Métodos de investigação em educação
A entrevista
Asking questions and getting answers
is much a harder task than it may seem at first.
(Fontana & Frey, 1994: p. 361)
A entrevista é uma das formas mais comuns de recolha de dados para compreensão do comportamento humano. Através da entrevista, podemos delimitar sistemas de representações e valores.
Através do contacto directo com os seus informantes, o entrevistador recolhe as suas percepções, interpretações e experiências.
A entrevista pode ter tipos, graus de estruturação, duração e objectivos diversos. O grau de estruturação depende da margem de liberdade a atribuir, quer ao entrevistador, quer ao entrevistado.
A estruturação da entrevista é definida por quem conduz a investigação, tendo em conta o seu objectivo, cabendo-lhe igualmente definir o grau de liberdade do seu interlocutor e optar por um dos diferentes tipos de entrevista - estruturada, semi-estruturada e não-estruturada.
Esta metodologia de recolha da informação exige uma preparação cuidadosa, para que os dados recolhidos sejam relevantes. A informação recolhida tem de permitir a análise dos dados recolhidos.
O guião da entrevista deve conter os tópicos e a sua sequência. No caso da entrevista semi-estruturada, devem ser indicados os tópicos e as perguntas possíveis. Poder-se-á estabelecer uma sequência prévia das perguntas ou optar por um maior grau de liberdade do entrevistador, em que ele segue a linha de respostas do entrevistado. Alguma espontaneidade favorecerá a produção de respostas mais autênticas, enquanto a entrevista mais estruturada facilitará o trabalho de análise.
Quanto ao método de análise a adoptar quando se procede à categorização de respostas, é necessário clarificar constantemente o seu significado, em relação às categorias a utilizar posteriormente.
Cada pergunta pode ser avaliada do ponto de vista temático, na sua relevância para a investigação, e do ponto de vista dinâmico, na sua contribuição para uma boa interacção entre entrevistador e entrevistado.
A conversação deve fluir, de forma a motivar os entrevistados a falarem dos seus sentimentos e experiências e, nesse sentido, as perguntas deverão ser de fácil compreensão e desprovidas de jargão académico. As questões de investigação devem ser traduzidas em perguntas coloquiais, para que possam produzir informação variada e boas descrições.
A qualidade de uma entrevista contribui decisivamente para a qualidade da análise, da verificação e do relatório que se lhe seguem. Kvale (1996, p. 145) enuncia alguns critérios de qualidade, de que se destacam:
- a quantidade de respostas espontâneas e relevantes,
- a existência de respostas longas para perguntas curtas,
- a exploração, por parte do entrevistador, de aspectos importantes das respostas,
- a clarificação, por parte do entrevistador, das suas interpretações das respostas produzidas pelo entrevistado,
- o grau de comunicabilidade da entrevista.
A entrevista semi-estruturada tem perguntas características. As perguntas descritivas permitem ao informante fazer declarações sobre a sua actividade. As perguntas estruturais procuram determinar como é que os informantes organizam os seus conhecimentos e o aprofundamento de pontos mais pertinentes, no que diz respeito às hipóteses. As perguntas de contraste permitem aos informantes discutir o significado das situações. É um tipo de pergunta que nos permite progredir na investigação e que é utilizada sobretudo para recolher informação factual e verificar hipóteses já relativamente elaboradas.
Durante uma entrevista há a considerar quatro momentos essenciais.
O primeiro momento, tem por objectivo a legitimação da entrevista. Cabe ao entrevistador criar um ambiente sereno e confiante que permita ao entrevistado vencer as suas apreensões. É também neste momento, que o entrevistador recorda o que ficou acordado com o entrevistado, aquando da marcação da entrevista: o objectivo da investigação, o quadro institucional em que se realiza, os critérios de selecção dos entrevistados, em que medida o entrevistado se enquadra nesses critérios. São igualmente acordadas as formas de citação das declarações do entrevistado e é combinada a metodologia de revisão do texto da entrevista.
O segundo momento coincide com o início da entrevista, para o qual deve ser seleccionada uma pergunta introdutória que coloque o entrevistado perante o problema central do estudo e seja um elemento organizador do seu pensamento sobre o objecto evocado. Começar por uma questão ampla permite compreender como o tema se organiza no pensamento do entrevistado e qual o papel que nele ocupa.
O terceiro momento constitui o corpo da entrevista. A entrevista semidirectiva tem de responder a duas exigências: a pertinência do material a recolher relativamente ao objecto do estudo e a apreensão, tão fiel quanto possível, do pensamento do entrevistado.
A primeira exigência é apoiada pelo guia da entrevista, a segunda apoia-se em intervenções incitativas, destinadas a estimular a continuidade do discurso do entrevistado.
O quarto e último momento da entrevista visa recolher informação não prevista ou não solicitada anteriormente e que seja importante para o entrevistado. É neste momento que o entrevistador procura obter as reacções do entrevistado, à entrevista, ao tipo de trabalho e ao entrevistador e recolhe sugestões acerca de aspectos a incluir na entrevista. No final, e para concluir, o entrevistador agradece a disponibilidade do entrevistado e valoriza o seu contributo.
Foddy, W. (1996). Como perguntar - Teoria e prática de construção de perguntas em entrevistas e questionários. Oeiras: Celta.
Fontana, A. & Frey, J. H. (1994). Interviewing: the art of science. In N. Denzin Y. Lincoln, Handbook of qualitative research (pp. 361-376). Newsbury Park: Sage.
Kvale, S. (1996). InterViews: an introduction to qualitative research interviewing. Sage: Thousand Oaks. London, New Dehli.
quinta-feira, março 20, 2008
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4 comentários:
Procurei este livrito... desaparecidinho do mundo das aquisições. Comprei o original. :)
Enfim...
Bom encontrar aqui as tuas sínteses...
Beijinhos
Falava do Foddy...
POr acaso não tens um da Isabel Lopes da Silva... em torno da Investigação-acção? ...
Eu não tenho o da Isbael Lopes da Silva, mas há em Psi. Ainda guardo o velho hábito de estudante com pouco dinheiro
:)
e este não fazia parte da minha biblioteca fundamental.
:) Ela (Isabel) vai lá no dia 2... como "o meu negócio" é investigação-acção e o de mais umas colegas também... a Gui lembrou-se que seria interessante. Estou curiosa. Aguardarei (tenho aqui livros mais recentes e de "ponta" sobre o tema. É o que dá não ter filhos e o marido estar fora há quase um ano... só poupança... salvo seja... gasto o que poupo em livros!!! Ui! :) Beijinhos
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