sábado, março 31, 2007
sexta-feira, março 30, 2007
Pater meus quod dedit mihi majus omnibus est et nemo potest rapere de manu Patris mei
ego et Pater unum sumus
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segunda-feira, março 26, 2007
domingo, março 25, 2007
Chegou lá meio apardalado, envergonhado mesmo, por ser recebido guia de marcha para o Gabinete de atendimento.
- Então?! Começou mal o dia?!?
- ... (sorriso amarelo)
- O que é que aconteceu?
- Foi a stôra de...
Invariavelmente as respostas a esta pergunta sobre o que aconteceu, começam assim: "foi a stôra que....", "foi o meu colega que...". Nunca começam em "fui eu que..." É o último reduto da dignidade enxovalhada, esta de ser ter sido corrido da aula, a última tentativa de remeter para as outros a responsabilidade.
Lá cumpri o menu, nº. 1 o que tinha acontecido, nº. 2 como poderia ser evitado, nº. 3 quais os comportamentos adequados, tudo muito bem verbalizadinho, como eu gosto.
A coisa não parecia grave, mas foi-o suficiente para ele receber a guia de marcha, pelo que havia que cumprir o figurino.
Mas por detrás deste jovem aparentemente mal comportado, havia certamente o outro, o que também gosta de agradar e de dar a entender que as coisas não estão assim tão más... o melhor é fazer uma observação mais pessoal:
- O meu irmão é seu aluno...
- Ah, sim?!? Quem é?!? Perscruto-lhe o rosto à procura de semelhanças, mas não me dá tempo:
- Aquele a quem a stôra chama Braga...
- Ah! Mas eu não lhe chamo Braga, digo-lhe assim: "Ó Guimarães, porta-se bem! Estás aqui, estás em Braga, que é ali para os lados do Gabinete de atendimento..."
Mas nunca foi preciso ao Guimarães mais novo ter de apanhar transporte para Braga, graças a Deus!
- Bom, digo eu, vou calar-me e deixar-te fazer as tuas tarefas, para cumprirmos o figurino, OK?
- OK.
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O Mirandês é uma língua do nordeste de Portugal e ocupa uma região de cerca de quinhentos quilómetros quadrados. Os romances peninsulares formados a partir do latim vulgar, nomeadamente no asturo-leonês, estão na sua origem, pelo que pertence ao grupo das línguas românicas .
José Leite de Vasconcelos, no fim do séc. XIX, descreveu-o pela primeira vez. O processo de normatização teve início em 1995, com a proposta de Convenção Ortográfica Mirandesa, mais tarde consolidada com a edição da Convenção Ortográfica da Língua Mirandesa (1999).
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sábado, março 24, 2007
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PARENTS AND TEACHERS TALKING TOGETHER
É o nome de um programa posto em acção pelo Comité Prichard para a excelência académica. Organiza debates estruturados como ponto de partida para a comunicação entre a Escola e as famílias e outras actividades, visando melhor a dinâmica das relações e aumentar o envolvimento parental.
Cada sessão inclui cerca de 30 participantes. As sessões realizam-se em centros comunitários, tais como escolas, igrejas e outros locais públicos. O comité dá formação a facilitadores locais, instruções aos organizadores e materiais suplementares de apoio às sessões.
O programa está acreditado e conta com um sistema de créditos para a qualificação profissional dos docentes. Permite ainda uma proveitosa recolha de dados que são posteriormente utilizados nos processos de melhoria dos serviços prestados pela Escola.
Os organizadores planificam e executam os eventos, calendarizando-os, escolhendo os facilitadores, seleccionando locais de encontro cómodos e acessíveis, convidando professores e pais a participar e coordenando as sessões.
As suas tarefas incluem ainda a concepção do formato das sessões, a definição de regras, a ajuda na consolidação e registo das ideias, apoia a tomada de decisão sobre os próximos passos e faz o relatório das sessões.
Cada sessão começa com duas perguntas essenciais: “O que queremos para os nossos jovens estudantes?” e “Como vamos consegui-lo?”. O processo de discussão tem uma duração média de quarto horas.
O Comité Prichard considera que este projecto facilita o processo de compreensão mútua das perspectivas de pais e de professores, no sentido de fazer progredir a qualidade da educação, dando voz à perspectiva das famílias.
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O JM já acabou e exercício que eu mandei fazer, enquanto o M. ainda nem sequer começou. M. sofre de hiperactividade e défice de atenção, ultimamente tem andado menos concentrado, demora muito a começar a executar uma tarefa e a meio, pára de vez em quando, distraído e absorto.
- M!... Hallo! Keep going!
Desce à terra, sorri e continua até ao próximo aviso.
Trata-se de uma turma com 28 alunos, maioritariamente rapazes, em que as hormonas, a vivacidade, a traquinice irrompem ao mais pequeno pretexto.
No outro dia, o A., que agora diz a toda a gente que é hiperactivo, com um ar altamente científico, como se isso lhe desse uma importância acrescida, atirou-se da cadeira para o chão e levantaram-se logo 8 (rapazes, pois...) para o "socorrer", como argumentaram.
- Quem tem obrigação de o socorrer se ele estiver mal sou eu! - Sentenciei com ar de militar com pancreatite aguda (desculpem os militares, especialmente os que pululam na minha família).
Não perderam a pose: voltou tudo aos lugares com ar de quem tinha cumprido uma grande missão de salvamento e merecia a medalha de mérito por grandes serviços à nação.
- E agora vão escrever numa folha à parte o que fizeram e reflectir sobre o prejuízo que causaram à aprendizagem.
Chegou-me a primeira versão do "salvamento". Com ar sério - ai meu Deus, quanto me custa o ar sério, quando me apetece rir à gargalhada... - pedi licença, rasguei o "depoimento" e sentenciei: "Quero um depoimento honesto e crítico, que explique as verdadeiras razões por que se levantaram, sem motivo!" (A frase saiu-me um pouco paradoxal, coisas do improviso...)
Mais dois ou três depoimentos rasgados, regresso cabisbaixo à carteira, surge então a segunda versão do depoimento, que serviu de modelo às outras (o que é que tu escreveste? segredava-se).
Assim, com esta eloquência:
"Eu fui ver onde o Afonso estava porque ele caiu e juntou-se muita gente e como brincadeira fui-me lá meter. Por causa de mim e dos meus colegas perdemos tempo de aula, enquanto podia estar a fazer o que a professora mandou. Peço desculpa e não vai voltar a acontecer. Vou fazer os meus possíveis para que da próxima vez não me levante do lugar e não prejudique a aula." Assinado J.G. 16/3/2007.
Isto é pensamento crítico puro e duro. Um pouco sobre pressão, admito, com uma enorme vontade de rir à mistura, por ver o ar dramático do A. estatelado no chão com as pernas no ar. Uma promessa para o teatro cómico.
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sexta-feira, março 23, 2007
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quinta-feira, março 22, 2007
Um Conselho Pedagógico recomendou aos departamentos que os professores que leccionam aulas de substituição devem cumprir o plano de aula previamente deixado pelo professor em falta ou desenvolver as áreas temáticas documentadas com dossiês específicos.
Nesta formulação, gostaria de poder assinalar a natureza burocrática da recomendação; ora, não há nada mais errado do que resolver uma questão que é pedagógica e disciplinar de forma burocrática, uma vez que esta fórmula implica a ignorância de dois aspectos essenciais:
1º. A relação pedagógica é, como todas as relações humanas, contingencial. Mais do que isso, é uma relação que comporta um grande grau de incerteza. As soluções para cada situação de aula têm de ser encontradas no contexto em que essa aula se dá e nas relações que é possível estabelecer.
2º. A Escola sofre de um grande problema de indisciplina, particularmente a nível do 3º. Ciclo, mas que se estende já ao 2º. Ciclo através de manifestações esporádicas e (ainda) perfeitamente controláveis que, todavia, é preciso encarar com firmeza e determinação.
Desta circunstância decorre frequentemente que os alunos não aceitam as propostas dos professores, manifestando-se de forma agressiva e ostensiva o seu repúdio pelas aulas de substituição.
Não me cabe a mim avaliar as responsabilidades dos docentes nesta circunstância, alguns dos quais a reconhecem em atitudes erradas assumidas no ano transacto e que se repercutem este ano de forma dramática no comportamento dos alunos, particularmente dos mais velhos. E todos nós sabemos como os mais novos gostam de imitar o comportamento dos mais velhos.
É sobre esse problema de disciplina que o Conselho Pedagógico parece querer passar uma esponja quando assume que tudo corre dentro da normalidade e, nessa circunstância, ou se dá a aula programada ou se dão as matérias planificadas para as substituições.
Mas não é isto que se passa: os alunos resistem a entrar na sala e só entram coagidos pela ameaça de falta, eventualmente injustificada. A seguir, recusam-se liminarmente a sentar-se a a adoptar as atitudes e comportamentos necessários à aprendizagem: atenção, concentração, disponibilidade para aprender ou para simplesmente ouvir a proposta que a professora lhes traz.
A aula de substituição de 6ª. feira 16 com o 9º. B foi indescritível na resistência ruidosa, raivosa dos alunos, num comportamento revelador do maior desrespeito por regras essenciais e de manifestção clara das suas percepções de impunidade, o que levou a que, à professora de substituição, depois de chamar a funcionária, não restasse outra alternativa que não fosse abandonar a sala. Medidas disciplinares? Até hoje, nada, sendo que deveriam ter sido tomadas 1 dia depois das ocorrências.
No meu caso, resistiria até ao fim para impor a autoridade que me assiste (afinal quem é que manda na Escola? e parafraseio o título de uma crónica recente do meu estimado Professor, Daniel Sampaio), o que me custaria uma perigosa subida de tensão mas que, em qualquer dos casos, não passaria, nem por cumprir o plano de aula, nem por desenvolver as tais áreas temáticas, mas tão-somente por tentar restabelecer um comportamento cívico adequado à relação pedagógica, como saber fazer silêncio e demonstrar contenção física. É isto que o Conselho Pedagógico se recusa a enfrentar com coerência.
E não é por acaso: no Conselho Pedagógico estão os professores que têm de enfrentar a indisciplina dos alunos com menos frequência.
Eu gostava de ver os subscritores da recomendação a entrar numa turma com o comportamento idêntico ao que o 9º. B exibiu no passado dia 16 e a executarem o plano de aula ou a aplicarem uma daquelas fichas tão bem feitas (as da Saúde são as minhas preferidas...) a alunos que urram circulando pela sala. Só para todos vermos e aprendermos como é fazem.
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domingo, março 18, 2007
sábado, março 17, 2007
Se em termos conceptuais há efectivamente diferenças entre a indisciplina e a violência, no terreno as diferenças acabam por esbater-se e há situações em que simplesmente se cruzam e misturam. Senão, vejamos um caso concreto que se passou na Escola esta semana. Tratava-se de uma aula de substituição do nono ano, em que os alunos se passeavam pela sala urrando, atiravam objectos uns aos outros, gritavam obscenidades, ignorando ostensivamente os esforços da professora de substituição para cumprir com os objectivos definidos pelo Conselho Pedagógico, consubstanciados em três áreas de intervenção minuciosamente planificadas – a educação cívica, a educação ambiental e a educação para a saúde.
Esta situação é recorrente na Escola. O estrépito é de tal ordem que, numa Escola inteiramente plana, a atroada chega a passar de um pavilhão para os outros. Neste caso concreto, atravessou o pátio interior para as salas da ala oposta, para espanto e gáudio dos mais novos que observavam, deslumbrados, o despautério. Se fazemos a participação prevista na Lei 30/2002, a que deveriam seguir-se os procedimentos igualmente previstos, fica tudo exactamente na mesma, para voltar a idênticas situações poucos dias depois, porque os tais procedimentos nunca se seguem. Por mais que um professor seja auto-confiante é sempre uma derrota, um vexame, não conseguir lidar com a indisciplina numa turma, porque sabemos que os outros vão estar sempre dispostos a mudar as fronteiras do certo e do errado para nos colocar do lado errado, provando assim que são mais competentes que nós. Como a IR dizia outro dia, a culpa é da A. que não sabe ter os alunos na ordem; se os meter na ordem, será excessiva. Em qualquer circunstância, chegámos a um ponto em que o equilíbrio nunca está do lado do professor, porque está sempre na tranquilidade dos gabinetes.
No caso de certas Direcções escolares, há evidências claras de que se estabelece com os pais dos alunos prevaricadores que, a toda a hora, e manipulando a complexidade do sistema democrático, fustigam a liberdade alheia, de colegas, professores e funcionaários, uma aliança mais ou menos implícita para manter os professores dominados pelo terror. Reportar um caso de indisciplina é algo sempre vexatório para um professor; na Escola predomina ainda a teoria da “culpa” do professor, associada às utopias pedagógicas dos anos sessenta. O vexame e a culpa acabam por ser uma forma de exercício da dominação pelo terror, numa associação ínvia com os pais, em que é sempre possível atribuir uma quota-parte de culpa ao professor, ou porque foi demasiado brando, ou porque foi demasiadamente rígido, porque é sempre possível mudar as fronteiras consoante o que convém para o efeito. Como a maioria dos professores são de facto professoras, numa cultura de raiz judaico-cristã, o vexame e a culpa acabam por ser uma forma de perpetuar a dominação e o silêncio. Acresce que certos comportamentos abusivos dos nossos jovens configuram e repercutem uma cultura abusiva em relação à figura da mulher.
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terça-feira, março 13, 2007
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segunda-feira, março 12, 2007
Uma das consequências mais gravosas da indisciplina prende-se com o tempo necessário à sua gestão na sala de aula, o que afecta seu clima, reduz o tempo dedicado ao ensino e à aprendizagem e tem implicações na insatisfação profissional, na saúde física e psíquica e no absentismo dos docentes.
A investigação sobre as estratégias de intervenção habitualmente utilizadas e sobre programas de intervenção eficazes é escassa, mas estudos transnacionais efectuados em países europeus relevam aspectos comuns a todos eles. A principal conclusão é de que a influência parental e da comunidade são as variáveis com maior impacto no comportamento dos jovens na Escola.
A investigação europeia identifica três factores de risco: os aspectos de organização e contexto escolares, designadamente a composição demográfica, a dimensão da escola e das turmas, a coesão dos profissionais (docentes e não docentes) as características sociodemográficas do pessoal e dos alunos e a sua saúde psicológica.
Os problemas mais comuns prendem-se, em relação aos pais e encarregados de educação, com um conhecimento superficial das questões relativas à disciplina e com a assunção de um papel externo e secundário, dificultando assim a conjugação de estratégias de actuação.
Por parte da Escola, a falta de clareza dos instrumentos legais e dos respectivos procedimentos perpetua formas de intervenção altamente inconsistentes. Por outro lado, a falta de formação dos docentes e outros profissionais impede uma actuação preventiva e respostas eficazes.
Um outro aspecto significativo prende-se com o facto de os casos mais graves de indisciplina ocorrerem fora do contexto da sala de aula, durante os intervalos, quando os instrumentos legais, designadamente o DL 30/2002 se referem à disciplina no contexto exclusivo da sala de aula.
Na perspectiva dos alunos, a disciplina baseia-se fundamentalmente em medidas punitivas, mas pouco consistentes já que, do seu ponto de vista, a forma de encarar a disciplina varia muito de professor para professor, o que os confunde.
Também na perspectiva dos alunos, a redução de alunos por turma e uma maior individualização contribuiriam para reduzir a indisciplina e os comportamentos inadequados.
Actualmente, a falta de coerência dos programas de intervenção e a falta de confiança dos professores, principalmente suscitada por uma forma errática de lidar com o problema, sobretudo em termos legais, começa já a ter efeitos muito negativos na Europa, particularmente no Reino Unido, onde a violência atinge fundamentalmente os directores escolares, sendo já notória a falta de candidatos ao exercício da função; as organizações de professores instruem os seus associados a não intervirem em situações de confronto de alunos no pátio, dada a recorrente invocação feita pelos alunos infractores ou respectivas famílias de que aqueles são vítimas dos professores, de cada vez que estes procuram actuar, o que configura um elevado nível de risco para os alunos mais frágeis social e fisicamente, vítimas preferenciais de colegas agressores.
Por outro lado, um dos principais factores de abandono da profissão docente prende-se com questões de disciplina dos alunos, razão pela qual os governos dos países europeus em que já se nota um desinteresse pela profissão docente começaram a tomar consciência da gravidade do problema e a adoptar programas de saneamento e remediação, alguns dos quais estão neste momento a ser avaliados.
O estudo da indisciplina no meio escolar é uma tarefa que exige uma abordagem complexa e multivariada que equacione os aspectos relacionados com todos os intervenientes – alunos, pais, pessoal educativo, docente e não docente – mas a investigação mais recente demonstra que os professores consideram crucial o apoio e a participação dos pais, no sentido de conseguirmos escolas pacíficas em que todos se sintam confortáveis com as suas tarefas, estatuto e papel, não sendo de ignorar a perspectiva dos alunos de que turmas mais pequenas facilitam um acompanhamento mais individualizado e uma melhor socialização.
As tarefas exigidas à nossa Escola são enormes, envolvendo a reformulação de programas, de instrumentos e procedimentos de avaliação, de alargamento da escolaridade, aumento da qualificação, em múltiplos planos de intervenção que colocam a Escola em risco de implosão se se lhe negar alguma tranquilidade. Na verdade, a Escola é, nos dias de hoje um espaço privilegiado de promoção da coesão social, de combate à exclusão e de progresso das sociedades e dos indivíduos, que nela tendem a permanecer cada vez mais tempo.
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sábado, março 10, 2007
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Jota(Nome de jogador tão talentoso como incapaz de gerir a sua vida e de tirar partido do seu enorme talento. Nem de propósito. )
Eu podia começar este discurso com a prosa poética que percorre os textos dos professores que, tal como eu, se formaram no discurso pedagógico optimista, marcado pelas concepções dos anos sessenta.
Na verdade, o que eu sinto e penso é que tais concepções estão desajustadas e aquele discurso tem hoje a marca da mais profunda hipocrisia, daquela que, com sorrisos e gestos estudados, afirma que toda a esperança do mundo está nas crianças. O mundo, esse, particularmente a partir do 11 de Setembro, atira-nos indiferente com uma realidade em que as crianças nascem num mundo disposto a perpetuar as formas mais sanguinárias e cruéis da manifestação da nossa indiferença, mascarada de metáforas belas. Como vão ganhar forças, energias, aprender a agir de forma diferente, se todos os modelos perpetuam a espiral hipócrita da indiferença mascarada de metáfora belas: e o melhor do mundo são as crianças... (o mais dramático é que são mesmo!!!)
É verdade que me apaixonei pelo brilho dos seus olhos, pelo seu ar de menino reguila, para o qual eu desejaria que todos os encontros fossem de boas aprendizagens e socializações, que o valorizem e o façam crescer a acreditar no que é justo e certo, a acreditar no esforço pessoal, como forma de superar as dificuldades da vida.
"Quando eu crescer vou assaltar carros... e a s'tora!", diz sorrindo maroto. "Ai que susto!", reajo com um sorriso de plástico. E o meu sorriso plastifica quando tenho a percepção de que, à semelhança do outro que tive em Paço de Arcos e que era um menino tão inteligente, eu visitei, pela última vez, na prisão. Este tem todos os indicadores de que vai acabar de forma idêntica.
Que será feito do Érre, o menino que dizia que preto só para construção civil ou para a prisão? Que doze anos já tão falhos de esperança e de expectativas positivas...
Na verdade, estou mais do que apreensiva porque os indicadores de que parece não haver experiências positivas que literalmente roubem este menino ao lado mau da vida são mais que muitos. Em educação, é preciso ter muita paciência e não desistir, mas a sensação é a de que a vida lá fora o atira inexoravelmente para a exclusão e que todas as vivências e experiências de cidadania, de carinho, de afecto, do caring que todos os dias faço questão de transmitir-lhe, na Escola não chegam para contrariar a espiral de miséria queafecta já todos os seus comportamentos.
No outro dia não pude mais. Subi à gestão e pedi ajuda: a resposta não podia ser melhor - fomos os dois, o Jota e eu, à papelaria da Escola com uma requisição para material novo. Depois, subimos à Biblioteca e arrumámos o novo dossiê (lindo! Que inveja!), com separadores, reforçadores de furos. Mas os lápis e as canetas desaparaceram sem um contentor mais pequeno que os organize; nesse aspecto, a ajuda da Inês Jorge foi preciosa: pegámos numa bolsa em muito bom estado, lavámo-la muito bem e passeia-a ao Jota através da DT.
Mas a (boa e nova) borracha já está em fanicos e de bolsa e respectivos conteúdos, nem novas, nem mandados.
É verdade que nos construímos com aquilo que vamos construindo, mas nada parece chegar para segurar aquele menino. Ainda tão novinho e já tão marcado por esse miséria que se nos cola a cada pensamento, a cada decisão a cada gesto.
P.S.: e contudo, cada separador do dossiê já meio esbandeado, tem escrito no verso a respectiva cor em Inglês... Obrigada, meu querido menino, por reacenderes a minha esperança.
Posted by Paideia at 11:28 da manhã 0 comments
Quando lhe referi que o stress docente é qualquer coisa de visível e palpável na nossa Escola e está a atingir níveis muito elevados, consubstanciados em situações e exemplos concretos, e que muito desse stress deriva dos preocupantes níveis de indisciplina observados, a IR da CI retorquiu:
-Sim mas se a A não consegue disciplinar os alunos a culpa é dela!
Voltamos ao lado perverso das concepções pedagógicas dos anos 60: os alunos têm direito a ser educados em liberdade; se não a respeitam, a culpa é do professor. A verdade é que cada professor está sozinho na sua sala, com todas as suas crenças, com todas as suas dúvidas e a cultura dominante é a de que um professor não pode ter dúvidas, por mais que a realidade se lhe apresente em situações de fio da navalha, sobre as quais não podemos ficar a elaborar mas, a cada momento temos de agir e, de cada vez que agimos há-de haver sempre alguém que, do alto da sua omnisciência aplicada na sala do primeiro andar em que a própria cadeira está de costas viradas para o pátio e para a área mais problemática da Escola, justamente aquela onde estão os alunos que a Escola já “aculturou”, justamente os mais velhos e onde todas as manifestações de que a nossa educação para a cidadania está a falhar. Eu também tenho aquela turma de que a colega saiu a chorar. Às vezes apetece-me “discipliná-los”, isto é, fazê-los trabalhar sob a pressão da caderneta com possível recado para casa em cima da mesa, mas outras vezes não estou com o tipo de energia para tal e “alargo” a malha da disciplina. “Alargar” esta malha, isto é, ceder um pouco ao disparate, ser um pouco mais complacente, é algo que teoricamente estaria errado. Isto é: a disciplina requer consistência de métodos e de procedimentos. Mas o professor não é uma máquina: cada dia é dia de um olhar diferente sobre aqueles alunos, sobre aquela relação pedagógica; o professor traz para a aula todas as suas experiências de vida, como adulto que já foi criança, como pessoa, como pai. E nesta conjuntura se gera e ensina a flexibilidade, característica que exige muito exercício. Mas como se aprende a flexibilidade e o exercício dela quando o professor está constantemente sujeito a esta filosofia da “culpa ser dela”? Esta filosofia remete qualquer professor para uma solidão angustiante e exclui qualquer possibilidade de, sem medos, podermos abertamente partilhar as nossas dúvidas, mas também, porque não, as nossas certezas.
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terça-feira, março 06, 2007
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segunda-feira, março 05, 2007
Já Bordalo Pinheiro se queixava do mesmo.
Não haverá por aí uns ricaços com que se entretenham?!?
A classe média estertoriza exangue, abocanhada, estrafegada, vampirizada pelo Grande Cão.
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"Inequivocamente plasmado" , pede ele
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domingo, março 04, 2007
A literatura sobre educação reconhece que as circunstâncias sociais que envolvem o exercício da docência, as características pessoais, as experiências de vida - pessoais e profissionais - estão intimamente relacionadas, se influenciam mutuamente, sendo difícil descortinar o grau de influencia de cada um destes componentes na identidade profissional dos docentes.
Se a identidade fé um factor essencial na percepção dos objectivos, no sentimento de eficácia na motivação, no empenhamento, na satisfação profissional e na eficácia, então torna-se essencial estudar os factores que têm uma influência positiva e negativa, os contextos em que eles ocorrem e as consequências em termos práticos.
Como é que as estruturas sociais e as características pessoais interagem? Que sinergias se estabelecem entre os aspectos cognitivos e emocionais?
A identidade profissional é um conceito estável? Ou é um conceito fragmentário, como muita da literatura invoca?
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sábado, março 03, 2007
Posted by Paideia at 11:12 da tarde 0 comments
Dançando com a A., com o B. e com a C.
Na sexta-feira fomos, a professora de Educação Musical, a professora de Português e eu ao Centro Cultural de Belém com o 6º. F. O serviço educativo havia preparado uma oficina de dança baseada na fábula de Orfeu e Eurídice, com base na qual, Monteverdi compôs a sua favola in musica, criada nos moldes da tragédia clássica, em que descreve o percurso de Orfeu até ao Hades, em busca da sua amada, morta no dia do casamento. Com o poder encantatório da sua lira, Orfeu convence o soberano do reino dos mortos a libertar Eurídice, sob determinadas condições que Orfeu ignora, perdendo-a de novo. Somos então convidados a simular abraços, mais simples e mais estranhos, abraços com o olhar, abraços e separações abruptas, abraços a sombras, a seres queridos e distantes.
No primeiro abraço coube-me a C. Foi um enlace autêntico, meigo, caloroso, de entrega. Depois, calhou-me o B., rígido e trémulo e ainda a A., incapaz de sustentar um olhar, fugidia e hirta.
Na C. nota-se uma naturalidade no contacto físico e da expressão do afecto e da proximidade; com a A. e o B., ao contrário, é como se qualquer proximidade fosse estranha, como se não estivessem habituados a expressar-se ou estranhassem o contacto físico, a proximidade ou a expressão corporal de estados de alma.
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A experiência demonstra que, em matéria de amor, o que vale e o que permanece é amar incondicionalmente:
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
O amor encerra uma enorme capacidade de regeneração:
Il est parait-il
Des terres brulées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur Avril
Ne me quitte pas. Como somos fortes, como o que nos une é poderoso e como o sofrimento partilhado nos ajudou a avaliar essa força! Sim, apesar de toda a minha pose de independência, laisse moi devenir l'ombre de ton chien, pedir-te-ia com o ar hopless de Jaques Brel. Ainda bem que não gostas de computadores.
Posted by Paideia at 10:15 da tarde 0 comments