quinta-feira, março 27, 2008

Métodos de Investigação em Educação


O questionário (2)


Na preparação de um questionário há que tirar partido das suas vantagens (custos mais baixos, amostras mais representativas, uniformização, privacidade) e que procurar reduzir os problemas da má interpretação, da falta de respostas e de validade das respostas.

A redacção de um questionário deve parecer uma troca de palavras tão natural quanto possível (Ghiglione & Mathalon, p.112), pelo que as questões devem ser encadeadas de forma a fazerem algum sentido para os inquiridos.

A ordem de colocação das perguntas é igualmente importante: depois de responder a parte do questionário, o inquirido consegue descortinar a lógica e eventualmente os valores subjacentes.

A reflexão sobre o tema induzida pelo processo de resposta, gera uma certa familiaridade com o tema, que pode influenciar as opiniões dos inquiridos.

As primeiras perguntas dão a indicação do estilo do questionário, sendo por isso preferível começar por questões que motivem para as respostas que se seguem.

Quando o questionário incide sobre vários temas, o agrupamento temático tem vantagens e inconvenientes: por um lado, dá aos inquiridos a sensação de coerência e, por outro, quando se trata de recolher opiniões, a preocupação de responder coerentemente, pode gerar alguns enviesamentos.

Quando as perguntas são agrupadas, o risco de enviesamento pode ser neutralizado pela alternância de enunciados favoráveis e desfavoráveis, o que induz o inquirido a prestar a cada questão uma atenção particular. Para evitar a monotonia, há que variar a forma das perguntas.

Uma outra preocupação a ter na elaboração de um questionário é com a sua concisão. Esta preocupação evita questionários demasiadamente longos, susceptíveis de fatigar os inquiridos, com efeitos negativos no número de respostas válidas.

Há então que definir e precisar a informação que se pretende obter e fazer um esforço para a obter através do menor número de perguntas possível. Assim, cada pergunta deve corresponder a uma necessidade de informação.

Quanto ao conteúdo, existem duas grandes categorias de perguntas: as perguntas factuais (ex.: "Os conteúdos do curso estavam sistematizados") e as perguntas de opinião, i.e., relativas a opiniões, atitudes e convicções (ex.: " As novas tecnologias não trazem grande novidade à abordagem do currículo").

As perguntas podem ainda distinguir-se, quanto à forma, em abertas e fechadas. Nas perguntas abertas, o inquirido redige frases, utiliza o seu vocabulário e faz os comentários que considera pertinentes. Nas perguntas fechadas, para além da pergunta, é fornecido ao inquirido um conjunto pré-determinado de opções de resposta, sendo-lhe pedido que opte pela resposta que mais se aproxima da sua.
As perguntas de resposta fechada facilitam a leitura e a comparação das respostas, uma aplicação mais rápida e um tratamento mais sistemático.

As perguntas devem ser elaboradas de forma a poderem ter idêntico significado para todos os inquiridos.As perguntas devem ser redigidas com clareza, sem simplismos excessivos e com vocabulário familiar aos inquiridos, de modo a minimizar as ambiguidades.

A consciência de que a forma como a pergunta é redigida, afecta a resposta, leva-nos a cuidados de formulação e de discussão do seu significado com os informantes, de modo a obter respostas mais fiáveis e consentâneas com os objectivos da investigação.
Quando se torna difícil traduzir em linguagem corrente um conceito científico é possível recorrer a várias sub-questões, abrangendo cada uma delas um aspecto da definição do conceito.

As perguntas devem ser curtas: as perguntas longas tendem a tornar-se ambíguas e desconcertantes. Ao tentar compreender uma pergunta longa, o inquirido pode excluir uma cláusula e assim alterar o significado da resposta.

Cada pergunta deve estar limitada a um ideia ou conceito. Uma pergunta com mais de uma ideia pode confundir o inquirido.

É recomendada a inclusão de perguntas para verificar a exactidão e a consistência das respostas. A investigação sugere que se coloquem formulações da mesma pergunta em partes diferentes do questionário: respostas diferentes indiciam alguma falta de validade e podem obrigar o investigador a excluir os questionários em que tal se verifique. A adopção desta medida tende porém a alongar o questionário, pelo que as vantagens do procedimento devem ser devidamente ponderadas.

Uma referência:

Kline, P. (1986). Handbook of test construction. London: Methuen.

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