sexta-feira, abril 25, 2008


Combater a ignorância e a resignação


O Sr. Presidente da República, à semelhança do ano passado, pediu ao jovens que não se resignem. Admitiu ainda, com base num estudo por si encomendado, que a ignorância política dos jovens portugueses é muito superior à desejável.

A ignorância é sempre acima da conta mas, no caso em apreço, nem é muito surpreendente: porque é que os jovens haviam de saber quem foi o primeiro Presidente da República após o 25 de Abril, se eventualmente não saberão quem é o actual?

Porque é que os jovens hão-de saber quantos países constituem a União Europeia, se nem sequer dominam conhecimentos básicos na Língua Portuguesa, nas Ciências e na Matemática?

Um problema é que ignorância e resignação andam de mãos dadas. Não se resignar é sinal de vitalidade, de resiliência, de auto-estima, de capacidade para enfrentar a adversidade e de lutar para mudar a vida; para tal, são necessárias ferramentas - psicológicas e materiais - designadamente uma educação, uma instrução, um sistema de valores sólidos e bem estruturados. Outro problema é que um sinal de não resignação, de resiliência,de vitalidade juvenil será eventualmente, nos dias que correm, fazer as malas e ir à procura de trabalho além-fronteiras, como no tempo de Camilo Castelo Branco ou como há umas décadas atrás.

O Sr. Presidente da República poderia mandar perguntar em quantas Escolas portuguesas houve, no presente ano lectivo, um simples sinal de comemoração do 25 de Abril, quanto mais não seja, nos espaços de maior passagem: um cartaz, um poema, uma frase, uma ideia que fosse. Vou-lhe escrever a pedir-lhe que o faça.

O Sr. Presidente da República poderia mandar perguntar a percentagem de tempo dedicada às questões do ensino e da aprendizagem que foi utilizada nas diversas instâncias da gestão escolar durante o presente ano lectivo. Não lhe vou pedir que o faça, porque há quem o deva fazer e daí tirar algumas conclusões.

O Sr. Presidente da República verificaria, se o fizesse, que tem um país virado ao contrário, pelo menos no que respeita a educação.

Este não é, de facto, o futuro que sonhámos; mesmo para quem não sonha muito, às vezes, parece até um autêntico pesadelo.

2 comentários:

Existente Instante disse...

Cara Colega Idalina, texto belíssimo e acutilante. Deixe-me só acrescentar duas coisas :
A-Os meus alunos do 8º Ano podem não saber os Países da UE , mas pode ter a certeza que sabem que quem escreveu a Utopia foi Thomas More e não Thomas Man, como alguém um dia afirmou.
B- Podem não ler Jornais, o que é tristemente verdade, mas não o afirmam categoricamente perante dezenas de câmaras de Jornalistas e TV
C-Podem não saber a palavra suinicultura, mas não iriam ficar satisfeitos de visitar uma "porcaria"
D- Hão-de aprender que ao contrário do que uma vez foi afirmado por alguém, Social Democracia e Socialismo Democrático, até nasceram da mesma família
Enfim! A Idalina é inteligente para perceber de quem político estas gaffes (serão?!
Porque curiosamente, por vezes só nos lembramos dos "Violinos do Chopin" de uma personagem inenarrável da política portuguesa.
Já agora...para quando um estudo da Católica sobre a ignorância e profunda incultura da classe política portuguesa?

Paideia disse...

Existente Instante, de repente, assustou-me: pensei que a aterosclerose me tivesse levado a trocar o homem cuja cabeça Henrique VIII pendurou na ponte de Londres com o homem cuja personagem foi imortalizada por Dirk Bogarde...
Uf!...
Mesmo assim... confesso o meu fraco por rapazes destrambelhados...
e para a semana vou fazer exame às artérias, pelo sim, pelo não...
Mesmo assim, obrigada pela benevolência.
;)