sábado, outubro 28, 2006


Mais uma carta minha saída no Público


A Educação na Suécia

Pois é, caro colega Ruben. Na Suécia e noutros países europeus, cujos sistemas educativos eu já observei, a expensas próprias, ou através do Programa Sócrates, tudo é muito diferente.
Detenhamo-nos então na Suécia, paremos ali por Östersund, onde estacionei por algum tempo e pude apreciar o profissionalismo, a urbanidade, o civismo dos colegas suecos. Os meios materiais e humanos não seriam muito superiores, mas o conceito era diferente: era diferente a organização do espaço escolar, era diferente a dimensão das Escolas, era-o o conceito de ensino como lugar de aprendizagens muito diversificadas, dirigidas a múltiplas inteligências e não apenas ou predominantemente às inteligências lógico-verbal e matemática, era diferente a forma de gerir os recursos materiais e humanos.
Não era um espírito de poupança somítico-salazarista, era um espírito de poupança que valoriza o esforço produtivo e de quem produz. Por exemplo, no refeitório, eram as crianças que se serviam e eram elas que, depois de comerem, limpavam o seu prato, separavam a sua louça, cumprimentavam o pessoal da cozinha e saíam educada e ordeiramente. Em vez de gritos, havia música ambiente. O Director regional comentava com o grupo português: "o nosso sistema educativo é muito parecido ao vosso, não é?" eu devo ter feito um sorriso muito amarelo ao pensar no comportamento dos nossos meninos nos refeitórios: restos de pão voadores, comida desperdiçada e atirada ao chão, gritaria, maus tratos ao pessoal de serviço, desrespeito aos professores, tal e qual... muito idêntico.
Como é que conseguem manter padrões de qualidade como estes? Perguntei ao representante autárquico. "Sabe, professora. É que nós não temos sigilo bancário." Pois. Quando visitei Östersund , a única pessoa que, em Portugal, falava nisso era o fiscalista meu amigo Professor Saldanha Sanches. Por outro lado, caro Ruben, convenhamos, para aqueles lados, faz um bocadito de frio... ou como dizia a minha querida colega Assunção Caldeira Cabral: "Que bem que se está em Caxias..."
(Publicaram a carta até à palavra frio, mas Assunta, o que nos divertimos com aquela de eu, no Aeroporto, trocar a mala com a psiquiatra sueca que media quase 2 metros de altura e usava roupas de late Summer, enquanto eu ia equipada para o rigor Invernal... e as meias do colega Britânico, quando se descalçou em casa do colega sueco? Disgusting! Na Suécia, em finais de Outubro, a temperatura já era de 2 graus negativos; quando regressámos, estavam 25 graus em Lisboa. Ironizei, dizendo que ia apanhar uma grande gripe. Então, não é que apanhei mesmo? O postal de Östersund já estava um pouco fanado, mas lá saiu com uns retoques do photoshop. O lago já estava congelado e deslocávamo-nos sobre ele de um lado para o outro da cidade, no jipe do colega sueco que, como tu, já era avô, lembras-te? Chamava-se Jassel. Em Östersund também há um grande monstro do lago: o Storsjöodjuret, mas não chegámos a avistá-lo).

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