segunda-feira, março 24, 2008

Autobiografias



Há já alguns anos dirigia eu uma Escola, em que um menino resolveu fazer um grande disparate. Seguiu-se-lhe o consequente processo disciplinar e a decisão, em Conselho Pedagógico de Abril, de que o menino seria suspenso da Escola por um tempo que se prolongaria pelo ano lectivo seguinte.

Em Agosto, durante as férias lectivas de Verão, fui chamada à então Direcção-Geral de Educação, onde fui atendida por uma docente deslocada para o Serviço, com um recado do Sr. Director-Geral, aconselhando-me a reduzir a pena determinada pelo Conselho Pedagógico.

Naturalmente, aleguei que não estava em condições de reduzir uma pena determinada pelo Conselho Pedagógico, numa altura em que não era possível reuni-lo, já que alguns professores já não estavam ao serviço da Escola; aleguei igualmente que, tendo a pena sido decidida também por mim, na qualidade de Presidente do dito Conselho, essa era mais uma razão pela qual me não dispunha a reduzir a pena.

Insistência na redução da pena, por parte da referida Direcção, a que eu respondi que a simples solução seria eu sair pela porta por onde o menino entrasse, isto é, demitir-me.

O menino acabou por ser transferido para uma Escola próxima e eu fiquei no meu lugar.

Nos dias de hoje, é possível que o desfecho tivesse sido outro, isto é, que a Direcção Regional entendesse que o menino ficaria mesmo na Escola.

A solução implicaria necessariamente a minha demissão. Não poderia ser de outro modo.

Quando, na Escola, as decisões são bem fundamentadas, as Direcções Regionais não devem contrariá-las, porque fazê-lo corresponde a uma desautorização da Escola. E também não há razão alguma para que qualquer recurso suspenda uma decisão disciplinar, uma vez que a Direcção da Escola tem autonomia para aplicar suspensões preventivas até que o caso se resolva, de um modo ou de outro.

Portanto, a cada um, o seu dever, as suas responsabilidades, os seus direitos, assumidos com convicção e inteireza de princípios. É nisto que se baseia uma sociedade coesa e justa.

4 comentários:

Teresa Martinho Marques disse...

Aconteceu-nos no ano anterior. O menino saíu. Foi para outra escola. Depois... a decisão foi alterada e ele... voltou. Supões as consequências... desautorização completa. Herói aclamado. Tristezas. Depois admiram-se.

Paideia disse...

3za, a bola ficou do v/ lado. Como é que a jogaram?

joao de miranda m. disse...

"É nisto que se baseia uma sociedade coesa e justa."
Totalmente de acordo. Baseia-se nisto, e também no perdão, sempre, até se manifestar impossível perdoar.
joao de miranda m.

joao de miranda m. disse...

...Mas quando o castigo tiver que vir, que venha sempre justo e pedagógico, mas forte e inabalável.