sábado, abril 14, 2007



Espaço, discurso e estilo


O espaço público é ainda predominantemente masculino e o espaço privado predominantemente feminino.
Ora o acesso da mulher ao espaço público, traz à sua esfera a voz e o discurso femininos, que carregam emoções e aspectos privados, de que os homens têm estado tradicionalmente arredados. O direito à comunicação acompanha o acesso, a presença e a circulação no espaço público e, ao mesmo tempo, carrega novas construções e apreensões de significado.
A sociabilidade contemporânea é assim mediada por linguagens e regras discursivas múltiplas, novas gramáticas de estar em sociedade e de exercer a cidadania, e caracteriza-se por uma progressiva apropriação mútua das características de ambos os discursos – o público e o privado, o masculino e o feminino. Na blogoesfera a diferença é notória, assim como são notórias as novas gramáticas, mas é, ainda o discurso de tipo masculino que predominan e é, aparentemente, mais eficaz, em termos de comunicação. Eu atrever-me-ia a dizer que essa eficácia está aliada a uma certa demagogia: o populismo é popular, o pensamento crítico, nem tanto.


Que factores condicionam a comunicabilidade na expressão escrita?
Um acto de comunicação bem sucedido implica que a mensagem é transmitida sem ruídos impeditivos, deturpantes ou concorrentes e de forma correcta, célere e económica, isto é, que existe conformidade entre a recepção e a emissão e economia de esforço, em termos de interpretação e de decifração.
No discurso escrito, os factores que dificultam a comunicação são da mais diversa ordem, tanto aqueles que são comuns ao discurso oral, como os que são específicos do discurso escrito. Assim, para que a comunicação seja eficaz, é necessário que os participantes da comunicação dominem as regras do código, nas suas múltiplas dimensões, que o emissor e o receptor partilhem o contexto sem equívocos, que a comunicação seja acessível, designadamente, em termos de segmentação, de unidade temática e de ordenação.
As dificuldades podem situar-se a nível sintáctico e lexical e prender-se com diferenças de competência linguística, de memória e de atenção; em termos de interpretação, estão em jogo o grau de familiaridade dos participantes com os assuntos, o seu grau de novidade, uma vez que a novidade afecta a compreensão, o grau de abstracção e outros aspectos que tendem a diminuir a legibilidade, tais como as definições, as classificações, os processos lógicos e silogísticos e as remissões.
O discurso escrito implica distanciamento temporal e físico, mas a sua formulação depende da direccionalidade e do grau de abstracção do interlocutor, de que pode resultar um estilo predominantemente expositivo ou um estilo mais epistolar.


Eu relevaria um estilo de comunicação híbrido, com marcas de discurso oral e novas formas de escrita trazidas pelo ambiente on-line, em que as funções linguísticas se misturam, com forte relevância para as funções auto-revelatória, apelativa e fática, que tornam a mensagem mais aprazível e comunicativa.


Mas o aspecto mais importante, o que torna o discurso mais apelativo continua a ser um certo caceteirismo predominante na nossa crítica social, a que nem os melhores exemplos da nossa racionalidade conseguiram, frequentemente, fugir.


A nossa crítica social é brigona, caceteira, superficial, pouco reflexiva, pouco argumentativa.


É ainda aí que reside o segredo do seu êxito.

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