quinta-feira, abril 19, 2007

Indisciplina e violência na Escola (uma clarificação)
No meu artigo publicado no Jornal Público de 5 de Abril último, deixei algo confusas as causas atribuídas a cada um dos dois fenómenos.
A violência tem causas extrínsecas à Escola - prende-se sobretudo com o contexto social em que esta se insere.
A indisciplina é um fenómeno completamente distinto: as suas causas são de natureza intrínseca e não há que atribuí-la a variáveis exteriores à Escola, tais como o contexto familiar e outros.
A indisciplina está relacionada com problemas de organização, de relação, de clareza e precisão de regras, de dimensão da Escola.
É dentro dela que pode e tem de ser resolvida.

2 comentários:

Fábio disse...

Tenho a impressão que a duração dos tempos lectivos (1h30) é excessiva, assim como é excessiva a dimensão das turmas (27 ou 28 alunos). Estas são sementes de indisciplina, que extravasam a Escola. Por outro lado, um conjunto de alunos que foram alvo de um processo disciplinar podem manter o seu comportamento desordeiro no espaço da aula. Suponho que isto acontece porque os alunos sentem um ambiente de impunidade, que em parte decorre do regime geral de funcionamento da Escola, definido pelo Ministério. Suponho que para um processo disciplinar surtir efeitos práticos, era necessário que o aluno corresse riscos sérios de expulsão e perda do ano escolar, se porventura viesse a reincindir nos seus comportamentos desrespeitadores. Ora isto não acontece, e o aluno e a sua família têm consciência disso.

Também me parece que o Ministério é muito omisso em relação a este problema. Desconfio que no site do Ministério não há nenhum documento sobre este tema, que oriente os Professores, os DT, e a direcção da Escola.

Paideia disse...

Sim, Fábio, mas estas duas são dimensões da variável "organização escolar", isto é, embora sejam superiormente impostas, entram sempre nessa variável.
Quanto à outra variável a que se refere - a relação escola família - nós sabemos que está relacionada com a autoridade das instituições, isto é, em Portugal, as instituições têm, de um modo geral, falta de autoridade, porque tudo é posto em causa, como aliás deve sê-lo em democracia. Aqui a questão está em determinar a relação de forças entre as instituições e a sociedade civil. Daí que o novo estatuto do aluno venha no sentido de reequilibrar essa relação de forças no que diz respeito à autoridade da Escola. Repare que quando uma medida é tomada, é logo contraditada por sectores da sociedade civil que representam os interesses postos em causa. O que está agora a verificar-se, de um modo geral, é que as instituições começam a impor-se à sociedade civil, por esta se encontrar, de um modo geral, mais enfraquecida.