Dançando com a A., com o B. e com a C.
Na sexta-feira fomos, a professora de Educação Musical, a professora de Português e eu ao Centro Cultural de Belém com o 6º. F. O serviço educativo havia preparado uma oficina de dança baseada na fábula de Orfeu e Eurídice, com base na qual, Monteverdi compôs a sua favola in musica, criada nos moldes da tragédia clássica, em que descreve o percurso de Orfeu até ao Hades, em busca da sua amada, morta no dia do casamento. Com o poder encantatório da sua lira, Orfeu convence o soberano do reino dos mortos a libertar Eurídice, sob determinadas condições que Orfeu ignora, perdendo-a de novo. Somos então convidados a simular abraços, mais simples e mais estranhos, abraços com o olhar, abraços e separações abruptas, abraços a sombras, a seres queridos e distantes.
No primeiro abraço coube-me a C. Foi um enlace autêntico, meigo, caloroso, de entrega. Depois, calhou-me o B., rígido e trémulo e ainda a A., incapaz de sustentar um olhar, fugidia e hirta.
Na C. nota-se uma naturalidade no contacto físico e da expressão do afecto e da proximidade; com a A. e o B., ao contrário, é como se qualquer proximidade fosse estranha, como se não estivessem habituados a expressar-se ou estranhassem o contacto físico, a proximidade ou a expressão corporal de estados de alma.
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