Indisciplina e violência na Escola
Muitos dos que teorizam sobre as diferenças conceptuais entre a disciplina e a violência na Escola procuram refugiar-se o mais longe possível dela, ou nos serviços centrais e regionais do Ministério da Educação, ou nos gabinetes das direcções escolares que se situam sempre no andar mais afastado do pátio e das salas de aula. Este distanciamento não é casual.
Se em termos conceptuais há efectivamente diferenças entre a indisciplina e a violência, no terreno as diferenças acabam por esbater-se e há situações em que simplesmente se cruzam e misturam. Senão, vejamos um caso concreto que se passou na Escola esta semana. Tratava-se de uma aula de substituição do nono ano, em que os alunos se passeavam pela sala urrando, atiravam objectos uns aos outros, gritavam obscenidades, ignorando ostensivamente os esforços da professora de substituição para cumprir com os objectivos definidos pelo Conselho Pedagógico, consubstanciados em três áreas de intervenção minuciosamente planificadas – a educação cívica, a educação ambiental e a educação para a saúde.
Esta situação é recorrente na Escola. O estrépito é de tal ordem que, numa Escola inteiramente plana, a atroada chega a passar de um pavilhão para os outros. Neste caso concreto, atravessou o pátio interior para as salas da ala oposta, para espanto e gáudio dos mais novos que observavam, deslumbrados, o despautério. Se fazemos a participação prevista na Lei 30/2002, a que deveriam seguir-se os procedimentos igualmente previstos, fica tudo exactamente na mesma, para voltar a idênticas situações poucos dias depois, porque os tais procedimentos nunca se seguem. Por mais que um professor seja auto-confiante é sempre uma derrota, um vexame, não conseguir lidar com a indisciplina numa turma, porque sabemos que os outros vão estar sempre dispostos a mudar as fronteiras do certo e do errado para nos colocar do lado errado, provando assim que são mais competentes que nós. Como a IR dizia outro dia, a culpa é da A. que não sabe ter os alunos na ordem; se os meter na ordem, será excessiva. Em qualquer circunstância, chegámos a um ponto em que o equilíbrio nunca está do lado do professor, porque está sempre na tranquilidade dos gabinetes.
No caso de certas Direcções escolares, há evidências claras de que se estabelece com os pais dos alunos prevaricadores que, a toda a hora, e manipulando a complexidade do sistema democrático, fustigam a liberdade alheia, de colegas, professores e funcionaários, uma aliança mais ou menos implícita para manter os professores dominados pelo terror. Reportar um caso de indisciplina é algo sempre vexatório para um professor; na Escola predomina ainda a teoria da “culpa” do professor, associada às utopias pedagógicas dos anos sessenta. O vexame e a culpa acabam por ser uma forma de exercício da dominação pelo terror, numa associação ínvia com os pais, em que é sempre possível atribuir uma quota-parte de culpa ao professor, ou porque foi demasiado brando, ou porque foi demasiadamente rígido, porque é sempre possível mudar as fronteiras consoante o que convém para o efeito. Como a maioria dos professores são de facto professoras, numa cultura de raiz judaico-cristã, o vexame e a culpa acabam por ser uma forma de perpetuar a dominação e o silêncio. Acresce que certos comportamentos abusivos dos nossos jovens configuram e repercutem uma cultura abusiva em relação à figura da mulher.
Se em termos conceptuais há efectivamente diferenças entre a indisciplina e a violência, no terreno as diferenças acabam por esbater-se e há situações em que simplesmente se cruzam e misturam. Senão, vejamos um caso concreto que se passou na Escola esta semana. Tratava-se de uma aula de substituição do nono ano, em que os alunos se passeavam pela sala urrando, atiravam objectos uns aos outros, gritavam obscenidades, ignorando ostensivamente os esforços da professora de substituição para cumprir com os objectivos definidos pelo Conselho Pedagógico, consubstanciados em três áreas de intervenção minuciosamente planificadas – a educação cívica, a educação ambiental e a educação para a saúde.
Esta situação é recorrente na Escola. O estrépito é de tal ordem que, numa Escola inteiramente plana, a atroada chega a passar de um pavilhão para os outros. Neste caso concreto, atravessou o pátio interior para as salas da ala oposta, para espanto e gáudio dos mais novos que observavam, deslumbrados, o despautério. Se fazemos a participação prevista na Lei 30/2002, a que deveriam seguir-se os procedimentos igualmente previstos, fica tudo exactamente na mesma, para voltar a idênticas situações poucos dias depois, porque os tais procedimentos nunca se seguem. Por mais que um professor seja auto-confiante é sempre uma derrota, um vexame, não conseguir lidar com a indisciplina numa turma, porque sabemos que os outros vão estar sempre dispostos a mudar as fronteiras do certo e do errado para nos colocar do lado errado, provando assim que são mais competentes que nós. Como a IR dizia outro dia, a culpa é da A. que não sabe ter os alunos na ordem; se os meter na ordem, será excessiva. Em qualquer circunstância, chegámos a um ponto em que o equilíbrio nunca está do lado do professor, porque está sempre na tranquilidade dos gabinetes.
No caso de certas Direcções escolares, há evidências claras de que se estabelece com os pais dos alunos prevaricadores que, a toda a hora, e manipulando a complexidade do sistema democrático, fustigam a liberdade alheia, de colegas, professores e funcionaários, uma aliança mais ou menos implícita para manter os professores dominados pelo terror. Reportar um caso de indisciplina é algo sempre vexatório para um professor; na Escola predomina ainda a teoria da “culpa” do professor, associada às utopias pedagógicas dos anos sessenta. O vexame e a culpa acabam por ser uma forma de exercício da dominação pelo terror, numa associação ínvia com os pais, em que é sempre possível atribuir uma quota-parte de culpa ao professor, ou porque foi demasiado brando, ou porque foi demasiadamente rígido, porque é sempre possível mudar as fronteiras consoante o que convém para o efeito. Como a maioria dos professores são de facto professoras, numa cultura de raiz judaico-cristã, o vexame e a culpa acabam por ser uma forma de perpetuar a dominação e o silêncio. Acresce que certos comportamentos abusivos dos nossos jovens configuram e repercutem uma cultura abusiva em relação à figura da mulher.
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