sábado, novembro 17, 2007




Da explicação dos hábitos


A segunda metade da vida é constituída apenas dos hábitos adquiridos na primeira metade. Dostoevsky,1821 - 1881.
Old habits die hard, Mick Jagger.
A primeira coisa a reformar são os hábitos alheios, Mark Twain, 1835-1910.

O conceito de hábito tem uma forte ligação histórica com o behaviorismo de Watson e de Skinner que, por sua vez, se inspiram em Thorndike e no seu conceito de aprendizagem como uma ligação directa entre um acontecimento físico ou sensorial e a resposta, estabelecendo-se assim uma relação entre um estímulo externo e o seu reflexo interno.

O declínio desta perspectiva psicológica dá-se, já nos anos sessenta, com as críticas de Chomsky e de Mowrer que salientaram a inadequação do behaviorismo radical para explicar fenómenos tão complexos como o da linguagem a uma simples série linear de estímulo-resposta.

À medida que as limitações explicativas do behaviorismo se foram tornando cada vez mais evidentes, a ciência cognitiva retomou alguns princípios do modelo behaviorista, deslocando as causas dos comportamentos do ambiente para processos mentais internos, designadamente para uma hipotética área executiva central (Neisser, 1967).

A ciência cognitiva colocou igualmente em questão a lógica do associacionismo behaviorista, em que as palavras, os objectos ou as representações mentais podem associar-se através de processos em que a percepção de um elemento produz, gera ou desperta o outro, num movimento ascendente.

Tornou-se assim evidente que o associacionismo era uma perspectiva excessivamente mecanicista mecânica e redutora para explicar as complexidades da memória humana.

A ciência cognitiva deslocou então a ênfase para a organização das percepções num sentido descendente.Nos últimos dez anos, a tendência explicativa tem-se encaminhado para uma síntese entre ambas as perspectivas, incorporando elementos behavioristas numa hipótese explicativa de uma acção humana, cuja natureza é inerentemente marcada por objectivos.

Como Bargh e Ferguson (2000) observaram, o modelo cognitivo do controlo executivo flexibilizou-se para incluir o papel causal do ambiente, importado da perspectiva behaviorista.Por exemplo, os modelos cognitivo-sociais dos automatismos podem ser despoletados por estímulos ambientais.

Uma outra ferramenta útil do behaviorismo - a aprendizagem por associação - foi sempre aceite pela ciência cognitiva, em que a formação de associações simples entre o indivíduo e os conceitos explica o conexionismo e outras teorias cognitivas do desenvolvimento de sistemas complexos (Bower, 2000).
Na psicologia social, a lógica associativista constitui a base de muitos dos processos heurísticos mais elementares.
Emerge assim uma perspectiva de síntese que retém os postulados dos mecanismos de estímulo-resposta em diálogo com as hipóteses explicativas dos comportamentos orientados por objectivos.

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