quinta-feira, março 22, 2007

Um Conselho Pedagógico que enterra a cabeça na areia
(O pior cego é o que não quer ver...)


Um Conselho Pedagógico recomendou aos departamentos que os professores que leccionam aulas de substituição devem cumprir o plano de aula previamente deixado pelo professor em falta ou desenvolver as áreas temáticas documentadas com dossiês específicos.
Nesta formulação, gostaria de poder assinalar a natureza burocrática da recomendação; ora, não há nada mais errado do que resolver uma questão que é pedagógica e disciplinar de forma burocrática, uma vez que esta fórmula implica a ignorância de dois aspectos essenciais:
1º. A relação pedagógica é, como todas as relações humanas, contingencial. Mais do que isso, é uma relação que comporta um grande grau de incerteza. As soluções para cada situação de aula têm de ser encontradas no contexto em que essa aula se dá e nas relações que é possível estabelecer.
2º. A Escola sofre de um grande problema de indisciplina, particularmente a nível do 3º. Ciclo, mas que se estende já ao 2º. Ciclo através de manifestações esporádicas e (ainda) perfeitamente controláveis que, todavia, é preciso encarar com firmeza e determinação.
Desta circunstância decorre frequentemente que os alunos não aceitam as propostas dos professores, manifestando-se de forma agressiva e ostensiva o seu repúdio pelas aulas de substituição.
Não me cabe a mim avaliar as responsabilidades dos docentes nesta circunstância, alguns dos quais a reconhecem em atitudes erradas assumidas no ano transacto e que se repercutem este ano de forma dramática no comportamento dos alunos, particularmente dos mais velhos. E todos nós sabemos como os mais novos gostam de imitar o comportamento dos mais velhos.
É sobre esse problema de disciplina que o Conselho Pedagógico parece querer passar uma esponja quando assume que tudo corre dentro da normalidade e, nessa circunstância, ou se dá a aula programada ou se dão as matérias planificadas para as substituições.
Mas não é isto que se passa: os alunos resistem a entrar na sala e só entram coagidos pela ameaça de falta, eventualmente injustificada. A seguir, recusam-se liminarmente a sentar-se a a adoptar as atitudes e comportamentos necessários à aprendizagem: atenção, concentração, disponibilidade para aprender ou para simplesmente ouvir a proposta que a professora lhes traz.
A aula de substituição de 6ª. feira 16 com o 9º. B foi indescritível na resistência ruidosa, raivosa dos alunos, num comportamento revelador do maior desrespeito por regras essenciais e de manifestção clara das suas percepções de impunidade, o que levou a que, à professora de substituição, depois de chamar a funcionária, não restasse outra alternativa que não fosse abandonar a sala. Medidas disciplinares? Até hoje, nada, sendo que deveriam ter sido tomadas 1 dia depois das ocorrências.
No meu caso, resistiria até ao fim para impor a autoridade que me assiste (afinal quem é que manda na Escola? e parafraseio o título de uma crónica recente do meu estimado Professor, Daniel Sampaio), o que me custaria uma perigosa subida de tensão mas que, em qualquer dos casos, não passaria, nem por cumprir o plano de aula, nem por desenvolver as tais áreas temáticas, mas tão-somente por tentar restabelecer um comportamento cívico adequado à relação pedagógica, como saber fazer silêncio e demonstrar contenção física. É isto que o Conselho Pedagógico se recusa a enfrentar com coerência.
E não é por acaso: no Conselho Pedagógico estão os professores que têm de enfrentar a indisciplina dos alunos com menos frequência.

Eu gostava de ver os subscritores da recomendação a entrar numa turma com o comportamento idêntico ao que o 9º. B exibiu no passado dia 16 e a executarem o plano de aula ou a aplicarem uma daquelas fichas tão bem feitas (as da Saúde são as minhas preferidas...) a alunos que urram circulando pela sala. Só para todos vermos e aprendermos como é fazem.

2 comentários:

Miguel Pinto disse...

Lembro a colega que o CP é um órgão consultivo... do executivo. A pergunta que me ocorre é saber se o conselho executivo lavou as mãos? Como sabe, colega, o conselho executivo pode punir (e é de punição que se trata) um aluno até 5 dias de suspensão. Não é o pedagógico que tem esse poder. Se se exige uma acção concreta, o melhor é exigir mais do executivo, digo eu...

Paideia disse...

Olá Miguel, diz o Miguel e diz muito bem. Mas há pessoas que teimam em pôr o tapete em cima do lixo. Fica mais bonito para o retrato. Pela Primavera, e em contra-luz, começa-se a ver o pó a subir...