Videovigilância em todos os espaços escolares
Num questionário de escolha múltipla colocado on-line, uma das federações sindicais de docentes pergunta:
Nas escolas deve haver vídeo vigilância?
As hipóses são:
Em espaços exteriores
Em espaços interiores
Em ambos os espaços
Em nenhum espaço
E os resultados são:
em espaços exteriores: 29,4%
em espaços interiores: 0%
em ambos os espaços: 52,9%
em nenhum espaço: 17,6%
Isto é, apenas 16,7% das pessoas que se pronunciaram entendem não serem necessários dispositivos de videovigilância; a percentagem de pessoas que entendem que a videovigilância se deve circunscrever aos espaços exteriores é de 29,4%; mais de metade das resposta indica que as pessoas gostavam que houvesse videovigilância em ambos tipos de espaço, interiores e exteriores.
Que ilações se podem tirar destes resultados?
3 comentários:
Quanto a mim é uma questão cultural, Idalina.
A Escola não se pode dissociar da sociedade, desde logo porque, por ela é influenciada e também porque dela depende.
O resultado do inquérito que refere, parece demonstrar medo, insegurança… A sociedade em que vivemos não é uma sociedade solidária, vejam-se as estatísticas relativamente ao elevado fosso entre ricos e pobres, no nosso país. Estas assimetrias são o adubo da revolta. O que pode a escola fazer para amortecer/inverter estes comportamentos? Embora não se devendo substituir às famílias, os Professores têm aqui um papel fundamental, no entanto os responsáveis parecem mais interessados em denegrir o seu papel do que os motivar, valorizar, enfim reconhecer a sua importâncai vital numa sociedade. Até porque muitas vezes têm de ser pais, educadores, conselheiros, ‘irmãos mais velhos’, para além de professores.
Mas lá está, se até os professores se sentem ameaçados quando usam os seus legítimos direitos de contestação, indignação e protesto, porque não também os alunos, terem direito a ter os mesmos medos e receios…?
Volto ao princípio, enquanto não valorizarmos o rigor, o mérito, a iniciativa, o trabalho, uma atitude verdadeiramente democrática, não vamos longe… E parece-me pelo que tenho visto ultimamente nos patamares de direcção Escolar em geral, que a ‘voz do dono’ está em franca implantação, agora travestida de ‘atitude democrática’. É mais importante cumprir uma má orientação do que perder algum tempo a reflectir sobre a melhor maneira de implementar um ‘despacho’ ou uma decisão do ME enquadrando-a ou adaptando-a ao meio ambiente em que irá ser aplicada (evidentemenete sempre que for possível). Talvez porque a capacidade, a autoridade e a inteligência, não abundem neste estrato de funcionalismo. E o que é mais grave é que até tem apoio de sectores, que se auto intitulam de democratas…
Idalina, assim não há volta a dar…
Isabel
Assino em baixo.
Não calcula, Isabel, com que energia.
Creio que o nosso problema continua a ser sempre o mesmo!
É um dos grandes handicaps da nossa educação.
Temos medo de ser livres! Temos medo de ter espaço!
Precisamos de viver continuamente dentro de "baias" Precisamos de estar sempre vigiados.
Fomos educados para só agirmos correctamente nestas circunstâncias. Cultivamos isso. E se esta maneira de estar parecia traduzir-se apenas na existência física de muros, o que é certo é que ela está bem entranhada na maneira de estarmos, de vivermos, de "fazermos batota" sempre que podemos. Tão entranhada está que começamos a achar natural que possamos passar a ser electronicamente vigiados em todos os espaços... tudo em nome de uma segurança fictícia.
A educação, especialmente a destes últimos anos, virada para o individualismo, para "o salve-se quem puder", para o desrespeito pelo outro, para o "cada um é rei", esquecendo completamente os princípios de (co)responsabilização, de respeito, de solidariedade tem contribuído para criar nos indivíduos uma enorme insegurança social.
Este (des)governo apercebeu-se não apenas desse facto, mas também da facilidade com que, manipulando-nos, nos consegue dividir, isolar, cultivar a insegurança e o medo.
Daqui à possibilidade de nos poder controlar em todos os espaços, insinuando, localmente, as necessidades de segurança foi um passo. "Democraticamente" deixa isso aos actores locais, insistindo na necessidade do controle da violência, do bullying, da segurança da comunidade escolar (no caso a que nos referimos...).
Cimentados no medo, no pavor da atribuição de responsabilidades por incúria, caso não exista a tal vigilância, os actores "seniores" tendem a ir na onda para não terem que responder perante hierarquias, perante pais.
E à educação, diz-se nada!!!! (adaptação de uma conhecida frase).
E assim, iremos vivendo felizes e contentes neste grande big brother que passará a ser o quotidiano de todos nós!
E assim iremos continuando a desresponsabilizar e a desculpabilizar as crianças/jovens, a infantilizá-los, a criar-lhes dependência até aos 30/35 anos, a fazer-lhes a papinha toda, criando-lhes seguranças fictícias mas retirando-lhes toda a capacidade de reacção, de iniciativa, de vivência em sociedade.
Na maioria dos países da Europa e nos USA as escolas nem muros têm.
Ainda no ano passado, uns atletas americanos que levei à minha escola, para uma dinamização de basquetebol, me perguntavam com ar de genuíno espanto para que serviam os muros, ainda por cima com grades! Nunca tinham visto nada assim!
É muito mais fácil "prender" e "vigiar" do que querer que querer criar uma sociedade baseada em princípios de ética, de solidariedade, de trabalho e de respeito.
Este tipo de sociedade não interessa ao actual tipo de políticos. Numa sociedade deste tipo, nunca conseguiriam reinar... seriam preteridos em todos os aspectos.
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