domingo, dezembro 02, 2007

Sobre a zona de desenvolvimento próximo de Vygotsky e algumas interpretações (aparentemente) excessivamente instrumentais que surgem na investigação portuguesa



O conceito de ZDP é central do pensamento de Vygotsky.Contudo sempre me fez alguma confusão a interpretação de alguns teóricos, que se repercute na literatura nacional, eventualmente como resultado das dificuldades de acesso aos textos originais ou a boas traduções deles, sobretudo no que diz respeito a algumas aproximações que me parecem excessivas ao conceito de scaffolding, de Bruner.

Ora aquilo que Vygotsky afirma, no dizer dos seus melhores tradutores, é que

"A zona do desenvolvimento próximo é a distância entre o nível de desenvolvimento actual, determinado pela resolução independente de problemas e o nível de desenvolvimento potencial, determinado pela resolução de problemas com a ajuda de um adulto ou em colaboração com pares mais competentes" (Vygotsky, 1978:86).
E ainda:
"O que uma criança é capaz de fazer com uma ajuda exterior é mais indicativo do seu desenvolvimento mental do que o que ela é capaz de fazer sozinha" (Vygotsky, 1978:85)

E ainda:

"A zona do desenvolvimento próximo envolve um conceito de prontidão para aprender, que enfatiza níveis superiores da competência. Estes limites superiores não são imutáveis, estão, pelo contrário, em mudança constante, à medida que a competência independente vai aumentando.
O que uma criança é capaz de fazer hoje com ajuda, é capaz de o fazer amanhã de forma independente, preparando-se para uma colaboração mais exigente.
Estas funções são mais as raízes que os frutos do desenvolvimento. O nível de desenvolvimento actual caracteriza o desenvolvimento mental retrospectivamente, enquanto a zona de desenvolvimento próximo caracteriza o desenvolvimento mental de forma prospectiva."
(Vygotsky, 1978:86-87).


Um dia, já la vão mais de dois anos, coloquei esta questão a Alexander Surmava, então director do Instituto Vygotsky de Moscovo. Trocámos alguns emails em Inglês, que era a língua de mediação possível e uma das em que eu havia lido Vygotsky, num dos quais, o Alexander me escreveu:

"From my P.O.V. it (referindo-se ao conceito de scaffolding)distorts the Vygotsky’s idea of the zone of proximal development.

It has some instrumental taste whereas the phenomenon of ZPD is something spontaneous. I’ll comment what I mean.

Once I’ve met with the difficulty in understanding of a poem. I read it time and again but it left me cold. It was rather strange for me because I remembered that I liked it earlier when I heard it in the theatre. So I tell about this incident to one of my older friends – the person of high culture. And she asked me to read this poem to her. I did it and... understand everything.

I mean – she did nothing to help me, she was only present. And it was sufficient for ZPD taking place.

I’m strongly suspect that in original Russian text of Vygotsky there is nothing of the kind.
Best wishes,
Alexander (Sasha) Surmava"

Na verdade, o que a amiga do Alexander fez, foi somente sugerir-lhe que voltasse a ler o poema em voz alta. Como "pessoa de grande cultura", ela sabia que a sonoridade do poema o tornava mais inteligível, pelo que foi isso que sugeriu: Lê o poema em voz alta. O Alexander lembrava-se de que havia gostado do poema quando o havia ouvido, mas, relendo-o sozinho não foi capaz de interiorizar o seu alcance. E foi na sonoridade, sugerida pela "pessoa de grande cultura", que o Alexander completou o puzzle da compreensão da intenção do poema.

4 comentários:

Glicéria Gil disse...

Olá,
Fiquei curiosa... porque nunca me tinha debruçado efectivamente sobre esses dois conceitos, ZDP e o scaffolding. O que é que encontrou na literatura nacional que a fez reflectir sobre este assunto?
Parabéns pelo blog.É um prazer ler os seus posts.

Anónimo disse...

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Paideia disse...

"O que é que encontrou na literatura nacional que a fez reflectir sobre este assunto?"
São sobretudo estudos que têm como referencial teórico as comunidades de prática e de aprendizagem.

Glicéria Gil disse...

Obrigada.