Os impactos da educação a distância nas instituições de ensino superior: oportunidades e dificuldades
Poder-se-ia dizer que a literatura sobre o futuro do ensino superior está balizada entre estes dois aspectos contraditórios: por um lado, verificam-se inúmeras pressões externas para que as instituições do Ensino Superior se abram à sociedade, procurem novas formas de organização, respondam às necessidades do desenvolvimento económico e social, procurem novos públicos, novas formas de financiamento, desenvolvam a capacidade para a melhoria contínua da avaliação, da reflexão, da auto-transformação e da qualidade; por outro lado, o fenómeno natural e recorrente de resistência organizacional, que não é, aliás, exclusivo do ensino superior, dificulta o desenvolvimento de novas fórmulas que, haverá que reconhecer, colidem com a cultura das instituições e com a própria concepção de ensino baseada no paradigma tríptico sala-professor-alunos; a fórmula da aprendizagem a distância, no conjunto de utilização das tecnologias em meio universitário é a que gera maiores resistências e, porventura, a mais radical, porque obriga a mudanças drásticas e simultâneas a nível institucional, organizacional e cultural.
Uma das expectativas positivas prende-se com a crença de que a abertura da Universidade à modalidade on-line aumentará os níveis de produtividade e de rentabilidade (Green & Steven, 1995); contudo, os investimentos necessários em recursos materiais e de formação são considerados muito elevados; o próprio conceito de produtividade não é particularmente caro ao meio universitário, uma vez que a cultura dominante considera que o que deve impulsionar o investimento é a aprendizagem, o ensino, o currículo e os conteúdos.
Ora, para a maioria dos professores, independentemente do grau em que ensinam, as inovações necessitam de ter vantagens comprovadas; além disso, e ainda que sujeitos a pressões ambientais cada vez mais poderosas, entendem que os conceitos de educação e de distância são incompatíveis. A propósito das pressões, Feenberg, com um currículo insuspeito como inovador e investigador na área da aprendizagem a distância, numa reflexão significativamente intitulada Distance Learning: Promise or Threat escreve:
A aprendizagem a distância, que já foi a parente pobre da academia, está finalmente a ser tomada a sério, mas não exactamente como os primeiros inovadores, como eu próprio, esperavam. Não são os professores que estão a dirigir o movimento da educação em rede. São os políticos, as administrações e as companhias das telecomunicações que descobriram os interesses financeiros da ideia, mas as propostas de “reformulação” radical da universidade provenientes destas forças vão garantidamente provocar a hostilidade dos professores.
Por outro lado, o significado simbólico da sala de aula e as representações associadas, como a distribuição de papéis e das expectativas, o significado atribuído ao conhecimento e à sua transmissão, o controlo, o poder e a influência induzem nos docentes um interesse em preservar as características do ambiente institucional e as práticas convencionais, o que parece ser tanto mais marcante, quanto mais antigas são as instituições.
Como afirma Weathley, quanto mais uma organização define e reforça os factores identitários dos seus profissionais, maior é a resistência a práticas e rotinas alternativas, tanto mais que o processo de legitimação das práticas alternativas é habitualmente acompanhado de um quadro conceptual que critica e questiona os princípios e práticas vigentes.
Contudo, o cenário de fundo do ensino universitário caracteriza-se, como constata Teodoro, pelo decréscimo da influência e da capacidade de atracção das instituições de ensino superior, o que as leva a sofrer uma crise com vários contornos, designadamente a nível institucional, para o qual são necessárias soluções.
Fundamentalmente motivadas por pressões externas, uma das quais se prende com a necessidade social da aprendizagem ao longo da vida e ainda outras, não menos importantes, a necessidade de gerar mais recursos e diversificar públicos, a Universidade tem procurado diversificar a sua oferta, designadamente através do ensino a distância.
Há ainda o desconforto dos docentes relativamente à questão do imperialismo cultural e económico, americano e eurocêntrico, sobretudo se tivermos em conta os interesses económicos que a educação a distância já envolve.
As preocupações traduzem-se num conjunto de assuntos, tais como as questões linguísticas, a tradição educacional, a percepção de imperialismo educacional, as políticas de certificação, a transferência de creditações e as estruturas de apoio locais.
(a imagem foi retirada de www.gsdln.org/i/index)
sábado, setembro 01, 2007
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