretamente se refere. Será um chavão? Uma metáfora da democracia madeirense? É verdade que a comunicação social está cada vez mais dominada pelas grandes empresas e que dificilmente um grupo de cidadãos poderia manter uma revista como o antigo O Tempo e o Modo. Mas esta questão não é específica deste Governo, pois não? Ou o PSD entenderá que só ele tem a prerrogativa de pretender controlar os orgãos de comunicação social?
  • De ouvir Sophia de Mello Breyner citada pelo deputado do PSD/PPD. Não me soou bem, não teve aquela sonoridade essencial e a inteireza da sua poesia. Para mim, Sophia é a mulher que esteve na comissão que foi libertar os presos de Caxias, acompanhada do seu, creio que ainda marido, Francisco Sousa Tavares. E dos que eu vi sair de Caxias, não me lembro de nenhum que tenha vindo a integrar o então PSD. Eu sei que a democracia é de todos e não apenas dos que por ela lutaram de forma activa, mas não encham a boca com versos de Sophia, como se fossem farturas da Malveira. Ou, pelo menos, não esta versão do PSD.
  • Porque é que o cidadão brasileiro escolheu a comemoração para expressar o seu descontentamento, parece-me que contra a política de imigração portuguesa. Faz-me lembrar quando, no final dos anos 70, vi a minha mãe abrir as portas de sua casa, nos Estados Unidos, a estudantes iranianos que carregavam a bússola nos seus camuflados, para orarem a Maomé na direcção certa; estudavam nas Universidades americanas, à conta do erário público dos americanos e criticavam tudo quanto era cultura e mentalidade americanas e/ou ocidentais. E não gostei porque pensei que abusavam da hospitalidade de uma portuguesa na América que abria as suas portas aos colegas do filho, estudante numa universidade americana, das mais multiculturais, a de North Carolina. Pensei de mim para mim: isto é que é alimentar uma víbora no próprio seio. Sim, ainda por cima porque, naquela casa, lhes era posto à mesa tudo quanto era bom, na proverbial tradição de hospitalidade da nossa família. Mais tarde, foi o que se viu.

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