quarta-feira, junho 20, 2007

Aprendizagem e transferência
Enquanto fazem os testes olho-os absorta, imagino a quantidade de conexões que vão naquelas cabeças e pergunto-me até que ponto irá a minha influência sobre eles, até que ponto eu faço a diferença.
Não falo do ponto de vista afectivo, que quanto a isso não tenho grandes dúvidas. Gostava mesmo de saber se eles estão de facto a progredir e a aprender comigo.
Ficaram mais fluentes? Expressam-se com alguma propriedade e confiança? Para muitos deles, aprender é uma luta contra o medo: medo de parecerem estúpidos ou do ridículos, medo de se esquecerem das palavras certas para o momento certo, medo dos pontapés na gramática...

Às vezes, sobretudo à segunda-feira vêm contar-me como conheceram um amigo novo na Net e se entenderam com ele em Inglês, ou como descortinaram as regras de um jogo novo, ou como aprenderam uns versos novos de uma canção, ou como descobriram novos vocábulos ou novas expressões ao fazerem o trabalho de projecto. Às vezes, não entendem bem o significado de certas expressões idiomáticas. Por exemplo, o V., que reproduz diálogos inteiros da MTV cartoons, ou que é, imita, com uma pronúncia impecável, as vozes dos diversos personagens:

- Hang on! - diz um dos seus personagens, real ou imaginário.
- Take is easy!
- Get lost!
- You're done!
Há duas semanas andava preocupado com a expressão "You're fired!" (seria "estás incendiado?...")

Para mim, um pouco de tudo serve para criar novas âncoras para a aprendizagem: um retrato de família, uma canção, enfim qualquer coisa que permita ligar as aprendizagens à realidade deles.
Um dos principais papéis da Escola é o de promover nos estudantes a capacidade de se adaptarem a novas situações contextos; assim sendo, a instrução não deve basear-se exclusiva, nem principalmente na memorização da informação transmitida, mas nestas idades, a memória é um bem precioso.
Na verdade, a avaliação de como os estudantes são capazes de transferir as aprendizagens para novas situações e contextos constitui a pedra de toque de uma boa instrução.
Há alguns factores críticos que determinam uma boa transferência das aprendizagens.
Tais factores prendem-se com:

  • as situações de aprendizagem;

  • as características individuais dos estudantes;

  • a natureza das actividades em que são envolvidos.

O tempo despendido a adquirir novos conhecimentos é determinante, mas a forma como esse tempo é utilizado produz efeitos diversos: uma coisa é que esse tempo seja utilizado exclusivamente para a memorização de factos, outra muito diferente é o tempo de uma aprendizagem para a compreensão.
O contexto é igualmente um factor relevante: os conhecimentos transmitidos num único contexto produzem uma transferência menos flexível, enquanto que os conhecimentos adquiridos em contextos variados permitem uma maior abstracção dos aspectos essenciais e relevantes, em que os estudantes desenvolvem uma representação mais flexível do conhecimento, em actividades de contraste, de comparação e de padronização.
Todas as novas aprendizagens implicam transferência e, deste modo, as aprendizagens anteriores condicionam a qualidade da compreensão da nova informação: por exemplo, o estudante deve aprender bem a soma sem transporte, antes de aprender a soma com transporte. A aprendizagem das operações de multiplicar e de dividir torna-se mais fácil se os mecanismos de soma e de subtracção estiverem bem “oleados”...

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