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quinta-feira, março 27, 2008

Últimas no Público

"Pinto Monteiro anuncia investigação a casos de agressão no ensino
PGR: conselhos directivos devem ser obrigados a participar casos de violência nas escolas."


"Há mais de um ano que o Ministério Público vem alertando para a prioridade da investigação da violência", especificamente nas escolas e nos hospitais e sobre mulheres e idosos, realçou o procurador-geral (PGR)"


Tinha mesmo de ser. A violência é intolerável; a violência na Escola, além de intolerável, é contranatura; há que perder o medo.

Indisciplina na Escola: vamos chamar os bois pelos nomes?

Já se tornou comum haver equipas de disciplina nos Conselhos Pedagógicos das Escolas. Se há uma equipa de Disciplina, é porque existe um problema de disciplina. De outro modo não se compreenderia a sua existência.
Agora, vamos aos factos:

secções de disciplina dos Conselhos Pedagógicos que se negam , mesmo quando instadas pela Direcção Escolar, a criar um sistema de regras acompanhadas das respectivas consequências;

Direcções Escolares que utilizam os alunos contra os professores nos quais essas direcções percepcionam algum perigo para a sua continuidade;

professores vítimas de abuso que, em declarações legais, em que são sujeitos a dizer SÒ a verdade, negam que tenham sido vítimas de abuso por parte dos alunos. Fazem-nos por um prato de lentilhas como, por exemplo, ser-lhes prometido que não terão aulas de substituição nos horários no ano lectivo seguinte.

Uma das consequências mais nefastas que tenho observado: há alunos mais frágeis, vítimas de toda a espécie de maldades por parte dos colegas, a situação é conhecida e professores que não actuam porque têm medo dos ofensores.

Alguns destes alunos agressores e ofensores gozam de alguma impunidadezinha junto das Direcções Escolares: as razões podem ser várias. Uma delas: são uma espécie de guarda avançada do Sr. Pinto da Costa.


Quando chegámos a este ponto, o que é que se pode esperar?
Primeiro que tudo: arrumar as ideias e a casa.


Excerto de um post que publiquei em 22 de Março do ano passado:

sobre esse problema de disciplina que o Conselho Pedagógico parece querer passar uma esponja quando assume que tudo corre dentro da normalidade e, nessa circunstância, ou se dá a aula programada ou se dão as matérias planificadas para as substituições.
Mas não é isto que se passa: os alunos resistem a entrar na sala e só entram coagidos pela ameaça de falta, eventualmente injustificada. A seguir, recusam-se liminarmente a sentar-se a a adoptar as atitudes e comportamentos necessários à aprendizagem: atenção, concentração, disponibilidade para aprender ou para simplesmente ouvir a proposta que a professora lhes traz.
A aula de substituição de 6ª. feira 16 com o 9º. B foi indescritível na resistência ruidosa, raivosa dos alunos, num comportamento revelador do maior desrespeito por regras essenciais e de manifestção clara das suas percepções de impunidade, o que levou a que, à professora de substituição, depois de chamar a funcionária, não restasse outra alternativa que não fosse abandonar a sala. Medidas disciplinares? Até hoje, nada, sendo que deveriam ter sido tomadas 1 dia depois das ocorrências.
No meu caso, resistiria até ao fim para impor a autoridade que me assiste (...)em qualquer dos casos, não passaria, nem por cumprir o plano de aula, nem por desenvolver as tais áreas temáticas, mas tão-somente por tentar restabelecer um comportamento cívico adequado à relação pedagógica, como saber fazer silêncio e demonstrar contenção física. É isto que o Conselho Pedagógico se recusa a enfrentar com coerência.
E não é por acaso: no Conselho Pedagógico estão os professores que têm de enfrentar a indisciplina dos alunos com menos frequência.

Eu gostava de ver os subscritores da recomendação a entrarem numa turma com o comportamento idêntico ao que o 9º. B exibiu no passado dia 16 e a executarem o plano de aula ou a aplicarem uma daquelas fichas tão bem feitas (...) a alunos que urram circulando pela sala. Só para todos vermos e aprendermos como é fazem.

terça-feira, março 25, 2008


Riscos azuis, opinião, informação e matrizes teóricas...


(Ainda a Carolina Michäelis e os informantes de um programa da TV)

Felizmente, os avanços da neurociência e da imagiologia cerebral permitem já mapear o cérebro, de modo a compreendermos melhor como funciona e as diversas funções de cada uma das suas áreas - é um campo de investigação absolutamente fantástico: foi a isso que o Dr. Quintino se referiu hoje num programa televisivo, quando falou dos riscos azuis.


Esta sofistifação de meios tornou mais específico o conhecimento que temos do desenvolvimento humano, nos seus múltiplos aspectos, designadamente no aspecto da socialização.

Contudo, os velhinhos psicólogos que informaram a nossa parentalidade já nos explicavam que o comportamento daquela menina da Carolina Michäelis é típico de uma criança de 2 anos e meio. Qual é o pai que não se lembra de a criancinha, por essa idade, se atirar com o rabo ao chão e desatar em gritaria a plenos pulmões, ou porque tinha fome, ou porquer tinha sono, ou simplesmente porque não a deixaram fazer uma dada coisa ou manipular um determinado objecto? A diferença essencial é que, aos dois anos e meio, o rabo está fisicamente mais perto do chão e a criancinha não tem tanta força física...

A sério, eu até tenho fotografias do meu mais velho num desses "incidentes críticos" ele, que até foi sempre um grande pachola.

Uma rápida vista de olhos ao velhinho primeiro volume do Dr. Arnold Gesell, já muito esfarrapado e cheio de notas à margem, marca a data do primeiro incidente crítico dos dois anos e meio: Setembro de 1980.

Isto, para dizer que, relativamente aos risquinhos azuis de que o Dr. Quintino falava, o seu modelo teórico de análise é, naturalmente, o modelo psicológico, isto é, a dimensão individual daquele comportamento exibido por aquela menina.

A mim, o que me interessou foram os factores de contexto; um modelo teórico que estuda os factores de contexto é um modelo de tipo sociológico.
Portanto, em função do que queremos saber ou compreender é que escolhemos o modelo de análise.

A mim, o que me tem movido a reflectir e recolher informação é procurar compreender quais os factores de contexto escolar que levam àquela situação considerada na sua globalidade.

E porquê?

Em primeiro lugar por uma razão teórica: a literatura sobre a indisciplina é esta perspectiva teórica que adopta.

Em segundo lugar pelo conhecimento já construído pela investigação séria sobre a indisciplina em meio escolar, que já se centrou sobre um conhecimento básico: a indisciplina em meio escolar explica-se sobretudo por factores internos à Escola.

Em terceiro lugar, por uma razão prática: que ensinamentos posso recolher sobre este episódio, tanto mais que, profissionalmente, estou a trabalhar nisto?

Em quarto lugar uma outra razão prática: com que dados válidos é que posso trabalhar e reflectir, sendo que a minha pergunta de partida é

Que factores de contexto justificam ou explicam aquele episódio?

Eu até me poderia interessar pelos aspectos individuais, pela dimensão psicológica do problema. Deparo-me contudo com um óbice de natureza prática: não conheço a menina e, portanto, praticamente tudo o que poderia fazer seria especular.

Poderia até interessar-me pelas percepções da sociedade relativamente ao fenómeno; aí teria pano para mangas: recolheria todas as opiniões, faria a análise de conteúdo,organizaria as percepções por grupos sociais, tendo em conta a idade, o género, a profissão dos informantes... Mas também não me interessam muito as opiniões.Na verdade, este é o 17º. texto que aqui escrevo sobre a indisciplina e um deles é justamente sobre essas perceções.

O que me interessa mesmo é o contexto escolar que explica o fenómeno, tanto mais que, e aqui surge a quinta razão prática,não posso modificar o contexto social alargado, mas posso contribuir para mudar os factores de contexto escolar que o explicam.

Passemos então ao método e ao material de análise: não me interessam tanto as opiniões de pessoas estranhas ao fenómeno, porque essas não o explicam na sua especificidade; se fossem opiniões de pessoas da Escola, ainda me ajudariam a compreendê-lo; além dessas pessoas,outras opiniões não me servem para entender aquele fenómeno concreto, a não ser as dos especialistas, porque esses têm os seus modelos de análise e conhecimento cientificamente adquirido.

Para aquilo que eu quero saber, tenho como matéria prima o próprio video, que é bastante elucidativo e a informação, sublinho informação, não as opiniões sobre os antecedentes que podem contribuir para a explicação do fenómeno.

E que informações são essas que laboriosamente (sim, estas coisas dão trabalho) recolhi, analisei e categorizei?

1. A turma é "problemática": dimensão: organização escolar; porque é que uma turma do 9º. ano é problemática? É que com a verticalidade dos agrupamentos a justificação para que se constituam turmas problemáticas no quinto ano já é difícil de aceitar, a não ser pelo facto de haver falta de equidade na formação das turmas, que é um problema real das nossas escolas,quanto mais numa turma que já vai no 3º. ano do ciclo: sendo problemática, porque não foi simplesmente desfeita a meio do ciclo? Haverá poucas turmas de 9º. ano? Seja qual for a razão, este é um problema de organização escolar, até porque, se se desse o caso de a turma não poder ser desfeita, outras soluções poderiam ter sido adoptadas.

2. A menina tem antecedentes; não sabemos como é que esses antecedentes foram trabalhados, mas há um problema de quantidade: a informação disponível é a de que já serão em grande número, o que já teria eventualmente justificado uma intervenção disciplinar que pudesse vir a evitar que se chegasse ao ponto a que se chegou: dimensão do problema (falo em dimensão no sentido metodológico): falta de regras claras, de uma clarificação das respectivas consequências e da sua aplicação criteriosa e oportuna. Este ponto também serve para explicar o comportamento do resto da turma.

3. Há também a informação de que o clima da Escola se terá deteriorado nos últimos anos; esta situação parece estar associada a vários factores, tais como a alteração da população escolar (um informante falava até do efeito da construção de uma estação de metro perto da escola).

4.Parece haver uma dificuldade em formar equipas directivas, que é de tal ordem que, uma escola como aquelas, que deve ter (ou ter tido) um corpo docente relativamente estável, está a ser gerida por uma colega do quadro de zona pedagógica - e esta minha observação não inclui qualquer juízo de valor, mas apenas a constatação do facto de que há uma dificuldade em formar equipas directivas, que é outro factor interno: o da liderança.

5. Uma eventual falta de coesão dos profissionais, ou, no mínimo, a percepção dela, uma vez que a colega envolvida não tomou a iniciativa de apresentar queixa interna.

6. Cenas que revelam um ambiente pouco propício entre os alunos , documentadas por vários vídeos no Youtube, incluindo episódios que configuram casos de bullying entre alunos, entretanto retirados.

7. De acordo com a informação do Dr. Quintino - não vejo que haja razão para duvidar dela, porque me parece um profissional bastante credível e com uma sólida formação científica, já uma equipa de psicólogos da segurança social se tinha prestado a ajudar a escola com estes problemas, mas até à data, ainda não teve resposta da sua Direcção. Em que categoria vou eu colocar esta informação? Na categoria liderança.

8. Um outro factor que, sendo strito sensu externo à escola, não o é lato sensu: o facto de a Direcção Regional ter pendente uma decisão sobre um caso anterior: se o caso se deu em Dezembro, não se entende porque ainda não está resolvido. Em matéria de disciplina, a celeridade conta: um caso ocorrido em Dezembro que ainda não tem solução revela a falta de compreensão de que, em disciplina, a celeridade conta.

Este é o meu modelo de análise do fenómeno e estes são os dados que recolhi e em que me fundamentei, mas concedo que, não sendo esta a minha área de especialização, haja opiniões mais fundamentadas que a minha.

Venham elas.

Sou toda ouvidos.