No dia 16 de Junho de 1996 faleceu o professor-escritor David Mourão-Ferreira. A memória mais vívida que tenho do Professor é a de um recontro, no hall da esquerda da Faculdade de Letras de Lisboa, entre os, na maioria, as estudantes da Faculdade e os chamados gorilas, em que ele se interpôs entre uns e outros. Nesse dia, apreciei a sua determinação, e coragem física. À mais pequena precipitação, de uns ou de outros, o primeiro a apanhar seria sempre ele, como aconteceu dias depois com o Professor Lindley Cintra.
De David Mourão Ferreira:
Abandono
Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar
Levaram-te a meio da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite numa noite
De todas a mais sombria
Foi de noite, foi de noite
E nunca mais se fez dia.
Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar.
1 comentário:
Lembro-me desse dia... da sua morte - ou melhor, do dia seguinte. Não porque o conhecesse ou porque conhecesse na altura a sua vida e obra, mas porque o meu professor de uma das disciplinas do curso de Ensino de Matemática, na Faculdade de Ciências de Lisboa, nesse dia deu início à aula com a leitura de um dos seus poemas.
... Há aulas que nunca esquecemos.
Aulas que, quem sabe, fazem de nós hoje melhores professores.
Boa semana.
:)
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