Um encontro feliz
Jota e eu temos os nossos dias, uns melhores que outros. O pior foi o dia em que lhe apliquei pomada para as frieiras no início da aula e ele ficou com as mãos no ar, porque lhe ardiam. "Jota, faz os trabalhos!": "Não posso escrever, s'tora. A pomada que a s'tora me pôs faz-me arder as mãos". E assim permaneceu, mãos no ar, como se eu lhe estivesse a apontar uma pistola ao peito. A situação era caricata, assim vista a distância, mas na altura irritou-me mesmo: guardei a pomada que lhe tinha comprado na mala e nunca mais a tirei de lá. Acabou-se o FRIAX, que ainda por cima me custou uns oito euros. "Eu não lhe pedi nada, a professora é que ma quis comprar!". Ora toma. Hoje dediquei o segundo tempo à preparação do teste. Apontei no quadro todos os exercícios que queria que eles escrevessem de novo, mas o Jota está tão desorganizado, que precisa de ajuda para as tarefas mais elementares, pelo que tive de o chamar para a minha mesa. Voltámos a pôr o caderno todo direitinho, pusémos-lhe folhas novas e monitorizei-lhe todo o processo de revisão. O Jota impava nas suas sete quintas, com os mimos da professora todos virados para ele. Veio logo o outro Jota, o do brinquinho, a querer puxar para si alguns dos meus cuidados e atenções. Pronto, está bem, um pouco de atenção repartida para o Jota do brinquinho. Quando o fim da aula chegou, estavam todos muito cansados de escrevermos tanto. Jota, fiteiro como sempre, exclamou: "S'tora, hoje trabalhei tanto que me dói a mão!" (É uma vítima, o pobrezinho!). "Olha, desaparafusa-a e mete-a no bolso para ela descansar." Há momentos de êxito. E de terna vingança.
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