segunda-feira, março 12, 2007

Escola, disciplina e inclusão social
A disciplina e a violência na Escola são, a julgar pelos estudos mais recentes, independentes das variáveis demográficas de género, meio social e etnia , embora em Portugal e designadamente nas zonas urbanas, sejam vulgarmente associadas a populações de meios mais desfavorecidos.
Uma das consequências mais gravosas da indisciplina prende-se com o tempo necessário à sua gestão na sala de aula, o que afecta seu clima, reduz o tempo dedicado ao ensino e à aprendizagem e tem implicações na insatisfação profissional, na saúde física e psíquica e no absentismo dos docentes.
A investigação sobre as estratégias de intervenção habitualmente utilizadas e sobre programas de intervenção eficazes é escassa, mas estudos transnacionais efectuados em países europeus relevam aspectos comuns a todos eles. A principal conclusão é de que a influência parental e da comunidade são as variáveis com maior impacto no comportamento dos jovens na Escola.
A investigação europeia identifica três factores de risco: os aspectos de organização e contexto escolares, designadamente a composição demográfica, a dimensão da escola e das turmas, a coesão dos profissionais (docentes e não docentes) as características sociodemográficas do pessoal e dos alunos e a sua saúde psicológica.
Os problemas mais comuns prendem-se, em relação aos pais e encarregados de educação, com um conhecimento superficial das questões relativas à disciplina e com a assunção de um papel externo e secundário, dificultando assim a conjugação de estratégias de actuação.
Por parte da Escola, a falta de clareza dos instrumentos legais e dos respectivos procedimentos perpetua formas de intervenção altamente inconsistentes. Por outro lado, a falta de formação dos docentes e outros profissionais impede uma actuação preventiva e respostas eficazes.
Um outro aspecto significativo prende-se com o facto de os casos mais graves de indisciplina ocorrerem fora do contexto da sala de aula, durante os intervalos, quando os instrumentos legais, designadamente o DL 30/2002 se referem à disciplina no contexto exclusivo da sala de aula.
Na perspectiva dos alunos, a disciplina baseia-se fundamentalmente em medidas punitivas, mas pouco consistentes já que, do seu ponto de vista, a forma de encarar a disciplina varia muito de professor para professor, o que os confunde.
Também na perspectiva dos alunos, a redução de alunos por turma e uma maior individualização contribuiriam para reduzir a indisciplina e os comportamentos inadequados.
Actualmente, a falta de coerência dos programas de intervenção e a falta de confiança dos professores, principalmente suscitada por uma forma errática de lidar com o problema, sobretudo em termos legais, começa já a ter efeitos muito negativos na Europa, particularmente no Reino Unido, onde a violência atinge fundamentalmente os directores escolares, sendo já notória a falta de candidatos ao exercício da função; as organizações de professores instruem os seus associados a não intervirem em situações de confronto de alunos no pátio, dada a recorrente invocação feita pelos alunos infractores ou respectivas famílias de que aqueles são vítimas dos professores, de cada vez que estes procuram actuar, o que configura um elevado nível de risco para os alunos mais frágeis social e fisicamente, vítimas preferenciais de colegas agressores.
Por outro lado, um dos principais factores de abandono da profissão docente prende-se com questões de disciplina dos alunos, razão pela qual os governos dos países europeus em que já se nota um desinteresse pela profissão docente começaram a tomar consciência da gravidade do problema e a adoptar programas de saneamento e remediação, alguns dos quais estão neste momento a ser avaliados.
O estudo da indisciplina no meio escolar é uma tarefa que exige uma abordagem complexa e multivariada que equacione os aspectos relacionados com todos os intervenientes – alunos, pais, pessoal educativo, docente e não docente – mas a investigação mais recente demonstra que os professores consideram crucial o apoio e a participação dos pais, no sentido de conseguirmos escolas pacíficas em que todos se sintam confortáveis com as suas tarefas, estatuto e papel, não sendo de ignorar a perspectiva dos alunos de que turmas mais pequenas facilitam um acompanhamento mais individualizado e uma melhor socialização.
As tarefas exigidas à nossa Escola são enormes, envolvendo a reformulação de programas, de instrumentos e procedimentos de avaliação, de alargamento da escolaridade, aumento da qualificação, em múltiplos planos de intervenção que colocam a Escola em risco de implosão se se lhe negar alguma tranquilidade. Na verdade, a Escola é, nos dias de hoje um espaço privilegiado de promoção da coesão social, de combate à exclusão e de progresso das sociedades e dos indivíduos, que nela tendem a permanecer cada vez mais tempo.



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