sábado, novembro 11, 2006


Escola, violência e risco

Imaginemos uma Escola frequentada por um aluno bem comportado, provenientede uma família exemplar, que educa primorosamente os seus filhos. São gente simples e comum e pais particularmente corteses e participativos; ele trabalha numa empresa privada, ela é funcionária pública. O rapaz mais novo, jovem adolescente tem, tal como a mãe e a irmã mais velha, uma figura franzina. Teve o azar de se encontrar numa turma com um um menino com pai e com avós - a mãe faltou-lhe - o destino prega destas partidas - sei bem o que isso é. Este menino não pode ser castigado - diz o pai - está em risco de suicício se fôr para casa reflectir uns cinco dias , que é o que ele está a precisar . Atestado médico confirmatório do médico psiquiatra não há, nem ninguém exigiu. A família também está demasiadamente ocupada para cuidar do seu rebento - a Escola e os colegas que se amanhem com ele. E há direcções escolares que fingem acreditar no pai, porque assim tudo se torna mais fácil.
Na verdade, a hierarquia foi pressurosa em dificultar ao máximo os procedimentos necessários à guia de marcha de um menino para casa com o objectivo de reflectir, em família, sobre o seu papel na sociedade.
Se o menino agredido, roubado, insultado, extorquido, maltratado, farto de o ser, farto de ter medo de ir para a Escola, baixar o seu rendimento escolar ou chegar a ter um acto de desespero, foi só um azar. Porque há os que dizem que se suicidam (raramente o fazem) e há os que se suicidam mesmo (raramente o dizem).
Afivelamos um ar pesaroso, compramos flores e dormimos todos o sono dos justos: do topo à base da hierarquia.

4 comentários:

Paideia disse...

Não percebi o que quis dizer. Mas se o menino disse isso à Professora, tem de ser castigado.Ponto final.
O que me não faltam é meninos que não se enquadram nos padrões. Mas há padrões e padrões. A todos nós as hormonas fervilham. Mas há regras de comportamento social. Por exemplo, quem grita comigo está feito.

Emília disse...

Gostei deste artigo. Contudo, deixa-me dizer-te, Idalina, que às vezes as coisas são mais complicadas do que parecem na escola. Vou contar um caso.
Fiquei, juntamente com o meu marido, há cerca de 2 meses com o poder paternal de 2 meninos. Um deles, a frequentar o 7º ano, preguiçoso, fraco aluno, não dá problemas de comportamento na escola. É meigo e toda a gente gosta dele. O irmão, com 9 anos, frequenta o 3º ano; é uma criança insuportável na escola: agride física e verbalmente quer colegas, quer professoras. Em casa, porta-se razoavelmente, desde que não seja contrariado. Está a ter tratamento psicológico, que é demorado e, por isso, ainda não há resultados visíveis. Os pais dos outros alunos já estão a pensar fazer algo para que a criança seja penalizada. Agora, coloco esta questão: será que aqueles pais imaginam o que aquela criança já sofreu? Separação,muito complicada,dos pais, mudanças sucessivas de escola, maus-tratos infligidos pelos avós... e até abuso sexual. Assumimos a responsabilidade por estas crianças por acreditar que ainda podemos fazer deles adultos responsáveis e de paz. Mas... que resposta temos da escola? Não é que eu não compreenda quer pais, quer professores, mas esta criança precisa de ajuda e sobretudo de amor. Muito amor.
Já me alonguei nas considerações que queria tecer e não sei se me exprimi bem. Afinal, onde eu queria chegar era a que nem sempre o que parece é. Há que conhecer, e muito bem, as crianças para avaliar os seu comportamentos.

Paideia disse...

Caro(a) El,
Compreendo muito bem o que dizes. Se leste alguns dos meus escritos, terás certamente reparado que o meu espaço de acção privilegiado são as excepções - desafiam-me, provocam-me interrogam-me, obrigam-me a ir buscar o melhor de mim mesma, a mobilizer todos os meus recursos, vivências e sofrimento também. Embora eu seja uma "marrona", o sofrimento tem-me ensinado mais que mil artigos de investigação, podes crer.
Espero que já tenhas passado pelo livro Síndrome de Asperger, que eu revi c/ o Dr. Nuno Lobo Antunes.
Falas-me de uma criança obviamente em grande sofrimento. Então em primeiro lugar, há que equacionar como lidamos com ela e como integramos a família e todos os recursos a que possamos lançar mão, para melhorarmos o seu comportamento pessoal e social e estabilizá-lo emocionalmente. Mas ele tem mesmo que conhecer, aompreender, aceitar, os padrões de comportamento razoáveis. Temos de ir estabelecendo metas, passo a passo, mas com consistência e firmeza. Só assim o podermos ajudar e conseguir que os outros vão aceitando a sua diferença.

Paideia disse...

PS.: desculpa os erros de digitação: estou um bocadinho pitosga (Miss Magoo)