sexta-feira, fevereiro 01, 2008


O Carnaval e a noiva do Arlequim

Para a aprovação pelos Conselhos Pedagógicos das escolas de instrumentos de registo normalizados para a avaliação de professores, a presidente do conselho científico para a avaliação de professores força-se a declarar, num documento enviado às escolas, que o facto de não haver ainda um diploma regulamentador para a composição do dito órgão e de este ainda não estar composto, não permite que as recomendações sejam feitas em nome do dito.

E todavia fá-las.

Confessa contudo que são recomendações de carácter genérico, com base em estudos de avaliação de desempenho docente, destinadas a apoiar o processo de concepção e elaboração dos ditos instrumentos.

A Presidente do órgão que ainda não está legalmente constituído diz que a referência ao enquadramento legal se destina exclusivamente a contextualizar e clarificar o papel dos instrumentos de registo e a anunciar princípios e linhas de orientação em matéria de concepção e construção.

Isto é, a Sra. presidente do órgão finge que não sabe que o arrazoado de princípios básicos a constar de qualquer manual elementar de avaliação de qualidade duvidosa veio servir para legitimar a acção concreta da avaliação.

A Sra. presidente do órgão cuja composição e funcionamento ainda não estão regulamentados finge que não sabe que o objectivo deste documento é forçar o início do processo de avaliação a qualquer preço, sujeitando-se assim a um papel de falsa virgem inexperiente e púdica.

Produz então um documento de seis páginas que parece um manual básico de princípios gerais inerentes a qualquer processo de avaliação, como a coerência, a fiabilidade, a diversidade, repete os óbvios elementos de referência, tais como a doutrina legal e os parâmetros classificativos, enumera métodos e instrumentos, fala em portfolios, que estão muito em moda, e esquece-se de algo essencial e óbvio: a escala.

Qual é afinal a escala? Se os professores vão ser avaliados e se essa avaliação constitui um elemento chave da promoção na carreira e mesmo de continuidade nela, não tem de haver uma escala?!? Cada agrupamento ou escola utiliza a sua escala? Um professor transita de umas escolas para outras sem ser avaliado e classificado através de uma escala única?!?

Na sua nota final, a dita senhora reconhece a complexidade, a delicadeza e a novidade do processo, mas nem por isso deixa de se dar a este exercício de cinismo falsamente pudorado de fingir que não sabe que, com este documento, legitima, mais uma vez, este princípio de fazer tudo à candonga do salve-se quem puder.

Depois deste exercício de sobrevivência política, os que se prestarem a aceitar qualquer cargo no dito órgão serão dignos arlequins desta falsa virgem noiva (ou suas alcoviteiras).

17 comentários:

Miguel Pinto disse...

Na mouche, Idalina. :)

Paideia disse...

Miguel, Estou cheia de sono: passei a noite a fazer contas de reforma antecipada.
:)

Maria Lisboa disse...

E mais!
É a própria senhora, presidente de um nada, que força a decisão superior.

Repara no documento em que vem "exarado" o despacho e repara que é a srª que se mostra muito preocupada e escreve uma "cartinha ao chefe" onde cheia de pena de nós pergunta o que pode ela fazer para minimizar o nosso sofrimento. ;)

Diz ela:
"Considerando, porém, as expectativas legalmente tuteladas das escolas e esperando estas as recomendações para auxílio do trabalho dos conselhos pedagógicos, solicito orientação sobre o procedimento a adoptar"

Responde o chefe dizendo que:

1 - a srª passará a "ser constituída por 21 pessoas"
(que barulheira que irá naquela cabeça!!!!) ;)

2- a srª realizará audições (???) dos peritos e das associações profissionais e científicas nos termos que julgar mais convenientes ao exercício das suas funções.

Como? - como lhe apetecer:
Para quê? - para "angariar" sócios? para perguntar que se avalia, como se avalia - já não vale a pena... as asneiras já foram todas feitas;
Porquê? - para ocupar tempo? para não se sentir sozinha? para ter com quem tomar chá?

Ah, pois é! Estamos entregues à bicharada.

E, infelizmente, porque gosto muito de dar aulas e porque ainda me sinto muito capaz para o fazer, também ando a fazer contas...

Miguel Pinto disse...

Como vos compreendo...Beemm, atendendo aos 22 anos que ainda me faltam para chegar à maturidade profissional... só mudando de vida ;)

Anónimo disse...

Mas aposto que não será completamente difícil achar os outros 20 para o dito órgão.
A adesivagem avança devagarinho, mas...

Paideia disse...

Olááá, Paulo!Pois que não há-de faltar sei eu, mas pelo menos, chingo...
:)

Teresa Martinho Marques disse...

Chinga chinga que o teu chingar é dos bons... :)
Vou divulgar na teia... Brilhante!

Paideia disse...

'Bora todos chingar?

:)

Herr Macintosh disse...

Quanto à sinhá presidenta de coisa nenhuma, talvez o nosso excelso secretário de estado estivesse a pensar no Walt Whitman: I am large, I contain multitudes. Não acreditam? Se querem saber, eu também não (era muita inducação pró rapaz).
Chinguemos então...

Anónimo disse...

Tudo o que aqui li retrata bem a realidade das escolas e docentes. Só um pequeno mas...
O que se tem feito para reverter esta situação? Se for proposta uma greve de 2,3 dias.... 1 semana, quem alinha? Pois, os €s fazem falta hoje! e daqui a 10, 20 anos sem progressão na carreira e estacionamento compulsivo no 3º escalão????

Paideia disse...

Em greves não alinho. Já dei para esse peditório. Fazia-me dores de cabeça. Falta-te o barulho das crianças, dizia o meu marido; tb não assino petições: assino intervenções cívicas, petições, não.
Acho que ainda me resta algum espaço de manobra...

Anónimo disse...

Parabéns Idalina :) Excelente!
Abraço,
'M'

Paideia disse...

Obrigada, Moriae

:)

Anónimo disse...

"Em greves não alinho."... Pois!... Viva o chingar sem cheiro!... É por causa dessas e de outras que lá tenho de alinhar!...

subROSA

Paideia disse...

Obrigado, anónimo, cada qual chinga como gosta, não é?!?
Está frio, aí por Viseu, presumo...
:)

Anónimo disse...

Será que, de acordo com a "etiquetagem" do Paulo Guinote, esta tua posição se pode etiquetar de "adesiva"?
sou contra mas...

Paideia disse...

Deixo ao seu critério. Mas há aí umas boas oficinas de análise textual.Aproveite.Desenvolva o seu sentido de humor, que o humor é sinónimo de inteligência.Desenvolva tb competências de escrita e crie o seu blogue que será uma forma de evidenciar vida própria.Enquanto não consegue, pergunte ao autor da etiqueta, que ele é que faz as categorizações.
:)