Da reflexividade docente, II: A reflexão dialógica e a reflexão crítica
Na entrada de ontem iniciei o tema da reflexividade docente, com a distinção de Hatton & Smith sobre os diversos tipos de reflexão docente e abordei os dois primeiros tipos: a escrita descritiva e a reflexão descritiva.
Na entrada de hoje vou procurar escrever sobre os dois tipos seguintes: a reflexão dialógica e a reflexão crítica.
A reflexão dialógica, explora os motivos e hipóteses possíveis; manifesta um afastamento do sujeito em relação aos factos/acções, eleva-se a um nível diferente de elaboração, explora a diferença, os factos, as acções, produz juízos e hipóteses alternativas. É uma reflexão analítica e integrativa de factores e perspectivas diversos, capaz de identificar inconsistências de raciocínio ou de apreciação; um exemplo de reflexão dialógica é o extracto de uma intervenção de um colega num fórum de discussão, que transcrevo:
“Um aluno meu, que habitualmente e apesar de ser interessado, é pouco participativo devido à sua forma natural de ser (e que costumo designar como “aluno apagado”), recorrendo ao computador e ao projector de vídeo, fez uma apresentação da escritora, em power-point, que a própria considerou, e passo a citar, “a apresentação mais interessante dos seus vinte anos de escritora”. A vantagem desta apresentação foi por demais evidente: entre 80 alunos, do oitavo e nono anos, que ali se encontravam, todos se mantiveram em silêncio (e alguns deles são considerados “alunos problemáticos”). Todos se mantiveram concentrados no que visualizavam e estavam curiosos em relação às apresentações posteriores, uma vez que se tratava de informação multimédia (que conciliava imagem, som, texto e animação). No entanto, para que isto resultasse foi necessária uma preparação prévia que implicou pesquisa e planeamento pormenorizado, precisando-se concretamente os objectivos que se pretendiam atingir.”
Vejamos agora em que consiste a reflexão crítica.
A reflexão crítica, o estádio mais elevado de reflexão identificado por Hatton & Smith já evidencia a compreensão de que as acções e os acontecimentos têm um contexto concreto, e que as perspectivas múltiplas são, também elas, explicáveis por contextos sociopolíticos e históricos diversos.
Hatton e Smith reconhecem que o conceito implica a aceitação de uma determinada ideologia, com os seus pressupostos e a sua epistemologia, que formam o enquadramento da reflexão. Vejamos um exemplo de reflexão crítica:
«Considero que a utilização das TIC's na educação e no contexto da sala de aula são uma realidade a que nenhum de nós pode hoje fechar os olhos. Apesar dos problemas já diagnosticados pelos colegas e que mostram as assimetrias, mesmo numa área onde pensávamos que todos vivíamos os mesmos problemas, somos confrontados com questões de vária ordem que nos levam a reivindicar melhores condições e uma política educativa que acompanhe os novos tempos. No entanto, a utilização das TIC's pode transpor a sala de aula e ir ao encontro de outras dificuldades e problemas, quer dos alunos quer dos professores. (…)»
E ainda um segundo exemplo:
«Para além do perfil adequado aos novos desafios, será necessário que o Ministério ofereça as condições mínimas para um trabalho sério e profícuo, conducente a um sucesso real na aprendizagem dos alunos. E até posso propor algumas medidas: 1. apetrechamento das salas de aula com o material necessário; 2. formação adequada, sobretudo na área das novas tecnologias, dado que ainda há muitos docentes com carências nesse domínio; 3. publicação de normativos no sentido da exigência, disciplina e rigor; 4. estabelecer uma calendarização equilibrada, com pausas lectivas; O docente de Língua Portuguesa está preparado para enfrentar qualquer desafio desde que essas e outras medidas sejam implementadas em tempo útil. A partir daí, creio que esse docente tudo irá fazer para garantir o sucesso e deve: 1. Estar preparado científica e pedagogicamente; 2. Dominar as novas tecnologias e pô-las ao serviço do processo ensino-aprendizagem; 3. Ser exigente consigo e com os outros; 4. Ter capacidade de trabalho em todas as áreas da sua actividade; 5. Estar familiarizado com o programa e planificar as tarefas dentro de um calendário adequado. Não basta entregar um programa novo para ser cumprido. É necessário averiguar se há condições para isso. E o exemplo vem de cima...»
A questão da reflexividade docente ocupa já algum espaço nos programas de formação inicial de professores, ainda que numa definição pouco clara e com estratégias muito diferenciadas, tais como os diários, o “amigo crítico”, o portfolio e outras.
Trata-se de um processo crítico de refinamento da prática de uma dada disciplina, em que o professor analisa a sua experiência pessoal de aplicação das suas aprendizagens à sua prática profissional.
terça-feira, setembro 11, 2007
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