quarta-feira, março 19, 2008


Para que me oiças
as minhas palavras
adelgaçam-se às vezes
como o trilho das gaivotas pela praia.

Colar, cascavel ébrio
para as tuas mãos suaves como as uvas.
E olho-as distantes, minhas palavras
Mais que minhas, são tuas
Crescem, como hera, presas à minha dor antiga.

Trepam assim pelas paredes húmidas.
Num jogo sangrento cuja culpa é tua
Fogem da minha guarida obscura
preenches tudo, tu, tudo preenches.

Antes de ti, povoaram a solidão que ocupas,
e estão mais acostumadas que tu à minha tristeza

Agora quero que digam o que quero dizer-te
Para que tu oiças como quero que me oiças.

O vento da angústia pode ainda arrastá-las.
Tempestades de sonhos ainda as tombam
escutas outras vezes a minha voz dorida.
Pranto de velhas bocas, sangue de velhas súplicas.


Ama-me companheiro. Não me abandones.
Segue-me.
Segue-me companheiro, nessa vaga de angústia.
Porém, do teu amor se vão tingindo as minhas palavras
Ocupas tudo, tu, tudo ocupas.

Vou fazendo de todas um colar infinito
para as tuas mãos brancas, suaves como as uvas.


Pablo Neruda (a tradução é minha)

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