Against the wind
Deve ser da conjuntura astral: em algumas coisas parece que esta semana estou algo "running against the wind".
Vem isto a propósito da entrevista que o escritor António Lobo Antunes dá à revista do Público de hoje. O cavalheiro afirma que está cada vez mais autista.
O autismo é uma condição neurobiológica que envolve grande sofrimento para o próprio e para os que o amam e com ele têm de lidar.
Do cavalheiro se sabe que agride os outros de uma forma deliberada e acintosa. Lembro-me de várias situações que presenciei, uma delas num dos auditórios do Concelho. Maria Alzira Seixo, uma das mais entusiastas estudiosas da sua obra tinha acabado de ter um incêndio devastador na sua casa - quem a conhece sabe como as suas coisas são importantes, não apenas, nem principalmente, do ponto de vista material para ela- mas nem por isso deixou de comparecer à sessão para que havia sido convidada e, primorosamente, fez uma deambulação deliciosa sobre a obra do escritor, de tal modo que dei comigo a pensar "O que é que eu estou a fazer nas Ciências da Educação? Porque é que eu não segui os conselhos do meu saudoso Professor Moser e fiquei na Universidade a estudar Shakespeare?" (Durante a preparação do doutoramente crises destas são normais). Quando AS terminou, desculpou-se com os múltiplos afazeres que o desastre lhe impunha e retirou-se.
Pois bem, o cavalheiro homenageado, num gesto da mais pura e elementar má criação fez um daqueles seus comentários pretenciosamente blasés, tipo: esta é outra capaz de andar à pancada pela minha obra.
Um dia destes, o cavalheiro veio aqui à biblioteca de Oeiras preparar o lançamento do seu novo livro: o edifício é mesmo em frente de nossa casa e o Jorge, seu indefectível, foi. Felizmente eu estava demasiadamente cansada e fiquei em casa.
O Jorge lá lhe levou umas primeiras edições para ele assinar, ele lá comentou que algumas já eram valiosas e conversa, puxa conversa, o Jorge disse-lhe que fora colega da sua primeira mulher. Ao que o cavalheiro respondeu que só tivera uma mulher. É pena que só o reconheça agora, depois dela ter morrido. Então e aqueles scarecrows coloridos que ele exibe e em que pendura a dispneia tabágica e o tremor (etílico?).
Ser autista é uma coisa, ser mau é outra. Neste último caso o sofrimento só tem um sentido.
domingo, outubro 29, 2006
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