sexta-feira, outubro 27, 2006

Da importância da família




Figuras tutelares: o avô Manuel e a avó Palmira

Quando, aqui há três anos, fiquei a saber que o meu filho mais velho era diabético insulino-dependente, telefonei à minha tia Celeste, a guardadora das memórias familiares e pedi-lhe:
- Tia, manda-me aquela fotografia em que eu estou no meio do avô e da avó, com o bibe da branca-de-neve e os sete anões, que tu me bordaste.
Um dia depois, a cópia da fotografia chegava-me por carta, comprei-lhe uma moldura, pu-la aqui bem perto da minha mesa de trabalho e continuei a trabalhar na minha tese de doutoramento. Escrito assim até parece simples.
Quando a adversidade nos entra vida dentro, que fazemos? Procuramos as nossas traves mestras – é preciso que elas estejam lá para aguentarmos a tormenta.
De onde nos vem essa resiliência excluindo, naturalmente, as características individuais? Essencialmente da família e das figuras parentais. Por razões diferentes perdi os meus pais cedo, mas tive a sorte infinita de ter essas figuras de substituição que foram os meus avós Palmira e Manuel (não digam nada a ninguém, mas tinha também os meus tios Maria Celeste, que me bordava os bibes, a Maria Teresa que, sendo a mais nova era a compincha, e o Luís Filipe que, sendo militar da Força Aérea ficava muito lindo de farda e sendo maluco por motas, me levava a andar na sua BMW a alta velocidade! - Foi um pai exigente e difícil, mas inexcedível em brio e dedicação).
Eu valorizo muito o papel da Escola na educação da juventude (penso que já o deixei ficar medianamente claro), mas estou em crer que é na FAMÍLIA que se joga o grande snakes and ladders da vida.
A família modela as práticas de socialização, de comportamento individual, o estilo de resolução de conflitos, a escolha dos pares, as opções de vida, se analisarmos bem as coisas.
É na família que o jovem aprende a lidar com os factores de stresse, é a família que tem um papel essencial em proporcionar ao jovem as influências ambientais favoráveis ao seu crescimento pessoal e relacional, é na família que aprendemos a construir relações de confiança, a desenvolver expectativas positivas, a nutrir sentimentos de pertença, é a família que apoia as nossas decisões críticas; a família é a guardiã da nossa memória.
Às vezes são intrometidos? - Sim. Telefonam às horas mais inconvenientes, com os assuntos mais abstrusos? “- Sim: Oh Linoka, como é que congelas a abóbora?”, “Espera aí tia, que estou aqui com uma estatística e já te telefono, está bem?”.
Mas são sempre o nosso último reduto. Primo Rogério! Vens cá amanhã almoçar connosco? (adoramos trocar picardias...) Traz a Fátima! E as fotografias de Macau, e do Camboja, e do Vietname, e do Laos e...!(Este pessoal da Justiça tem cá uma vidinha... E ainda tratam mal o Ministro! Também, há uns 30 anos que o conheço e sempre teve aquele arzinho que quem está sempre a apanhar...)

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