domingo, abril 29, 2007

O abandono escolar precoce e desqualificado

Mais estatísticas preocupantes do abandono escolar em Portugal, uma verdade crua que nos persegue. Uma breve consulta no PORBASE devolve-me um universo de 32 estudos sobre o fenómeno, com algumas pessoas a estudarem-no de forma continuada e sistemática, como João Ferrão, que tem vindo a caracterizar regionalmente os factores de abandono.Todavia, o debate nacional sobre a educação revela um diminuto conhecimento geral do fenómeno. Ora, um fenómeno cujas variáveis não são rigorosamente conhecidas é um fenómeno incorrigível: a Sra Ministra acusa os professores, os professores acusam os pais, os alunos acusam os pais e estes os professores e estes a tutela. Uma espécie de pescadinha de rabo na boca.
O mais curioso é que é mais fácil o acesso a estudos internacionais do que ao conhecimento produzido em Portugal; facilmente se acede a bases de dados internacionais, mesmo à espanhola Fuente Academica. Isto é um problema: nunca conseguimos uma massa crítica com base nos nossos dados, na nossa realidade.
Embora os fenómenos possam ter uma configuração geral idêntica nas diversas culturas, as especificidades de cada uma molda-lhes os contornos.Por exemplo, um estudo muito recente, indicado pela Epenet como o mais relevante na matéria, em que diversas variáveis sociais e académicas são articuladas, através de tratamentos correlacionais, indica que a monoparentalidade é um factor de risco nas crianças provenientes de famílias desfavorecidas, em termos de abandono precoce. Sabemos com algum grau de precisão qual é o peso desta variável no nosso país? Por outro lado, os filhos de mães trabalhadoras estão em vantagem relativamente aos filhos de mães domésticas. Outro factor de abandono prende-se com os resultados académicos no primeiro ano de ensino. Vou continuar a pesquisa. Outra evidência é que o abandono precoce se conjuga preponderantemente no masculino, o que condiz com os nossos dados, em que se verifica uma "(e)feminização a partir do 9º. ano de escolaridade" e se conclui que a "sua superação exige esforços de tal monta que só a mobilização das energias dos cidadãos e das instituições poderá vir a resolver". Vamos a isto? Mas com conhecimento mais exaustivo das váriáveis críticas, por favor. E as que se relacionam com o contexto escolar não incluem os professores como variável, nem independente, nem interferente.
Além de aborrecido, é frustrante saber que quem nos governa não sabe do que está a falar. Nós sabemos que os ministros passam e nós ficamos (eu já conheci para cima de uma dúzia desde Vítor Alves, o primeiro Ministro da Educação que conheci enquanto docente), mas mesmo assim, é aborrecido...

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