quarta-feira, novembro 28, 2007


O pensamento dialógico e o questionamento socrático

Quando os Professores e os estudantes debatem ideias, interpretam as ideias de um autor através da leitura de textos ou outras formas de apresentação, procuram compreender e organizar os pensamentos para posteriormente os apresentarem, estão a pensar dialogicamente. O pensamento dialógico implica conversação e troca de diferentes pontos de vista ou padrões de referência, várias lógicas, várias linhas de pensamento, vários argumentos e conflituosidade de pontos de vista, o que obriga os intervenientes a avaliarem a robustez e a validade de cada um dos argumentos.
Mesmo quando lidamos com problemas monológicos, necessitamos de pensar dialogicamente, de forma a corrigirmos e encontrarmos o procedimento adequado ou a resposta certa (monológica). O modo de ensino dominante continua a ser bastante influenciado pelo modelo “didáctico”: o professor transmite os conteúdos e o aluno memoriza, num contexto que não dá grande oportunidade ao pensamento dialógico, uma vez que o professor transmite aquilo que o aluno deve saber, numa confusão implícita entre informação e conhecimento. Ora, para que a informação passe a conhecimento, cada indivíduo tem de trabalhar a informação de forma activa, articulando conhecimento, compreensão e justificação. É esta exposição ao pensamento dialógico que prepara os estudantes para um mundo complexo, mutidimensional, conflitual e contraditório.
Se o conhecimento é um objectivo fundamental da educação, parece ser de bom senso que se exercite a capacidade de raciocínio, isto é que se recolha, analise, avalie a informação, se considere diferentes interpretações e teorias. A forma mais frequente de introduzir o pensamento crítico no currículo é através do treino da distinção entre factos e opiniões; todavia a maioria das questões mais importantes não são meras questões de facto ou de opinião, são questões que obrigam ao raciocínio e à reflexão e, nessa perspectiva, não havendo, na maioria das situações, uma resposta “certa”, o professor tem de ensinar os estudantes a lidar com a ambiguidade, a distinguir entre problemas monológicos e multilógicos, conhecer os fundamentos do diálogo socrático, para poder usar e avaliar o pensamento dialógico no desenvolvimento dos conteúdos curriculares.
O pensamento monológico, ligado ao conhecimento factual – a temperatura de fusão de um metal ou uma categoria gramatical, por exemplo – distingue-se do multilógico, que é sujeito a várias respostas possíveis, ainda que nem todas sejam igualmente defensáveis ou racionais: a questão essencial a ter em conta num processo multilógico é a da avaliação do mérito dos argumentos.

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