domingo, novembro 18, 2007


Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio



Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimentos demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

Ricardo Reis

5 comentários:

JMA disse...

Bela escolha, de uma alegria triste!

Paideia disse...

Sim. Talvez melancolia; um humor "merencórico" de que falava D. Duarte.
:)

Teresa Martinho Marques disse...

Gosto desta melancolia... merencoria? E... gostava de te ter por perto para conversar (coisas de mestrado)... à beira do lago, podia ser, pois sobrecarregam tanto os stores universitários que tenho imensas dúvidas e sinto-me profundamente só com elas sem conseguir que alguém tenha tempo para me ouvir ( a G é uma querida mas tenho pena dela com tudo o que tem em mãos neste momento, a que se acrescentam os meus dias sem tempo para nada)... é tamanha a minha ignorância, a falta de prática para lidar com estas coisas estando ausentes tantos pre-requisitos... a falta de tempo para ler o que quero, enfim... perfeccionista como sou e com a falta de tempo com que andamos todos, começo a sentir uma melancolia das grandes, medo talvez de não estar à altura do que desejo e aspiro... pelo menos vim aqui desabafar........ soube bem... sei que estás também em luta acesa com o tempo... mas se morasses por aqui íamos mesmo ao lago beber um café...(mais fácil ser gato em sofá quente eh eh eh) Beijinho

Paideia disse...

Um dia destes vou à faculdade. A G. faz anos na 4ª. feira, dia 28..Em que dias e horas é que v/ têm aulas?

Teresa Martinho Marques disse...

Precisamente... às quartas das 18 em diante... Ontem estava com a G no Gabinete dela a ser "orientada" quando ela me disse que fazia anos! Só que agora a próxima sessão de grupo é apenas dia 19... A de 12 é tutoria e a de 5 não haverá. Vai ser bom ver-te!!! Avisa! Dia 13 há uma conferência por lá... Bjocas