sábado, novembro 18, 2006





Conversas à esquina da aula

A colega directora de turma pediu-me que tivesse uma conversa com ele. O menino queixa-se de que lhe chamam macaco e tem complexos porque o pai é negro.
O jovem é um excelente exemplar do melhor que pode resultar de um cruzamento étnico. Alto, bem constituído, uma pele de um tom dourado que as melhores marcas de cosmética não conseguem imitar, cabelo castanho claro e olhos de um castanho amêndoa, onde apetece tirar férias de campo.
Percebi as razões da escolha da directora de turma: o meu ar negróide ajuda ao tema. A senhora é de Angola? São as perguntas mais directas, as mais subtis passam por referências a Cabo Verde à espera da minha reacção. Eu só digo, que para além das raízes ali para os lados dos montes Hermínios, passou por aqui tanta gente, que só Deus sabe (embora preferisse ter olhos verdes como outros da minha família).
No fim da aula chamo-o ao pátio interior:
-Olha lá, já olhaste bem para ti?
-Já… (responde com o seu ar fechado, sério e surpreso)
-E o que é que vês?
-…
- Eu vejo o rapaz mais bem parecido da turma! É que és mesmo bonito! (Esboça um sorriso).
- Alguém aqui te chama nomes?
- Chamam-me macaco.
-Quem?
- O ….
- E como é que vais passar a reagir?
-Não sei...
- ?!?!?
-Tenho que pensar.
O nomeado é muito pequeno e anda sempre aos pulos.
- Então e se lhe deres uma palmada nas costas, abrires um grande sorriso e responderes:
- Tudo bem… saguim?... Piolho eléctrico?... Varejeira?
Só lhe ensinei a usar do humor para lidar com uma situação adversa. Pelo menos ele abriu mais o sorriso e olhou de cima para baixo, satisfeito e divertido. Quanto ao resto, não me comprometam, porque eu nego. N-E-G-O!

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