sábado, abril 14, 2007




No discurso privado, os elementos da comunicação, designadamente o emissor, o receptor, a mensagem e o contexto, estão geralmente mais clarificados e referenciados, enquanto no discurso público todos estes factores são mais abstractos e arbitrários e as referências ao contexto e ao receptor são menos frequentes, o que o torna mais distanciado, explícito e descontextualizado que o discurso privado. Em termos formais, o discurso público recorre a formas gramaticais mais impessoais e a função de comunicação predominante é a referencial ou denotativa.
O discurso privado é mais intimista e movimenta-se num espaço vedado à intrusão; é predominantemente auto-revelatório (do latim, velum, ou revelare, que significa tirar o véu, ou tornar visível, revelar, clarificar), enquanto o discurso público se movimenta num campo mais anónimo e impessoal, destinado à circulação e à passagem da informação.
O discurso privado é o último reduto da autenticidade, da espontaneidade, da verdade, e está associado a um maior nível de intimidade e a uma busca da verdadeira e única essência das coisas e das pessoas, enquanto o discurso público está mais vocacionado para a representação dos papéis sociais e relacionado com os códigos de civilidade.
Efectivamente, na tradição filosófica ocidental, a expressão de sentimentos está nos antípodas do conhecimento e da racionalidade: desde Platão, com algumas excepções raras, a esfera intelectual opõe-se à emocional, e é a faculdade que nos permite chegar à sabedoria, a que está associada à esfera racional, cultural, universal, pública e masculina, enquanto que a esfera emocional está aliada à irracionalidade, ao mundo físico, ao natural, ao particular, ao privado e à feminilidade.
Assim, o discurso tem um género.

Sem comentários: