domingo, março 25, 2007


G e eu, no gabinete de atendimento

Chegou lá meio apardalado, envergonhado mesmo, por ser recebido guia de marcha para o Gabinete de atendimento.
- Então?! Começou mal o dia?!?
- ... (sorriso amarelo)
- O que é que aconteceu?
- Foi a stôra de...
Invariavelmente as respostas a esta pergunta sobre o que aconteceu, começam assim: "foi a stôra que....", "foi o meu colega que...". Nunca começam em "fui eu que..." É o último reduto da dignidade enxovalhada, esta de ser ter sido corrido da aula, a última tentativa de remeter para as outros a responsabilidade.
Lá cumpri o menu, nº. 1 o que tinha acontecido, nº. 2 como poderia ser evitado, nº. 3 quais os comportamentos adequados, tudo muito bem verbalizadinho, como eu gosto.
A coisa não parecia grave, mas foi-o suficiente para ele receber a guia de marcha, pelo que havia que cumprir o figurino.
Mas por detrás deste jovem aparentemente mal comportado, havia certamente o outro, o que também gosta de agradar e de dar a entender que as coisas não estão assim tão más... o melhor é fazer uma observação mais pessoal:
- O meu irmão é seu aluno...
- Ah, sim?!? Quem é?!? Perscruto-lhe o rosto à procura de semelhanças, mas não me dá tempo:
- Aquele a quem a stôra chama Braga...
- Ah! Mas eu não lhe chamo Braga, digo-lhe assim: "Ó Guimarães, porta-se bem! Estás aqui, estás em Braga, que é ali para os lados do Gabinete de atendimento..."
Mas nunca foi preciso ao Guimarães mais novo ter de apanhar transporte para Braga, graças a Deus!
- Bom, digo eu, vou calar-me e deixar-te fazer as tuas tarefas, para cumprirmos o figurino, OK?
- OK.
E debruça-se sobre as tarefas de Português, enreda-se em Camões e eu com vontade de reler também o episódio do Adamastor. El-rei D. João Seguuuuundo!

Não fossem as senhoras lá fora na converseta, muito entusiasmadas com o regresso de uma delas, após a operação ao pé, teríamos os dois mergulhado em silêncio e ficado na paz mais zen, cada um entregue aos seus afazeres, embora me apetecesse conversar com ele - o chamado "tempo de qualidade", em que um adulto não dizendo, demonstra: Aprecio-te como pessoa e valorizo-te, apraz-me conversar contigo.

Boas férias, G! E para o G mais novo também! Dois lindos pares de olhos azuis, que dão uma grande vontade de voar, neste entrar de noite de quarto crescente estrelado.
(Imagem: Reflexíon, mista sobre composto, Lijohan M. López , 2004)

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