quarta-feira, abril 30, 2008

Já sabíamos que

O impacto económico das reprovações no nosso país é brutal

Não tenho uma panorâmica exaustiva da situação geral no país. Estou em crer, contudo que, com uma boa gestão, é possível responder adequadamente em tempo útil a situações de dificuldades escolares, uma vez que existem recursos humanos disponíveis e razoavelmente suficientes com uma gestão adequada, para o país que somos.
Porque temos afinal tantas reprovações?
Em primeiro lugar, porque somos ainda um país com um nível de escolaridade muito baixo, problema que vai demorar, como demorou noutros países, várias gerações a ultrapassar. O problema é que, no nosso, habituámo-nos a pensar que tudo se conquista com facilidade e um pouco à margem da lei. Foi a democracia do sucesso, do crime económico, do compadrio, do dinheiro fácil, da falsificação, da fuga ao fisco, da contrafacção, do glamour, da ostentação, dos paraísos fiscais, dos self-made men, da ridicularização do esforço, do trabalho, do estudo sérios, honestos, esforçados.

Poderíamos e deveríamos fazer um esforço para dirimir os nossos vários atrasos, designadamente na educação, desde que implicássemos e responsabilizássemos todos os actores, isto é, que os professores ensinassem, os alunos estudassem e os pais se responsabilizassem pelo empenhamento académico dos filhos.
Toda a gente compreende e aceita que não podemos ter tantas reprovações, do mesmo modo que toda a gente compreende e aceita que não podemos ter tantos mortos na estrada, mas no dia seguinte tudo fica na mesma. Ter tantas reprovações é, aliás uma evidência do nosso atraso económico, social e cultural.
Contudo, numa reprovação, há três sujeitos com responsabilidades partilhadas, tendo cada um que assumir as suas e as leis em vigor que enquadrar essa assunção; é nesse ponto que o novo estatuto do aluno volta a falhar.
Já no ano passado chamei aqui à atenção para o novo estatuto do aluno e para a dificuldade em operacionalizar a responsabilização dos pais que o estatuto invoca. Como fazê-lo?
Por exemplo, uma das dificuldades com que nos deparamos é termos aulas de recuperação calendarizadas e os alunos não comparecerem. Os professores estão lá à espera e os meninos não aparecem.
De que instrumentos de actuação dispomos?Avisamos os pais e no dia seguinte os alunos tornam a faltar. Marcamos falta? Quais são os efeitos dessa falta?E que efeitos tem uma falta de trabalho de casa? Porque ou como é que um aluno de 10, 15 ou 17 anos tem autonomia para decidir que não faz o que o professor manda fazer? O trabalho de casa é essencial, sobretudo para os alunos com menos capacidade intelectual e com menos recursos familiares ou de estratos sociais mais desfavorecidos.
É todo um conjunto de valores e de princípios que deixámos ir pelo cano e que agora temos de ir buscar de volta, sob pena de estarmos a deitar uma geração às urtigas.
A responsabilidade é nossa. Sobretudo, de quem define as políticas e faz as leis.

2 comentários:

Raimundo_Lulio disse...

Cara colega,
O problema não será: “o impacto económico nas reprovações?”

Paideia disse...

Não, Raimundo. É como está. De qualquer modo, obrigada pela atenção.