quinta-feira, dezembro 27, 2007



Reformar a formação de professores: muitas oportunidades e uns quantos riscos


Que todo o sofrimento e humilhação infligidos aos professores por este governo e os seus responsáveis tenham pelo menos a vantagem de introduzir reformas na formação de professores: para mim, que sou pouco dada a crises de auto-estima, terá valido a pena.
Melhorar a qualidade do ensino, entregar a formação dos professores às instituições mais capazes, criar espaço para a investigação em educação em Portugal, tornar essa investigação num recurso de saber para formar um corpo de conhecimento que ajude a melhorar os níveis de qualidade, para melhorar os currículos, para que possamos reflectir e documentar as práticas, são oportunidades que não podemos perder. Mas o clima que se vive permite antecipar uma quantas tendências equivalentes a uns quantos riscos.

A primeira tendência reside em considerar a qualidade dos professores como factor determinante no sucesso dos alunos, com o risco de poderem vir a ser ignoradas outras variáveis complexas.

É verdade que existem sinais de que outras variáveis estão a ser equacionadas, designadamente a da liderança, mas problemas graves que minam o nosso sistema educativo, particularmente de falta de equidade e de igualdade de oportunidades, que colocam um peso imenso nas variáveis sócio-demográficas e geram abandono escolar precoce e desqualificado, não podem ser ignorados ou menosprezados, porque não há eficácia sem equidadade.

Um outro risco prende-se com um fenómeno cíclico e pendular, que é procurar transformar a escola numa fábrica de produção de força de trabalho.A Escola, mais especificammente a Escola do Século XXI, é muito mais que isso. A crescente complexidade da vida económica e social criou novas necessidades cognitivas aos cidadãos, aos quais são exigidas novas capacidades de pensamento crítico e de resolução de problemas.

Um outro risco, com indicadores sociais diversos, tais como a febre dos rankings, consiste em reduzir a qualidade da educação aos resultados obtidos nos exames nacionais. Ora, há mais vida na educação para além dos resultados dos testes e dos rankings das escolas: a democracia exige que a Escola produza cidadãos críticos e participativos

4 comentários:

O Meu Mapa disse...

"Que todo o sofrimento e humilhação infligidos aos professores por este governo e os seus responsáveis tenham pelo menos a vantagem de introduzir reformas na formação de professores: para mim, que sou pouco dada a crises de auto-estima, terá valido a pena."

Teria valido a pena caso o Ministério da Educação não se tivesse encarregado de "parir" o Decreto-Lei 43/2007, de 22 de Fevereiro, que estabelece o regime jurídico da habilitação profissional para docência, e que, é minha convicção, a história se encarregará de demonstrar que foi um dos mais perniciosos documentos legais que foram produzidos para a educação em Portugal.
A este propósito sugiro-lhe que leia, caso não o tenha feito já, o excelente artigo do Prof. Carlos Ceia sobre esta matéria em http://www.fcsh.unl.pt/docentes/cceia/Educacao/que_profs_formar.pdf.

JMA disse...

Concordo com a abordagem genérica que faz. Mas não há qualidade de ensino (nem boa formação) com profissionais humilhados, social e parentalmente desconsiderados. Creio que ainda se não avaliou bem os danos colaterais desta política.

Paideia disse...

Edição 2007/2008, já li o texto que refere; estou cada vez menos impressionável com a superprodução legislativa, confesso.
JMA, trata-se de um mero apontamento, quanto aos danos colaterais, penso que já os terei abordado quase todos, directa ou indirectamente; esperemos pelos que o mês de Janeiro nos trará. E todo o mal tem remédio...

JMA disse...

Lá isso é verdade. Abraço.