Mais uma carta minha no Público,
publicada em 31 de Outubro de 2006
(Bem haja, Público! Saravah!)
Pela sua saudinha, Sra. Ministra, com essa das oito horas é que V. Exa. acaba comigo!
Ainda Outubro não chegou ao fim, já a médica de família me pôs a antibiótico, a xarope, a ventilador e a anti-histamínico – em casa e nada de ginásio! Esta é a cereja azeda em cima do bolo cediço. Ó Dra., pronto, eu vou para casa na 6ª. Feira para ver se descanso no fim-de-semana. Mesmo assim, mandei as planificações e intervenções em Conselho de turma por mail.
Eu já nem sonho sequer usar assim os modelitos que V. Exa. usa nos debates televisivos – o vermelho fica-lhe aliás muito bem – até porque aquele menino que se senta lá no fim da aula, de vez em quando esconde-se debaixo da mesa, ou vira a mesa de lado e esconde-se atrás dela e eu tenho de me ir lá sentar com ele, com o meu caderno em punho, para lhe ouvir as reivindicações e entrarmos em negociações, os dois com ar muito compenetrado. Varro a turma com aquele olhar, quem se rir ou comentar vai para o jacuzzi, como eu chamo à sala para onde vão os meninos que se portam mal, marco exercícios enquanto decorrem as negociações, que habitualmente são curtas e chegam sempre a termos razoavelmente justos para todas as partes, em que eu nem sou parte litigante, mas apenas, perdoe-se-me a comparação, uma espécie de Sérgio de Vieira de Melo de saias, espero que com um fim menos trágico, com a ajuda de V. Exa.
V. Exa. não se incomode comigo: tenho 54 anos e, apesar do meu síndrome metabólico, como "malho" umas horas por dia, ainda tenho flexibilidade bastante para me sentar no chão, mas já agora gostava de chegar a Fevereiro com alguma saúde mental e a pouca física que me resta, para defender a minha tese de doutoramento. Deixa-me descansar um bocadinho pelo Natal, Sra. Ministra? E já agora pelo Carnaval? Uns diazinhos pela Páscoa, para efeitos culturais (um professor deve investir na sua cultura, e eu invisto bastante, creia). Bem-haja. Ficar-lhe-ei eternamente grata. A sério.
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