sábado, setembro 22, 2007



De quando em vez, e para refrescar as ideias, gosto de voltar ao


Conceito de aprendizagem, segundo Rogers


e a este belíssimo texto:


Eu quero falar de aprendizagem. Não me refiro a algo estéril, fútil, com que abarrotamos a mente das pobres vítimas presas aos bancos com as algemas metálicas do conformismo! Refiro-me à APRENDIZAGEM, essa curiosidade insaciável que leva o jovem a absorver tudo o que pode ver ouvir e ler sobre os motores a gasolina, para conseguir melhorar o desempenho e a velocidade do seu ' cruzador '. Refiro-me ao estudante que diz “Eu estou a descobrir a partir do que retiro do mundo exterior e do que retiro realmente de mim”. Eu refiro-me à aprendizagem em que a experiência do aprendiz se constrói através de escolhas, de quem aprende dizendo: “Não, não é bem isso que eu quero. Esperem… Estou mais interessado nisto, isto é realmente o que me faz falta… Ah! Cá está! Agora é que eu estou a perceber o que realmente quero e preciso de aprender.

Esta visão interpelativa e radical de Rogers refere-se fundamentalmente à aprendizagem que se constrói a partir de interesses e de necessidades, de escolhas conscientes e autónomas, condições que, neste seu texto justificam uma motivação autêntica e, por isso, simultaneamente intrínseca, porque procede da escolha, e extrínseca porque decorre da necessidade, condições fundamentais, particularmente na aprendizagem dos adultos.

Rogers é provavelmente o pensador em que a aprendizagem mais questiona o ensino, porque é a aprendizagem que marca os ritmos e os percursos e, no trecho que acabo de citar, em que, que de forma tão expressiva esse questionamento surge, estão presentes os artefactos, os símbolos e os processos que informam as tendências teóricas mais recentes.

Neste trecho de Rogers está também explícita a centralidade de um conhecimento activamente construído, em que a linguagem e a mediação têm a primazia, evidenciadas pelo discurso directo do jovem aprendiz e que, mau grado a insistência nas suas diferenças essenciais, nos remete para as duas figuras tutelares das mais recentes teorias da aprendizagem: Piaget e Vygotsky:reconheço que os enfoques são diferentes, mas muito há a aprender com ambos, provavelmente mais na sua complementaridade do que nas suas diferenças epistemológicas, como reconheceu o próprio Piaget, ao manifestar o seu pesar por não ter tido a oportunidade de discutir as suas teorias com o já desaparecido Vygotsky.

Na verdade, parece-me que Piaget nunca negou o papel do mundo social na construção do conhecimento, como é evidente, quando comenta que as combinações entre o indivíduo e a sociedade não podem ser tomadas como substâncias permanentes, e reitera que não há necessidade de escolher entre a primazia do social ou do intelecto, uma vez que a inteligência colectiva é o equilíbrio social resultante da interacção das operações que estão envolvidas na cooperação.

O pensamento de Vygotsky valoriza também a centralidade da construção activa do conhecimento, como se depreende da sua afirmação a propósito do discurso egocêntrico:

Actividade e prática – eis os novos conceitos que nos permitem encarar a função do discurso egocêntrico numa nova perspectiva, na sua complexidade… Mas verificámos como o discurso egocêntrico da criança está relacionado com a actividade prática e com o seu pensamento, entidades que operam na sua mente e a influenciam. Por entidades, queremos dizer o real, não uma realidade reflectida passivamente na percepção ou apreendida de forma abstracta. É a realidade que encontramos na prática
(1987, pp. 78-79)

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