Amanhã é dia de sessão pública de poesia da nossa escola e tudo tem de estar afinadinho. A poesia inglesa vai estar presente junto a mim que, contudo, irei dizer um Cesário Verde bem rústico e "anti-burguês". O meu aspie de estimação também vai dizer poema.
Sentámo-nos com dois livros de poesia juvenil inglesa e começámos a folheá-los à procura de algo interessante, desde rimas a trava-línguas havia um pouco de tudo. Líamos à vez, algumas eram bem divertidas e faziam-no rir abertamente.
A tarde, contudo, não havia começado bem. Quando cheguei ao bloco e o vi sentado à minha espera, percebi que havia caso. Como tem uma pele muito branca e fina, quando é acometido irritação, fica com a cara muito vermelha e inchada.
O que se passa?
Entrara de novo em conflito com dois colegas da turma. Combinámos então que eu faria entrar os outros e que o chamaria assim que todos tivessem entrado.
Assim foi. Por debaixo da porta da sala contígua, tinha o corpo escondido com os pés de fora. Lá veio, depois de chamado.
Entrou na sala, mas não abriu o dossiê:
Está estragado. O P e o N. estragaram-mo.
Bom, fazes os trabalhos, que eu vou arranjar-te um dossiê novo.
Como é que eu posso fazer os trabalhos, se não posso abrir o dossiê?
Tens aqui uma folha
Casmurrou
Queres casmurrar? Então, está bem. Eu sento o meu rabo na cadeira e também não te arranjo um dossiê, pronto.
Aflorou-se-lhe um quase-sorriso por causa da quebra do interdito do "rabo" na aula.
Lentamente, como uma crisálida, descasulou, esticou os braços e começou a trabalhar.
Uhmmmm... primeiro, acabas esse exercício e depois é que vou arranjar-te um dossiê... és do Benfica ou do Sporting?
Sporting
Bom, já volto, então... mas só há dossiê se tudo estiver registado, entendemo-nos?
Acabámos a tarde a rir poema. Vamos lá ver como nos sai o amanhã.