sexta-feira, março 21, 2008


Métodos de investigação em educação

A observação

A observação directa capta os acontecimentos, no momento em que ocorrem sem a mediação de outras formas de recolha de dados.
Incide sobre os comportamentos, captando padrões de comportamento individual e de interacção, assim como os fundamentos ideológicos e culturais que os motivam.
Assim, o observador tem de estar atento e registar a manifestação dos comportamentos, a sua evolução e os efeitos que produzem nos contextos em que se manifestam. O campo de observação do investigador é bastante amplo e o registo dos dados faz-se em função dos objectivos definidos para a observação, para o que é útil construir uma grelha de observação.
A maior parte dos dispositivos de observação situa-se entre duas modalidades de observação - participante e não-participante.
Na observação participante, o observador pode solicitar esclarecimentos a qualquer dos intervenientes, quando entender necessário, beneficiando assim do relacionamento e da confiança já estabelecidos.
Por outro lado, a participação directa nos trabalhos contribui para criar laços de empatia e de cooperação, que favorecem uma maior espontaneidade nas relações e, consequentemente, a recolha de dados mais ricos e autênticos.
A validade da recolha de dados ganha com a preocupação, por parte de quem os recolhe, de não perturbar o fluir das situações e das relações e de fazer o seu registo cuidado e rigoroso.
Este método é particularmente adequado à análise dos comportamentos não-verbais e dos códigos que lhes estão associados.
O registo in loco das situações completa outros métodos e são-lhe atribuídas algumas vantagens, designadamente, a apreensão directa do comportamentos e das ocorrências, a espontaneidade do material recolhido e a autenticidade dos acontecimentos.
Reconhecem-se-lhe contudo algumas limitações, que incluem a dificuldade de "adopção" do observador pelo grupo observado e as que se prendem com o registo. Se o registo efectuado no momento das ocorrências pode induzir os observados a comportamentos de inibição e de auto-censura, o registo a posteriori coloca problemas que se prendem com a memória dos factos e o seu carácter selectivo.

Bogdan, R. & Biklen, S. (1992). Qualitative research for education. An introduction to theory and methods. Boston: Allyn and Bacon.
Erickson, F. (1986. Qualitative methods in research on teaching. In M.C. Wittrock (Ed.), Handbook of research on teaching, New York: Macmillan.
Mertens, D.M. (1998). Research Methods in Education and Psychology. Sage: Thousand Oaks. London, New Dehli.
Miles, M.B. & Huberman, A.M. (1994). Qualitative data analysis: A sourcebook of new methods. Sage: Thousand Oaks, CA.

3 comentários:

joao de miranda m. disse...

Das dificuldades apontadas resulta a ineficácia da observação directa. Uma avaliação feita sobre episódios comportamentais, pelo menos se se pretender retirar dela componentes sumativas, falseia resultados sobre os saberes, valores e competências adquiridos, visto que avalia o que já é e não aquilo em que se pretendeu transformar. Uma avaliação processual não se faz sobre o que existe a priori, mas sobre a diferença mensurável entre os comportamentos de partida e os adquiridos no final dos processos de aprendizagem. Avalio não o que já se é, mas o que pretendo que se seja. Ou não será assim?

Sempre atento ao blogue,
joao de miranda m.

Paideia disse...

João de Miranda, a observação visa recolher dados descritivos, sobretudo sobre os processos. É, aliás, uma das estratégias de recolha de dados mais utilizadas em investigação educacional, sobretudo aquela que radica na etnografia; a partir dela, ou combinadas com ela, existem outras estratégias de recolha da informação, a partir da qual se podem estabelecer as hipóteses de investigação e partir para estratégias de natureza confirmatória.

Pessoalmente, gosto de combinar as duas formas de investigação, uma mais descritiva, a outra mais quantitativa, mas a selecção das estratégias depende, naturalmente, das perguntas de investigação. Se a pergunta é "como", estamos perante uma investigação que requer uma abordagem qualitativa.

joao de miranda m. disse...

Obrigado pelo esclarecimento. Porém, a minha fraca aceitação das estrat+egias de observação directa remetem-se apenas ao seu uso na sala de aula com o fim de avaliar aluns dos ensinos básico e secundário, em componentes como compreensão e produção orais em LE, bem como as componentes de aprendizagem não cognitivas.