domingo, outubro 22, 2006

Lev Vygotsky (1896-1934) "o Mozart da psicologia"

Greve, dia II: confirmação

"Vai-te embora porca, que hoje é dia de greve dos professores" – esta foi a frase que me acolheu pela manhã, já no recinto escolar.
Bom, reflicto com calma, tenho 54 anos, síndrome metabólico, quiçá decorrente da minha vida sofrida, por muito que malhe duas horas por dia estou com excesso de peso, mas tenho muito cuidado com a minha aparência: visto-me e penteio-me com cuidado, maquilho-me a condizer. Porca, porca, não hei-de parecer…
Volto-me fleumaticamente para o jovem: já mais alto que eu (não é preciso muito, admito) bonito, moreno, esguio, muito “morangueiro”. Identifico-me primeiro – cumpro praxes que não estando escritas deviam estar – e, sem sinal de censura ou zanga, peço-lhe a sua identificação; recusa-se arrogantemente por diversas vezes. Solicito-lhe o cartão de aluno. Perante a minha insistência serena, mas firme, lá acede contrafeito e com maus modos: Tome lá! Chego à sala de professores e peço ao Presidente que o admoeste. Desata aos gritos (donde é que eu conheço este padrão de homens a gritarem com mulheres? Será de Marte? Sim, é verdade, eu sou marciana!) O cavalheiro há anos que não lecciona e leccionar obriga-nos a tomar dezenas de microdecisões da mais diversa natureza a cada instante, e aos gritos me diz que participe por escrito.
Respondo que sim senhor, que nisto das interacções, quem grita é porque tem razão, e retiro-me para a minha aula, durante a qual tenho interrupções várias de alunos que abrem, fecham, dão murros nas portas, gritam, tal e qual como em Marte e nos países europeus que visitei particularmente ou ao abrigo dos programas europeus de mobilidade docente.
Voltando o “moranguinho” – lá fiz a participação por escrito e lá disse ao Presidente, em público, e com voz pausada, que não voltasse a gritar comigo. Que não era bem gritar, argumentou, que era assim como que o seu “modo de falar”… “Então…”, retorqui “peço-te que comigo mudes o teu modo de falar, sim?” e retirei-me.
Devo dizer que o jovem já me pediu desculpas e que eu já as aceitei; e que também já me veio pedir que retirasse a queixa, ao que eu lhe respondi que a retirarei quando o Presidente mo pedir por escrito.
Agora pergunto: porque é que há jovens que, dentro das Escolas, dão murros nas portas, se passeiam pelos corredores como hordas, dizem palavrões e chamam nomes às professoras? Será que eu tenho um cérebro de 4 anos? Houve quem dissesse - e eu acredito - que tudo se pode ensinar a uma criança, desde que o seja feito de uma forma intelectualmente honesta. Ora, sou toda ouvidos!

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