domingo, setembro 30, 2007

Professores que fizeram a diferença


A D. Lobélia, na primeira classe,que meu deu um 20 e me ensinou, com a primeira e única reguada, que deixar copiar não é forma de ajudar as colegas. A minha ajuda não parece ter sido eficaz, porque a Palmira, minha colega que reconheceu ter copiado por mim, embora não conseguindo passar da 4ª. classe,revelou-se uma rapariga honesta.

A D. Lucília, professora da 2ª. classe, que me acolheu na sua escola, após a morte do meu pai. Era severa e teimou em contrariar a minha distracção natural com cópias, em que algumas palavras estavam sublinhadas para eu as escrever a lápis de cor. Resultado: muitas cópias repetidas e um 19 no fim do ano.

A D. Maria José, professora da 4ª. Classe. Ao meu excepcional sexto erro de ortografia, na expressão "momentos de ócio" que eu registei como "momentos de ósseo", ameaçou-me que não me levava a exame, se eu dobrasse a proeza dos seis erros.
Gravidíssima, levava-nos para sua casa para nos preparar para o exame de admissão e teimou que eu havia de aprender a desenhar bilhas e vasos à vista. Com grande esforço meu e dela, lá fui atamancando as sombras que eu nunca via, nem sabia reproduzir, das tais bilhas. Acabei o exame com distinção e louvor.
Admito que nenhuma destas experiências precoces de rigor me marcou negativamente: ao contrário, constituíram lições de vida.

Dra. Lucília, mais uma Lucília, professora de Inglês do que seriam hoje os 7º., 8º. e 9º. anos. Era uma professora com ar distante que dominava primorosamente o método grammar-translation na Língua Inglesa. A sua aura de eficácia e de rigor acabou por determinar as minhas escolhas vocacionais.

Dra. Marguerite, professora de Português e de Francês dos que seriam hoje os 7º., 8º. e 9º. anos. Não era muito rigorosa, mas era envolvente, sobretudo nas elevadas expectativas que tinha a meu respeito. Cobria o meu emblema da Escola, que era usado sobre a bata, no lado direito do peito, com fitinhas que significavam sucesso académico numericamente acima do catorze. Quatro dessas fitinhas acumuladas, transformavam-se em pequenas flores vermelhas de pano, que ela comprava sabe-se lá onde. Eu esmifrava-me para as conseguir e parecia um vaso ambulante de rosinhas vermelhas . Contudo, eu tinha um problema com as batas: andavam sempre sujas do guache e da tinta-da-china do Desenho e, por isso, nunca tive a honra de ser chefe de turma. Esse papel coube à Isabel, que era filha de um comerciante que tinha uma loja de tecidos, pelo que a Isabel tinha sempre duas ou três batas do melhor algodão para mudar durante a semana, enquanto eu tinha de lavar e passar a ferro a minha única bata de algodão barato.

Mello Moser, o meu querídissimo e number one teacher. Aproximava-nos a nossa propensão divergente, o nosso espírito errante e sedento de conhecimento. Afastou-nos a situação caótica que se viveu na Faculdade de Letras em meados dos anos 70.

Lindley Cintra, no anfiteatro 1 da Faculdade de Letras, repleto de gente, uma disciplina fascinante e uma personalidade original, doce, corajosa e única na sua extrema elegância física e ética.

Guilermina Lobato Miranda, a minha orientadora de mestrado e de doutoramento, rigorosa, mas flexível, duas qualidades que, conjugadas, acertam muito comigo. Por isso, conviveu razoavelmente com o meu indomável espírito de independência, o meu individualismo e a minha identidade profissional, que ela chegou a confundir, transitoriamente, com corporativismo. Mais tarde, penso que percebeu - ou, pelo menos, aceitou.

Uma característica comum a todos: acreditaram sempre em mim.

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