segunda-feira, outubro 29, 2007



Neurociência e educação


A capacidade de falar uma língua estrangeira está localizada em diferentes áreas do cérebro, dependendo da idade em que começamos a aprender uma segunda língua.

Esta constatação sugere que a capacidade de falar uma língua estrangeira, adquirida na infância fica armazenada na mesma área cebebral do língua nativa, enquanto nos adultos as áreas respectivas são distintas, o que pode explicar porque é que as crianças desenvolvem competências de pronúncia e de proficiência idênticas aos nativos, desde que tenham o tempo e prática necessários; mais: sugere que a instrução da língua estrangeira seja incluída precocemente no currículo.

Quando adquire uma segunda língua, o cérebro passa por uma adaptação cortical, utilizando as regiões utilizadas na língua materna ou cria novas redes corticais em áreas adjacentes do córtex, para lidar com certos aspectos funcionais da línguaa estrangeira.


Contudo, e independentemente da forma como o córtex organiza os circuitos, todo o comportamento não reflexo, designadamente a cognição e a comunicação, resulta normalmente de uma coordenação de actividade entre ambos os hemisférios através das comissuras cerebrais.

Embora a linguagem esteja lateralizada à escquerda na grande maioria da população, envolve processamento de informação entre ambos os hemisférios, accionando diversas áreas cerebrais implicadas na compreensão e na expressão verbais.

A área de Broca, no lóbulo frontal esquerdo, controla a produção de sons do discurso e fica próxima da área especializada na formação das palavras, perto da boca, dos lábios, da língua, da laringe, designada de área de Wernicke, situada no lóbulo temporal esquerdo, o que permite a ligação entre o significado e o discurso.

Mas há ainda outras regiões cerebrais que apoiam as áreas de Broca e de Wwernicke: uma parte do lobo temporal fornece os susbtantivos, enquanto outra organiza logicamente os elementos do discurso.

Um outro exemplo da ligação das áreas do cérebro em matéria de literacia surgiu da observação da actividade cerebral dos leitores disléxicos, em que a interacção das diferentes áreas cerebrais revela a falta de modularidades distintas.

Sabemos como o corpo caloso tem sido estudado em situações de doenças ou acidentes que afectam a linguagem.

Diversos estudos post-mortem, pré-cirúrgicos e outros demonstaram que a linguagem pode ficar afectada no seguimento de certas lesões cerebrais, e estudos recentes apontam para a importância do corpo caloso na integração das funcionalidades de ambos os hemisférios cerebrais (Gazzanaga, 2000).

A investigação revela também que as partes anterior e posterior do corpo caloso são maiores em crianças sobredotadas (Armstrong et al.,2002),e que o corpo caloso dos indivíduos bilingues é significativamente maior do que o dos indivíduos que falam uma só língua (Coggins et al, 2004).
Que implicações educativas podem ter estas descobertas da neurociência?

1 comentário:

Setora disse...

E lembro-me de ter aprendido nas aulas de fonética que o aparelho fonador se adequa à língua. A grande amplitude das vogais do português trazia aos falantes desta língua materna grande possibilidade de reprodução de outras línguas, contrariamente ao que acontecia com os falantes de castelhano com curta amplitude das vogais. Tomei por verdadeiro este ensinamento que me permitiu não considerar preguiçosos ou estúpidos os castelhanos pela dificuldade que têm em falar outras línguas.