Breve lista de ofensas e respectivo enquadramento histórico
És ceguinho, ou quê?
Quando se considerava que um cego, lá porque lhe faltava o sentido da visão, não passava de um pobre coitado que contribuía para alardearmos a nossa caridade, quando o mandávamos cantar, virtude que até nos saía barata. Os cegos provaram que eram capazes de aprender e de ser cidadãos autónomos como quaisquer outros, e mesmo de conseguir contornar as barreiras arquitectónicas que inteligentemente lhes criamos, só para lhes mostramos a nossa superioridade. Actualmente, é mais utilizada em desaguisados de trânsito, em que, para provar que sou melhor condutor(a) que outro, esbracejo, grito, ultrapasso pela direita, desobedeço ao traço contínuo, passo o sinal vermelho mesmo nas barbas do Sr. Agente da Brigada de Trânsito; ou sou incomodada por peões idosos, que se interpõem entre mim e o sucesso, traduzido em termos de velocidade de circulação e marcação de território, porque o meu carro (ou pelo menos a buzina) é melhor que o dos outros e a minha carta de condução avaliza a minha imensa capacidade para "dar com os burrinhos na água".
Estás surdo, ou quê?
Esta também relaciona a privação de um sentido à falta de inteligência. Serve para provar que sou mais esperta que um surdo, embora não tenha escrito nenhuma sinfonia, quanto mais a nona.
O fulano é gaseado
Esta é claramente influenciada pela primeira guerra mundial. Havia lá na terra o Chico Torres que incomodava o nosso descanso nocturno com gritos lancinantes e discursos tonitruantes, onde habitualmente nos chamava bandidos, o que era injusto, porque estávamos todos a descansar nas nossas casas construídas nos "anos dourados" do salazarismo e tamanha injustiça nos deixava profundamente ofendidos, a ponto de entendermos que ele nem um prato da nossa sopa merecia. Dizia-se que o Chico Torres tinha ficado assim depois da Batalha de La Lys, onde nos representou para honra de todos e maior desgraça, depois de Alcácer Quibir - ao tempo; eu era ainda muito criança, o Chico Torres era o "gaseado", porque a uma comunidade organizada compete sempre uma percentagem eficaz de excluídos, que garanta a superioridade de todos.O diminutivo do nome próprio já implicava a falta de direito de um louco ao seu próprio nome.
Está cada vez mais autista
Esta já integra o conhecimento da DSM IV e é particularmente científica, porque coloca no mesmo saco uma dificuldade real de comunicação e uma recusa deliberada em ouvir o outro, prestar atenção aos seus argumentos, efectuar uma escuta activa, que antecipa problemas e aceita o desafio da colaboração e a procura de soluções construídas na negociação.É uma ofensa da pós-modernidade, porque já não põe a tónica no QI e começa a marcar a diferença através do QE, de um tempo em que a comunicação e a intersubjectividade passaram a competências superiores.
Quando utilizo estes mimos, estou a organizar o mundo em capazes e incapazes, dos quais naturalmente me excluo, como não podia deixar de ser (a frase está ambígua, mas é de propósito).
quinta-feira, fevereiro 28, 2008
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4 comentários:
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Havendo, estou disposta a passá-la a salto.
Belo texto este.
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